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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Metamorfose dos topetes


Naquele período da vida em que o comando hormonal faz surgir os primeiros fios de barba, e a voz sobe ou desce repentinamente entre dó maior e ré menor, o topete se destaca nas transformações. Suponho que o prezado leitor já tenha passado por isso, e sabe de quais transformações e topetes estou falando. Não me preocupo em falar para as leitoras, cujo amadurecimento mais precoce já as teria desiludido, nessa época da vida, quanto à superioridade imaginária de alguns topetudos.

Em geral, junto com os primeiros fios de bigode surge a rebeldia contra a autoridade dos pais, professores e tantas outras, procurando falar grosso no hesitante tom dó maior/ré menor. O jovem precisa emancipar-se, sacudir o jugo da autoridade, estabelecer regras próprias. Quer mostrar autoafirmação, autonomia, independência, e o faz adotando um modo característico de pentear os cabelos. Ao mesmo tempo submete-se à moda, geralmente a que prevalece no seu grupo. Muda assim de uma submissão para outra, e nem sequer nota a contradição. É uma personalidade à procura de definição, e parece ter como lema aquele hay gobierno, soy contra.

Essa fase caracteriza-se por alterações de comportamento como atrevimento, ousadia, desobediência, petulância. A maioria fica só em aspirações grandiosas, até que alguém os submete a uma manifestação inequívoca de manda quem pode, obedece quem tem juízo. Autoridades familiares e escolares sentem logo essas alterações físicas e comportamentais, e costumam retribuir o atrevimento com frases cortantes:

— Recolha-se à sua insignificância.

— Cresça e apareça.

— Fale quando souber do que está falando.

— Depois eu troco suas fraldas.

Nada a estranhar ou lamentar nas novidades arquitetônicas do topete e nos sons cacofônicos da petulância (conjunto rotulável como topetulância), quando se limitam ao período teen (thirteen anineteen). Mais tarde a maioria cai na realidade, passa a ocupar nichos do espectro político-social destinados a fisiológicos, acomodados, conservadores, sensatos, pragmáticos, ou simplesmente centro. Escapam assim daquele caminho indesejável: Quem não foi esquerdista quando jovem não tem coração; quem continua esquerdista depois de adulto não tem cabeça. A vox populi usa uma linguagem mais direta: O homem nasce, cresce, fica bobo e casa.

Não pretendo que esta síntese evolutiva das mentalidades seja completa ou corresponda às definições de alguma escola de psicologia. Estou apenas preparando o terreno e a pontaria para atirar as flechas de hoje, cujo alvo é a topetulância em várias fases da vida. Falta mencionar, aliás, a última e mais insensata: Negar a existência de Deus. Ela costuma nascer bem pequena junto com o primeiro fiapo de barba, cresce, mas aos poucos cede junto com o reconhecimento da realidade. Pode também dominar desde o início os mais pervertidos, que dificilmente retornam ao caminho indicado por todas as evidências. Alguns procuram mesmo atenuar a péssima imagem de ateus, adotando o rótulo bem menos arrogante de agnósticos.

Considero perda de tempo argumentar com lógica, tentando mostrar a esses a insensatez de alguém declarar-se ateu. Produz melhor efeito deixá-los amontoar suas dúvidas, pretensões, contradições. Depois de inúmeras incoerências sucessivas, talvez acabem percebendo o abismo negativista em que se meteram. Não se converterão espontaneamente, isso depende da correspondência às graças que Deus nunca recusa nem aos seus piores inimigos. Rezar por eles, enquanto despejam suas incredulidades, pode ajudá-los a abrir os olhos e reconhecer-se muito distantes do bom caminho.

Dotado de inteligência e livre arbítrio, o homem tem capacidade, argumentos racionais e muitos outros dados para reconhecer a existência de Deus e a sua suprema autoridade. Negando-a, como fez Adão no Paraíso, candidata-se às consequências dessa decisão livre. É muito fácil encontrar sofismas, subterfúgios ou artifícios para tal negação, e o mundo moderno parece uma enorme fábrica de todos eles.

Muito tempo depois que os hormônios deixam de gerar topetulâncias, os fios que antes se organizavam em vaidosos topetes vão perdendo a cor, e em muitos casos despedem-se do espaço arredondado que ocupavam. Mas petulâncias como o ateísmo têm origem sobretudo no interior, e podem coexistir com cabelos brancos ou com a falta deles. Sem deixar espaço na alma para o Criador, no fim da vida um petulante assim toma a insignificância própria como seu limite, fica rempli de soi-même (esta flecha é francesa). Reduzido a uma miniatura de si mesmo, o velhinho-ateu-careca é vazio por dentro e por fora. Lamentável decadência para quem, segundo Santo Agostinho, foi criado para amar a Deus, e só Deus poderá preencher sua alma.

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Jacinto Flecha

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Jacinto Flecha, médico, cronista e colaborador da Agência Boa Imprensa.

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