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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Um martírio que parte o coração, mas abre os olhos!


Avenir de la Culture

Excelência,

Jacques-Hamel-padre-300x168Na terça-feira, 26 de julho, a Igreja teve seu primeiro mártir em solo francês no século XXI: o Padre Jacques Hamel [foto], de 86 anos, selvagemente degolado por islamitas enquanto celebrava a missa na periferia de Rouen.

Este acontecimento dramático, cujo caráter histórico não pode ser negado, suscitou viva emoção em todo o país e no exterior. O que ontem estava reservado aos nossos irmãos cristãos do Iraque, do Paquistão ou da Nigéria, entrou bruscamente no nosso cotidiano.

A legítima cólera dos franceses em relação às mais altas autoridades do Estado transpôs um novo marco. É provável que a História julgue com severidade aqueles que, por sua ingenuidade culposa e seu laxismo, entregaram a França à barbárie dos esbirros do Estado Islâmico.

Em agosto de 2014, o Arcebispo de Mossul, no Iraque, Dom Amel Nona, dava o sinal de alarme em uma entrevista concedida ao Corriere della Sera: “Nossos sofrimentos de hoje constituem o prelúdio daqueles que vós, europeus e cristãos ocidentais, experimentareis num futuro próximo […]. Vós acolheis em vossos países um número cada vez maior de muçulmanos. […] Se não o compreenderdes a tempo, tornar-vos-eis vítimas do inimigo que acolhestes em vossa casa.”

É com profundo pesar que me sinto na obrigação de lembrar que, infelizmente, as autoridades civis não são as únicas responsáveis pelas últimas consequências de sua cegueira.

Longe de levar em conta esse apelo do Arcebispo de Mossul e de outros similares, grande parte da hierarquia eclesiástica preferiu, em resposta à guerra que nos é declarada, obstinar-se em promover valores profanos e comportamentos irenistas cuja impotência se tornou evidente para todos, salvo, ao que parece, para V. Exa. e para a maioria de seus confrades no episcopado.

Enquanto um de seus padres, após 58 anos de sacerdócio, acabava de ser martirizado, Dom Dominique Lebrun, Arcebispo de Rouen, ousou qualificar de “vítimas” os assassinos (!), em um comunicado publicado no site de sua diocese. Dom Delannoy, Bispo de Saint-Denis, inquietou-se, não pela segurança de seus fiéis, mas pela perenidade do diálogo islamo-cristão! Vossa Excelência mesmo declarou que “somente a fraternidade […] é a via que conduz à paz durável”, um exclusivismo que passa sob silêncio que “a legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem”, uma vez que “defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal.” (Catecismo da Igreja Católica, nº 2265).

Após os primeiros atentados islamitas na França, não se viu na maioria das declarações episcopais qualquer apelo no sentido de preservar a nossa identidade cristã e de resistir à ofensiva daqueles cuja “religião” mata os corpos e as almas em nosso solo.  Este preconceito irenista feriu profundamente o rebanho entregue ao seu cuidado, tanto mais quanto ele se inscreve numa “pastoral do diálogo” que o episcopado francês conduz há vários anos numa via sem contramão nem resultado:

  • publicação por um serviço da Conferência Episcopal da brochura “Deve-se temer o Islã?”, na qual se faz uma defesa do mesmo;
  • convite feito por Dom Dubost para a recitação do Corão na sua catedral de Évry;
  • formação de imãs pelo Instituto Católico de Paris;
  • disponibilização de edifícios pertencentes à Igreja para o culto muçulmano;
  • reiteração de mensagens de saudação  por ocasião do ramadã;
  • apoio do cardeal Barbarin ao Instituto Islâmico de Lyon, financiado pela Arábia Saudita.

Excelência, a lista das concessões estéreis que abrem a porta à islamização da França é tão longa, que se torna impossível enumerá-las aqui.

Vossa Excelência e seus confrades obstinam-se em imaginar um Islã idílico, nos moldes do Cristianismo, justificando seus “gestos de boa vontade” no desejo ilusório de promover um Islã pacífico e compatível com o Evangelho, sem levar em conta a agressividade da mensagem corânica nem  o fato  de que o Corão, pelo seu caráter supostamente divino,  não é susceptível de interpretações.

Vossa Excelência não recebeu a missão de procurar debalde reformar o Islã, mas de ir e constituir“discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Deixar, por suas atitudes, os muçulmanos crerem que sua religião é tão boa quanto aquela fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo – a Igreja Católica se define como a única Igreja do único Deus verdadeiro – e continuarem a ignorar a Boa Nova, contradiz a Misericórdia, cujo ano jubilar o Santo Padre acaba de decretar, e põe em perigo o próprio futuro da Filha primogênita da Igreja.

Seja-nos permitido instar aqui Vossa Excelência a abrir finalmente os olhos: o Islã é a primeira causa de perseguição dos cristãos no mundo. Desejar a paz para o nosso país sem antes a construir pela libertação pelo batismo daqueles que jazem sob o jugo dessa falsa religião é um erro dramático do qual as gerações futuras sofrerão as consequências.

Excelência, pelo amor de Deus, da Santa Igreja, da França e dos fiéis de quem é pastor, nós lhe suplicamos e aos seus confrades suspender toda iniciativa que, sob o pretexto de favorecer o diálogo interreligioso, entretém a ideia de que as religiões se equivalem. É mais do que tempo de promover a identidade cristã da França e de varrer a utopia de que seu futuro seria forçosamente multicultural.

Na certeza de que V. Exa. acolherá com benevolência este urgente pedido dos simpatizantes de Avenir de la Culture, peço a sua bênção e apresento-lhe, Excelência, minhas respeitosas saudações.

_______

(*) Fonte: “Avenir de la Culture”, 30-7-16. Matéria traduzida do original francês por Hélio Dias Viana.

http://www.avenirdelaculture.fr/index.php?q=article/un-martyre-qui-brise-le-coeur-mais-ouvre-les-yeux

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