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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

SACRAMENTOS E SACRAMENTAIS


No Antigo Testamento a economia da graça era muito severa, de maneira que nossos primeiros pais encontravam dificuldade na prática da virtude, pois deviam observar os preceitos de Deus, sem terem os recursos que, no Novo Testamento, Nosso Senhor Jesus Cristo concedeu à Sua Igreja para auxílio dos fiéis. Eles são inúmeros, estando entre os mais importantes os Sacramentos.

Considere-se apenas que, pelo Batismo, como diz o Catecismo chamado de São Pio X, “renascemos para a graça de Deus, pois ele confere a graça santificante, que apaga o pecado original, e também o atual, se o há; perdoa toda a pena por eles devida, e imprime o caráter de cristão, fazendo-nos filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Paraíso, tornando-nos assim aptos para receber os outros Sacramentos”.

O que é um Sacramento

Segundo os escolásticos medievais, sobretudo São Tomás de Aquino: Sacramento é “o sinal de uma coisa sagrada na medida em que santifica os homens”. O Catecismo de São Pio X [foto ao lado] amplia essa definição para “é um sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo, para santificar nossas almas”.

O Catecismo explica que esses “sinais sensíveis” “todos os Sacramentos têm, porque significam, por meio de coisas sensíveis, a graça divina que eles produzem na nossa alma”. O exemplo que dá de sinal sensível no Sacramento é: “No Batismo, o ato de derramar a água sobre a cabeça da pessoa, e as palavras: ‘Eu te batizo, isto é, eu te lavo, em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo, são um sinal sensível do que o Batismo opera na alma; porque, assim como a água lava o corpo, assim a graça dada pelo Batismo purifica a alma do pecado”.

São os Sacramentos indispensáveis para se obter graças de Deus?

O teólogo D.J. Kennedy explica na The CatholicEncyclopedia que: “O Deus Todo-Poderoso pode e dá graça aos homens em resposta às suas aspirações e orações internas, sem o uso de qualquer sinal ou cerimônia externa. Isso sempre será possível, porque Deus, a graça e a alma são seres espirituais. Deus não está restrito ao uso de símbolos materiais e visíveis ao lidar com os homens; [assim] os sacramentos não são necessários no sentido de que não poderiam ser dispensados. Mas, se é sabido que Deus designou cerimônias externas e visíveis como o meio pelo qual certas graças devem ser conferidas aos homens, então, para obter essas graças, será necessário que eles façam uso desses meios divinamente designados. […] É ensinamento da Igreja Católica que, […] embora Deus não fosse obrigado a fazer uso de cerimônias externas como símbolos de coisas espirituais e sagradas, agradou a Deus fazê-lo; e este é o procedimento ordinário e mais adequado da maneira de lidar com os homens”. Por causa disso, “o Concílio de Trento (Sess. VII, cân. 4) declarou heréticos aqueles que afirmam que os sacramentos da Nova Lei são supérfluos e desnecessários, embora nem todos sejam necessários para cada indivíduo”. Por exemplo, o da Ordem e o do matrimônio.

Algumas seitas protestantes geralmente sustentam que os sacramentos são sinais de algo sagrado (graça e fé), mas negam que eles realmente causem a graça divina.

Explica o mesmo erudito autor que “fundamentalmente todos esses erros surgem da recém-inventada teoria da justiça de Lutero. Ou seja, a doutrina da justificação pela fé somente. Para o heresiarca, o homem deve ser santificado não por uma renovação interior pela graça que apagará seus pecados, mas por uma imputação extrínseca pelos méritos de Cristo, que cobrirá sua alma como um manto. [Pelo que] não há lugar para sinais que causem graça, e os usados ​​não podem ter outro propósito senão estimular a fé no Salvador”.

Refutando essa afirmação Kennedy cita trechos da Sagrada Escritura que indicam claramente que os sacramentos são mais que meros sinais de graça e fé. Por exemplo:”Aquele que não nascer de novo da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3:5); “Ele nos salvou pela pia da regeneração e renovação do Espírito Santo” (Tto 3:5); “Então impuseram as mãos sobre eles, e eles receberam o Espírito Santo” (Atos 8:17); “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna […] porque a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 6:55-56).

Efeitos dos Sacramentos

De acordo com a Doutrina Católica, os Sacramentos são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência ou Confissão, Extrema Unção, Ordem e Matrimônio.

Segundo o citado Catecismo, “Os Sacramentos, além da graça santificante — que é um dom sobrenatural, inerente à nossa alma, que nos faz justos, filhos adotivos de Deus e herdeiros do Paraíso—, produzem também a graça sacramental, que consiste no direito que se adquire, recebendo qualquer Sacramento, de ter em tempo oportuno as graças atuais necessárias para cumprir as obrigações que derivam do Sacramento recebido. Assim, quando fomos batizados, recebemos o direito a ter as graças necessárias para vivermos cristãmente”.

Na ordem prática, depois do Sacramento do Batismo, o de maior utilidade para um pecador, é o da Penitência ou Confissão. Quem é que, estando atribulado por causa de seus inúmeros pecados, não encontra consolo e alívio nesse augusto Sacramento? Porque, diz o Catecismo, ele “Confere a graça santificante, com a qual são perdoados os pecados mortais e também os veniais que se confessarem e de que haja arrependimento; comuta a pena eterna em temporal, da qual também é perdoada uma parte maior ou menor, conforme as disposições do penitente; faz reviver o merecimento das boas obras feitas antes de se cometer o pecado mortal; dá à alma auxílios oportunos para não recair no pecado, e restitui a paz de consciência”. Ele é, portanto, um Sacramento necessário para todos aqueles que, depois do Batismo, cometeram algum pecado mortal.

Contudo, há outro Sacramento que é dos mais esquecidos hoje em dia, que é o da Extrema Unção ou Unção dos Enfermos. Quanta gente morre atualmente sem receber esse Sacramento que pode lhe abrir as portas do Céu. Pois, dele diz o Catecismo: “O Sacramento da Extrema Unção 1 – aumenta a graça santificante; 2 – apaga os pecados veniais e também os mortais que o enfermo, arrependido, já não possa confessar; 3 – tira a fraqueza e languidez para o bem, que fica, ainda depois de se ter alcançado o perdão dos pecados; 4 – dá força para suportar pacientemente o mal, para resistir às tentações, e para morrer santamente; 5 – ajuda a recuperar a saúde do corpo, se isso for útil à salvação da alma”.

No mundo de hoje, em que não é temerário dizer que grande parte ou mesmo a maioria dos homens vive em estado de pecado mortal, quantos recorrerão a esses indispensáveis Sacramentos para readquirir a graça de Deus?

Os Sacramentais

Um outro recurso que a Santa Igreja põe à nossa disposição para trilharmos a vida de virtude, são os Sacramentais, tão fáceis de se obter, e que tantos benefícios trazem.

O Pe. Leclercq, na mesma The CatholicEncyclopedia, falando sobre os Sacramentais, explica: “Ao instituir os Sacramentos, Cristo não determinou a matéria e a forma até ao mais ínfimo pormenor, deixando esta tarefa para a Igreja, que deveria determinar quais os ritos adequados à sua administração. Esses ritos são indicados pela palavra Sacramentalia, cujo objetivo é manifestar o respeito devido ao sacramento e assegurar a santificação dos fiéis”.

O número dos sacramentais não pode ser limitado. Entretanto, entre os mais acessíveis estão algumas orações jaculatórias que toda pessoa piedosa costuma fazer durante o dia, e outros atos de piedade como, por exemplo, Persignar-se ou o uso da água benta, portar uma medalha devidamente benta ou o escapulário, e inúmera orações públicas ou privadas, dar esmola, fazer algum ato de caridade, a vela benta, o incenso etc. Eles têm também uma utilidade prática muito grande, porque ajudam a distinguir os membros da Igreja dos hereges, que aboliram os sacramentais ou os usam arbitrariamente com pouca devoção.

Os sacramentais pertencem à virtude da religião, sendo seu objeto indicado pelo Concílio de Trento (Sess. XXII, 15), que afirma que, além de sua origem antiga e cerimônias tradicionais de manutenção como bênçãos, luzes, incenso, etc. eles aumentam a dignidade do Santo Sacrifício e despertam a piedade dos fiéis.

Explica o Pe. Leclercq para utilidade nossa que, “um dos efeitos mais notáveis ​​dos sacramentais é a virtude de afastar os maus espíritos cujas operações misteriosas e funestas afetam às vezes a atividade física do homem. Para combater este poder oculto, a Igreja recorre ao exorcismo e aos sacramentais. Outro efeito é a libertação da alma do pecado e as penalidades por isso. Assim, na bênção de uma cruz, a Igreja pede que este sinal sagrado receba a bênção celestial, para que todos aqueles que se ajoelham diante dele e imploram à Divina Majestade, possam ter grande compunção e um perdão geral das faltas cometidas. Isto significa a remissão dos pecados veniais, porque só os sacramentos, com a contrição perfeita, têm a eficácia de remir os pecados mortais e de libertar das penas que lhes estão associadas”.

São Tomás é explícito neste ponto: “A bênção episcopal, a aspersão de água benta, toda unção sacramental, oração em uma igreja dedicada, e assim por diante, efetuam a remissão dos pecados veniais, implícita ou explicitamente“.

“Finalmente, diz o mesmo autor, os sacramentais podem ser empregados para obter favores temporais, já que a própria Igreja abençoa os objetos utilizados na vida cotidiana, por exemplo, a bênção de uma casa sobre a qual se derrama a abundância do orvalho celestial e a rica fecundidade da terra; assim também na bênção dos campos, em que Deus é convidado a derramar Suas bênçãos sobre as colheitas, para que as necessidades dos necessitados sejam supridas pela terra fértil”.

Que riqueza temos nesses recursos postos pela Santa Madre Igreja à nossa disposição, e que geralmente ignoramos porque muitos dos nossos pregadores, em vez de deles tratar, preferem utilizar para seus sermões de aparato ou, para serem politicamente corretos, sobre temas sociais controvertidos!

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Plinio Maria Solimeo

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