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Plinio Corrêa de Oliveira
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Guerra submarina pelas fibras ópticas da Internet


O navio espião russo Yantar apareceu em Cuba
O navio espião russo Yantar apareceu em Cuba

A nova Guerra Fria atingiu as nervuras mais estratégicas da sociedade da informação, escreveu o jornal “El Mundo”, de Madri.

O mundo cada vez mais interconectado por cabos de fibra óptica que atravessam os oceanos poderá em determinado dia amanhecer “sem sistema” até não se sabe quando.

Os EUA deixaram claro que a frota russa trabalha para grampear esses cabos. Mas isso não é tudo.

Pensando na Internet, a opinião pública pensa mais nos satélites, mas é pelos cabos submarinos que passam 95% dos dados telefônicos e de Internet de toda a Terra.

Por eles se fazem transações financeiras num valor de 10 bilhões de dólares (37 bilhões de reais) por dia.

Esses cabos têm apenas 6,9 milímetros de diâmetro, pesam até 10 quilos por metro, são flexíveis e não atrapalham a pesca.

Mas a Rússia desenvolveu tecnologias para grampeá-los. Já o tinham feito os EUA. Foi um dos capítulos mais secretos da velha Guerra Fria, que aconteceu a centenas de quilômetros das costas, com mergulhadores operando a dezenas de metros de profundidade a partir de todo tipo de naves: falsos navios oceanográficos, submarinos nucleares ou de bolso.

Agora, sempre atrasado, Barack Obama denuncia trêmulo que a Rússia de Vladimir Putin tomou a dianteira na ameaça da era da informação brilhante e frágil como uma nuvem.

O barco espião russo Yantar ancorou em Cuba, bem nos narizes do quase colaboracionista Obama. O Yantar é da classe Balzam, armada na década de ’80.

Mapa dos cabos submarinos no mundo. Fonte TeleGeography, Huawei Marine Networks
Mapa dos cabos submarinos no mundo. Fonte TeleGeography, Huawei Marine Networks.

Algo velhote, como o armamento russo em geral, o barco exibe antenas que deixam pouco espaço para a imaginação sobre o objetivo para o qual foi feito.

Segundo a Marinha americana, ecoada pelo jornal The New York Times, o Yantar leva dois mini-submarinos que podem atingir os cabos submarinos a vários quilômetros de profundidade. E na zona por onde o navio suspeito estava viajando existe uma enorme concentração desses cabos.

Segundo o Departamento de Defesa americano, a ameaça é mais séria. Moscou poderia estar montando um esquema de sabotagem das comunicações ocidentais, o qual lhe serviria de chantagem ou de arma, quando bem entender o ditador do Kremlin.

Leia-se: cortar os cabos e silenciar o mundo que se quer derrotar.

Será sempre muito difícil identificar onde foi feito o corte e, mais ainda, quem o fez. O reparo ou a substituição também será tremendamente complexo e caro.

Enquanto isso demorar, a Rússia, formidavelmente atrasada em matéria de comunicações, ficará dona da situação.

O Yantar também pode roubar a informação que transita pelos cabos.

Isso não é novidade. Em 1996, os EUA lançaram o submarino nuclear Jimmy Carter, especializado em espionagem. Ele trabalha para a Agência de Segurança Nacional (NSA) e pode colocar aparelhos que ‘escutam’ a informação que circula pelas artérias vitais da rede cibernética.

Em outubro de 1971, o submarino nuclear americano Halibut – predecessor do Jimmy Carter – entrou no Mar de Okhost, entre a península soviética de Kamchatka e o Japão, instalando ali um enorme dispositivo de escuta sobre um cabo militar russo secreto.

O Viktor Leonov, outro barco espião russo no porto de Havana
O Viktor Leonov, outro barco espião russo no porto de Havana.

O equipamento media 7 metros de comprimento e era substituído todo mês pelo Halibut, coletando uma quantidade formidável de dados da Armada vermelha.

Essa foi pega de uma maneira tão inimaginável, que os almirantes da URSS nem sequer se preocupavam em usar códigos. E os americanos entendiam às mil maravilhas tudo o que diziam.

Em 1980, um funcionário infiel da NSA denunciou a Moscou a humilhante situação. Em 1981, a URSS conseguiu apoderar-se do equipamento, que agora está exposto no Museu da Grande Guerra Patriótica dedicado à Segunda Guerra Mundial, em Moscou.

“Tout va très bien, Madame la marquise” (“Tudo vai muito bem, senhora marquesa”) recitava um vaudeville engraçadamente entoado por Maurice Chevalier, até o momento de comunicar à infeliz marquesa que seu marido tinha se arruinado e suicidado, que o castelo havia pegado fogo e que não sobrou nem a cavalariça, nem sequer o burrinho preferido da desmaiada dama.

“Tout va très bien, web de l’Internet!”

Até quando?

Isso está sendo pensado no Kremlin…

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

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Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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