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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Elevar-se até Deus através das coisas criadas. Sagrada Escritura, São Tomás, São Boaventura (II)


Abordamos, no último artigo, “Deus, causa exemplar do Universo”. Em outras palavras, como praticar o Amor de Deus servindo-nos retamente das criaturas, discernindo e contemplando nestas “os vestígios” do Criador, como ensina o doutor medieval, São Boaventura:

A Criação do mundo é como um livro no qual resplandece, manifesta-se e se lê a Trindade criadora em três graus de expressão, isto é, como vestígio, como imagem e como semelhança” (São Boaventura, Breviloquium, 2-12).

Trechos da Sagrada Escritura fundamentam o ensino de São Boaventura

Davi, Rei e Profeta: “Os céus publicam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia transmite esta mensagem ao outro dia, e uma noite comunica-a a outra noite. Não é uma palavra, não é uma linguagem, cuja voz não possa perceber-se: O seu som estende-se por toda a terra, e as suas palavras até às extremidades do mundo.” (Sl 19,1).

Ensina São Paulo: “Porque as coisas invisíveis dEle, depois da Criação do mundo, compreendendo-se pelas coisas feitas, tornaram-se visíveis; e assim o seu poder eterno e a sua divindade;” (Rom I, 20).

Deus, Causa Exemplar do Universo: Suas perfeições se refletem nas criaturas

Esses trechos da Sagrada Escritura se tornam mais claros considerando-se “Deus, Causa Exemplar do Universo”.

Diz o Prof. Plinio: “Insisto na ideia de universo de beleza, porque habitualmente em nossos dias se considera de preferência o universo como uma grande máquina de funcionamento perfeito. (…)

“Mas há um outro aspecto do universo relacionado com Deus enquanto causa exemplar, enquanto Ser incriado e infinitamente belo que se reflete de mil maneiras em todos os outros seres que Ele criou. De maneira tal que não há nenhum ser que a um título ou outro não seja um reflexo da beleza incriada de Deus.

“Mas, sobretudo, a beleza de Deus se revela no conjunto hierárquico e harmônico de todos esses seres de tal maneira que não há, em certo sentido, um modo melhor de conhecermos a beleza infinita e incriada de Deus do que analisando a beleza finita e criada do universo considerado, não tanto em cada ser, mas no conjunto de todos eles.”  https://ipco.org.br/deus-causa-exemplar-do-universo-unidade-na-variedade-o-mar-o-firmamento-nossa-senhora/

Ensinamentos de Nosso Senhor nos Evangelhos

Nosso Senhor serviu-se inúmeras vezes de comparações no Evangelho. Essas comparações são exemplos de como devemos nós, através dos seres criados, nos elevarmos até Deus.

Por exemplo: “Jerusalém […] quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha reúne os pintainhos e tu não o quisestes”. Frase simples, mas que encerra grandes lições. Nosso Senhor observou o procedimento da galinha, seu “senso” de proteção aos pintinhos ante algum perigo, ou ainda para aquecê-los. A partir daí, por analogia, comparou o “senso materno” da galinha para com o amor infinito do Homem Deus.

A escola espiritual denominada Quarta Via tem como base os ensinamentos de São Tomás de Aquino e São Boaventura. Afirma este último: “A Criação do mundo é como um livro no qual resplandece, manifesta-se e se lê a Trindade criadora em três graus de expressão, isto é, como vestígio, como imagem e como semelhança” (S. Boaventura, Breviloquium, 2-12).

O amor de uma mãe em relação a seu filho ultrapassa em muito o instinto “materno” da galinha. E o Filho de Deus vai muito mais além, quando compara seu amor a Jerusalém ao instinto da galinha: “quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos”.

Lírio: Conheça suas Características, Espécies e Saiba Como Cuidar
“não tecem nem fiam, entretanto nem Salomão…”

Outra comparação linda é: olhai “os lírios do campo, não tecem nem fiam, entretanto, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles”. Aplicam-se aqui as mesmas considerações anteriores. Nosso Senhor conheceu os lírios do campo, analisou-os, amou a perfeição refletida por eles, e tirou daí uma aplicação para o homem.

Se o lírio do campo, que não tece nem fia, tem essa beleza dada por Deus (superior às vestes de Salomão), indizivelmente maior será a beleza da alma humana, a beleza das perfeições de Nossa Senhora, de Nosso Senhor!

A Quarta Via: chegar até Deus pela consideração das coisas criadas

Le Beau Dieu – Reims

Por essa sucessão de degraus ascendentes chegamos à beleza incriada de Deus.

O homem, fazendo livre uso de sua inteligência e de sua vontade, por meio de analogias vai conhecendo as perfeições postas por Deus na Criação, e através delas chegar às perfeições de Nossa Senhora, de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nisso consiste o amor de Deus através da consideração das coisas criadas.

A ecologia radical, a integração com a Natureza, são desvios, são deformações, são formas incipientes de panteísmo.

Os seres criados não são partículas de “deus”, pelo contrário, são, na linguagem teológica de São Boaventura, “vestígios” do Criador. Procurando os “vestígios”, os reflexos de Deus na Criação, teremos um elevado meio de contemplarmos as perfeições do Deus Omnipotente, Omnisciente, Eterno e Imutável.

A alma humana, não é apenas “vestígio” mas “imagem e semelhança” do Criador. Da beleza dos seres inferiores da Criação passemos à beleza da alma humana. Desta subamos para as perfeições insondáveis da Mãe de Deus e cheguemos, por fim, a Deus Nosso Senhor.

“Os Céus cantam a glória de Deus e o firmamento é obra de Suas mãos”: saibamos vê-los.

Há meios de ajudar o homem moderno nessa via?

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Nuno Alvares

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