Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Acampamentos para adultos que não querem crescer


Untitled-1No acampamento de CampRahh, perto de Seattle (nos Estados Unidos), as pessoas jogam, assistem aulas de belas artes, fazem caiaque, caminhadas, ou se envolvem em outras atividades, como nos demais acampamentos de verão por todo o país. A única característica que as distingue é o fato de serem todas maiores de 21 anos. O acampamento Rahh é uma espécie de Neverland de verão para adultos.

O parque, de 47 acres, atende a multidão de adeptos da alta tecnologia estressados pelo barulho, telefones celulares e horários corridos ​​que constituem sua rotina. O programa de quatro dias promete dar aos participantes a chance de voltarem a ser crianças novamente, sem preocupações e com muitos jogos e diversões.

A fim de eliminar o estresse, as regras do acampamento proíbem estritamente todo e qualquer eletrônico. Celulares, tablets, relógios e todos os outros dispositivos são verificados no momento da chegada. Os campistas devem viver sem Twitter, Snapchat, Facebook e Instagram por quatro dias inteiros. Não podem tirar ou postar selfies com seus novos amigos. Como em  qualquer acampamento para crianças, álcool e drogas são proibidos.

Embora procure recriar a experiência de acampamento que os participantes tiveram em sua infância, CampRahh não é um acampamento comum.

Sua clientela, vale lembrar, é constituída de mimados filhos adultos do mundo da tecnologia. Não se pode esperar que se conformem com a comida normal do acampamento ou façam muito esforço físico. Assim, as refeições são habilmente preparadas pelo chef gourmet de Seattle, Brian O’Connor, que sabe preparar muito mais do que simples cachorros-quentes.

Neste refúgio de quatro dias não existe o horário normal, observado na maioria dos acampamentos de verão para crianças. Não há toque de alvorada pela manhã, e os campistas são livres de dormir até a hora que desejarem. Podem escolher entre todo tipo de atividade, ou nenhuma. Durante o dia, têm ainda a opção de buscar redes escondidas na floresta, onde  podem dormir, se quiserem. À noite, os campistas distendidos participam em animadas conversas ao redor da fogueira, ao estalar dos gravetos em combustão.

O lema do acampamento é curto e tuitável: Deixem toda e qualquer preocupação. Desliguem-se da intemperança frenética do mundo da alta tecnologia. Vivenciem novamente sua infância interior. Como comentou um campista existencial, ele queria “apenas ser”.

A existência de um acampamento para adultos é um sinal dos tempos. Aparentemente, o acampamento supre uma demanda do mercado, e o negócio está crescendo com pujança. Parece haver uma abundância de adultos dispostos a fazer os quatro dias de caminhada de volta a uma infância imaginária. Fala-se de fazer franquias, e acampamentos semelhantes estão sendo abertos por todo o país

No entanto, há algo de tão profundamente errado com um acampamento para adultos quanto haveria com uma universidade para crianças. Tudo tem o seu tempo, lugar e estação.

As crianças precisam de lugares como acampamentos porque têm muita energia a gastar, e suas atividades devem incluir desafios que ajudem seu desenvolvimento físico e mental. Para elas, acampamentos não podem ser lugares de preguiça, pois necessitam também de estruturas de formação para moldar seu caráter e incutir-lhes bons hábitos. Precisam de fortes laços emocionais com os pais, com outras crianças, e modelos humanos para imitar a fim de compensarem suas deficiências. Precisam de um tempo de inocência e maravilhamento para firmá-las na virtude e orientá-las ao amor de Deus. Em suma, precisam de tudo isso para que possam crescer.

No caso de jovens adultos, a situação é completamente diferente. Eles não precisam de acampamentos para se desenvolver, pois já são crescidos. O que precisam é desenvolver, amadurecer e levar à plenitude tudo que adquiriram na infância. Na verdade, terão também momentos de recreação, mas estes devem consistir em prazeres “adultos” que exijam atenção e esforço. Devem canalizar suas energias, ainda exuberantes, a pensar seriamente sobre sua vocação e chamado. Como adultos, precisam assumir as responsabilidades e deveres que vem com a contingência de ganhar a vida e nela encontrar um propósito. Precisam deixar para trás suas atividades infantis e começar a enfrentar as duras realidades da vida, até mesmo a de lutar pela pátria. Precisam aprender a amar o próximo até o ponto de se sacrificarem. Esta é a época em que devem casar-se, estabelecer família e participar de uma comunidade. O jovem adulto deve fazer como diz o Apóstolo São Paulo na primeira epístola aos Coríntios: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança”(13:11).

Hoje, no entanto, tais considerações são ignoradas e os jovens adultos são bombardeados com uma mensagem contrária. Tudo deve ser interessante e divertido. A vida não é feita para enfrentar duras realidades, mas para criar a nossa própria realidade virtual. Relacionamentos  não precisam ser duradouros mas podem ser fugazes, durando apenas um momento. É como se o mundo fosse uma grande CampRahh onde se pudesse adiar a idade adulta tanto quanto possível. O resultado é uma multidão de jovens adultos frustrados, que nunca crescem e acabam por aprender, a duras penas, que tais acampamentos nunca funcionam.


Tradução do site http://www.returntoorder.org/2016/07/real-life-neverland-dont-want-grow/ feita por José Aloisio Aranha Schelini.

Detalhes do artigo

Autor

John Horvat II

John Horvat II

36 artigos

Categorias

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados