Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
12 min — há 9 anos — Atualizado em: 5/1/2017, 9:28:27 PM
Com grande alarde, o governo, as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] e alguns setores da opinião nacional e internacional celebram o próximo fim do conflito com a guerrilha como suposto fruto do Processo de Paz, mas não conseguem convencer o país de que isto é uma realidade e não uma quimera.
Com efeito, são tantas as perplexidades, omissões e contradições emergentes do segredo em torno destes acordos, que se torna forçoso perguntar ao governo qual é a verdade total sobre o que foi pactuado. E também quais são as razões misteriosas para não dá-lo a conhecer integralmente à opinião pública, como se as faculdades do Presidente fossem onímodas e todos os colombianos, menores de idade.
A Sociedad Colombiana Tradición y Acción e o Centro Cultural Cruzada se dirigem ao país, a fim de proclamar a urgente necessidade de que todos os acordos pactuados entre o governo e as FARC sejam conhecidos e debatidos em plena luz ao dia, e não nas sombras, nem no Exterior, nem em segredo, como se vem fazendo desde o início.
Tudo indica que, ao amparo desse segredo, maquina-se uma grande claudicação do Estado colombiano diante das pretensões inaceitáveis e crescentes da narcoguerrilha, e é claro que se prepara a impunidade para aqueles que durante meio século cometeram toda espécie de crimes e perpetraram as mais graves violações dos Direitos Humanos.
Por que esconder ao país as concessões a serem feitas às FARC? Pela razão muito simples de que a imensa maioria dos colombianos recusaria esses acordos se conhecesse seu conteúdo.
Por isso é cada vez menor o número dos que se sentem interpretados pelo Presidente da República, a ponto de serem enormes seus níveis de desaprovação, entre outras razões porque o anunciado no início do Processo de Paz não corresponde ao que se vai firmar no final deste, defraudando a promessa ao país de fazer uma consulta nacional séria para referendar os acordos.
Prepara-se assim um pseudoplebiscito com uma pergunta global e equívoca, em face da qual o votante responderá se deseja ou não a paz, com o que se tentará confundir uma parte da opinião nacional para que aceite condições que ela jamais aceitaria caso não se fizesse uso desse engano. E se estabelece, violando com cinismo os princípios mais elementares de uma consulta popular, que com a aprovação de apenas 13% do censo eleitoral, o plebiscito será legítimo, quaisquer que sejam as objeções do resto do País.
Nas trágicas circunstâncias em que se encontra o país — porque se maquina a entrega da Colômbia ao seu inimigo mortal —, é preciso exigir clareza total sobre os seguintes pontos dos acordos já firmados, pois do contrário significaria a sua nulidade:
Do modo como os acordos estão concebidos, a julgar pelas declarações dos representantes do governo e da guerrilha, teremos mais uma vez a aberração jurídica e moral de ver os guerrilheiros livres, e os defensores da Nação no cárcere, tal como sucedeu por ocasião do sanguinolento assalto do M-19 ao Palácio da Justiça e de seu heroico resgate pelo Exército Nacional.
Segundo as exigências das FARC, seus crimes ficarão sem qualquer castigo. Fala-se de penas alternativas, mas sem nenhum tipo de prisão efetiva, a qual seria substituída pela permanência dos guerrilheiros culpados nos mesmos territórios assolados por eles durante décadas, numa suposta “liberdade vigiada” que não se sabe bem o que significa.
Na realidade, os guerrilheiros falsamente pacificados não serão vigiados por guardas do Estado, mas se transformarão em vigilantes e, no fundo, carcereiros e também torturadores da população camponesa, sua principal vítima durante décadas, a qual ficaria assim submetida por eles por prazo mais ou menos indefinido.
Ademais, alguns dos eventuais juízes, integrantes de desconhecidos organismos nacionais e internacionais, serão escolhidos pelos mesmos criminosos, transformando a justiça numa farsa cruel e nefasta. E também se concederá à subversão o direito de julgar — ou, o que é quase o mesmo, exigir que se julguem — todos aqueles que de alguma forma se tenham oposto às suas intenções e a seus atos delituosos.
O Estado não poderá confiscar o dinheiro obtido pelas FARC por meios criminosos como o narcotráfico, os assaltos, as extorsões e os sequestros, nem a guerrilha será obrigada a indenizar de forma alguma as centenas de milhares de vítimas que produziu. Simplesmente essas enormes fortunas ilegais, ocultas até agora, passarão a ser o elemento-chave do poder guerrilheiro para impulsionar sua ação na política futura e dominar o país.
Se há pouco mais de 20 anos alguns milhões de dólares do narcotráfico foram chaves para uma eleição presidencial, não é difícil calcular quanto conseguirá a guerrilha com centenas ou milhares de milhões de dólares para estabelecer a escravização da Colômbia.
O governo declarou que as FARC entregarão as armas, mas os chefes guerrilheiros disseram, em todos os tons possíveis, que não as entregarão. Em quem acreditar, se as posições são diametralmente opostas? O que as FARC afirmaram é que farão “deposição” delas, o que é diferente. Ou seja, conservá-las-ão em atitude de ameaça, e voltarão a utilizá-las quando lhes aprouver, sem que quase ninguém o denuncie ou evite…
Como não se pode fazer política com armas, a guerrilha acusa o Exército Nacional de intervir na política, razão pela qual exige o desarmamento das Forças Armadas. Assim, ela procurará impedir a eficiente e aplaudida defesa da Nação levada a cabo pela instituição mais querida dos colombianos, e tanto o Exército quanto a subversão farão “deposição” de suas armas, equiparando-se assim o delito sanguinário à defesa da ordem legal, e os inimigos da Pátria aos seus abnegados defensores.
Os líderes das FARC chegarão ao Congresso da República não pelo voto popular, como exige a Constituição, mas por concessão do Estado. Este será o modelo de pseudodemocracia, para o qual elas exigem todas as reformas possíveis na Carta, que transformarão a ordem jurídica do país. Seu “castigo” pelos crimes cometidos durante 50 anos será fazer parte do Congresso, legislar para dominar aqueles que foram respeitosos do Estado de Direito, e obter a eleição de seus candidatos para prefeituras e governos provinciais.
Esta exigência é tão absurda que, nas recentes eleições municipais realizadas em mais de mil municípios da Colômbia, não foi eleito um só prefeito favorável às FARC, nem tampouco um só governador, pela simples razão de que ninguém as quer como governantes. E este é o motivo pelo qual elas desejam conservar as armas: para, ao longo da vida quotidiana, ir tomando gradualmente o poder pela força, com agressões e ameaças, pois jamais poderão fazê-lo pelas vias legais.
As FARC cometeram incontáveis crimes contra a população civil e desejam que estes fatos sejam ignorados com o pretexto do fim do conflito. Entre as vítimas estão milhares de sequestrados — os menores de idade recrutados através da força ou do engano, muitos deles mortos depois em combate, e as mulheres, submetidas a brutais abusos sexuais pela tropa subversiva e inclusive forçadas a abortar.
Sem dúvida, a imensa maioria dos colombianos não está de acordo com essas propostas e fará todo o possível para impedir que tal fraude política demolidora se consume em nossa Pátria. Esta é a principal razão pela qual a verdade sobre os acordos é ocultada ao país.
A paz verdadeira, a paz autêntica, a paz que todos os colombianos anelamos, não é fruto de uma composição, mas a Paz de Cristo no Reino de Cristo. Ela é — como ensinam a Lei de Deus e a Lei Natural — a tranquilidade na ordem.
Jamais haverá verdadeira paz se aqueles que cometeram tantos crimes se apresentam agora como paladinos de uma falsa paz, que impõem com a ajuda de autoridades complacentes, negando e desdenhando o valor da Constituição e das leis. O país seria lançado assim no que se poderia chamar a “paz marxista”, cópia da que foi durante mais de 70 anos a pax sovietica, na qual se negaram e eliminaram, em nome da justiça, da liberdade e da paz mal-entendidas, todos os direitos da sociedade e das pessoas, para concentrá-los ilegitimamente nas mãos da tirania vermelha.
Para isto, os verdadeiros conceitos de paz e diálogo foram desvirtuados pelo marxismo, que os converteu em termos talismânicos nunca definidos, mas utilizados a todo propósito num gigantesco e crasso engano, como o demonstra a obra Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, do insigne pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira. Assim, confiar neste processo de paz equivale a dar a vitória à guerrilha na conquista da Colômbia, já não principalmente pela violência das armas, mas pelo engano.
Este processo será muito parecido ao sofrido em anos recentes pela nossa vizinha Venezuela, que com a expansão galopante da miséria e a implantação acelerada da ditadura do proletariado impulsionada pelo regime chavista, julgava estar sendo “libertada” das injustiças sociais, até que chegou a um passo do comunismo. Na Colômbia, os guerrilheiros tomarão o lugar das brigadas bolivarianas e os políticos condescendentes se transformarão no que os marxistas chamam ironicamente de “idiotas úteis”, para juntos subjugarem o país.
Assim, o que se faz com esta grande mentira é empurrar a Colômbia para o abismo, enquanto nossos governantes insistem que vamos rumo ao paraíso da paz.
Diante deste panorama de inegável gravidade, desejamos que o país desperte de tão lamentável letargo. A todos os que veem com angústia e preocupação o rumo pelo qual estamos sendo levados, pedimos que abram os olhos, despertem, rompam a hipnose em que foram colocados, pronunciem-se e se manifestem de forma legal, mas incisiva. E que de nenhum modo aceitem que 45 milhões de pessoas sejam derrotadas por uma minoria subversiva e terrorista, a qual proclama diante do mundo uma vitória que nunca obteve, e que deseja impor suas condições a toda a Nação.
O único modo de evitá-lo é exigindo que seja dita a verdade. E quando esta for conhecida e a Colômbia souber com clareza para onde está sendo conduzida sem saber nem querer, as trevas começarão a dissipar-se e nossa Nação encontrará seu verdadeiro rumo, que lhe dará a grandeza e a paz autêntica que todos os colombianos de bem ansiamos para ela.
Ao que foi dito devemos acrescentar um aspecto especialmente deplorável da atitude do presidente Santos: que manipule, deforme e instrumentalize as opiniões do Sumo Pontífice com transmissões contínuas pelo rádio e pela televisão de partes de seus discursos nas quais tratou dos diálogos para a paz. Ele procura assim induzir a população católica a aceitar de olhos fechados as concessões à guerrilha, que são injustas, ilegais e demolidoras, além de enormemente perigosas.
Uma coisa é que a paz seja desejável, como assinalou o Papa, e outra, distinta, é que se queira alcançá-la por meio de claudicações, as quais não se tem sequer coragem de enunciar. Nessas condições, um eventual consentimento nacional careceria de toda legitimidade, limitando-se sua eficácia ao efeito de uma construção de mal-entendidos, enganos e falsas promessas.
Sobre isto é preciso dizer com veneração ao Santo Padre que não está entre as suas atribuições pressionar ou ordenar a população católica a que aceite em matéria temporal atos de governo ou acordos políticos que lesem ou ponham em grave risco direitos fundamentais de grande parte da população. E menos ainda se tal se baseia na palavra de um setor que a violou de modo contínuo e sem o menor escrúpulo. Para Marx, a moral consistia apenas nas conveniências da Revolução comunista, à qual tudo deve ser sacrificado, o que confirma a sangrenta história do comunismo por mais de um século e meio.
Ademais, ao se referir publicamente em Cuba às negociações que ali se realizam, o Sumo Pontífice deixou claro que obviamente deseja a paz, mas que há ainda numerosos aspectos que é preciso resolver, entre os quais estão a reparação às vítimas e a exclusão da impunidade nos delitos de lesa-humanidade.
Diante de nossa Padroeira, a Santíssima Virgem de Chiquinquirá, afirmamos com uma certeza que, estamos convictos, é compartilhada pela imensa maioria dos colombianos, que a verdadeira paz, o autêntico progresso e o efetivo espírito de grandeza que iluminaram a história da Colômbia, não podem ser abandonados para nos submetermos às imposições daqueles que destruíram a Pátria, associados aos que a governam mal.
Bogotá, 16 de janeiro de 2016
(*) Documento traduzido do original espanhol por Hélio Dias Viana.
Revista Catolicismo
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