Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 11 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:25:31 PM
Razões de trabalho me levaram recentemente a Salvador. À tardinha, depois da tarefa cumprida, um colega soteropolitano me convidou para um giro a pé pelo centro histórico da encantadora cidade. Bahia, nome evocativo de tanta história para nós brasileiros.
Seguindo o roteiro proposto por Gabriel – nome do colega de trabalho – pude observar, enlevado, muitos aspectos pitorescos e belos da cidade como o Relógio de São Pedro, a Piedade, o Mercado Modelo, o Pelourinho [foto acima], entre outros.
O horário parecia não favorecer muito, pois as igrejas históricas já se encontravam fechadas. Caminhávamos num ritmo bem baiano, sem pressa, para poder admirar as fachadas dos prédios com suas sacadas e seu colorido ressaltado pela iluminação.
Não faltavam turistas, em sua maioria bebericando algo nas calçadas defronte a restaurantes e bares ao longo das ruas e praças. Pude admirar, apenas por fora, a Igreja de São Francisco [foto acima] e a da Ordem Terceira. Muita coisa do que via me era familiar uma vez que, virtualmente, não apenas conhecia, mas já havia lido a respeito.
Pude tirar a limpo, por exemplo, uma curiosidade sobre a fachada da Ordem Terceira [foto ao lado], hoje com todos os detalhes externos originais. Em épocas mais remotas foi coberta com reboco, dado que muitas esculturas ali presentes são repletas de símbolos. Quem estudou a grande a gesta de Dom Vital no Brasil, não poderia deixar de rememorar a razão deles nas ordens terceiras.
Aquela região é denominada Pelourinho, local onde os escravos recebiam castigo. Ali se encontra a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Até um restaurante-escola do SENAC. Mais ao longe, víamos as igrejas de Santa Bárbara, do Carmo e da sua Ordem Terceira.
Depois de caminhada tão agradável quanto instrutiva, íamos descendo a ladeira a fim de tomarmos um táxi. Mais uma igreja em nosso caminho, a de Nossa Senhora do Rosário do Homem Preto que, para nossa alegria, encontrava-se aberta. Entramos com sofreguidão. Vozes varonis recitavam as orações do Terço.
Pelo que fomos informados tratava-se do “Terço dos homens” em sua 59ª edição… A ascendência italiana falou mais alto dentro de mim. Confesso que me emocionei. Não tive dúvida, tirei meu terço do bolso e ajoelhei-me. Uma simpática pessoa na frente fez-me um sinal para que eu me associasse a eles.
Na verdade, o que eu desejava mesmo naquele momento não era propriamente rezar, mas, na quietude, admirar aquela luminosa cena. Ao contrário de orações lentas e langorosas, ouvia vozes másculas, altas, quase proclamadas a louvar a Virgem Santíssima.
Encerrado o Terço, veio um cântico seguido de uma consagração dos presentes a Nossa Senhora. A voz deles era grave e forte, além de muito afinada. Sensibilizei-me ao ver e ouvir aqueles senhores recitarem “Infinitas graças vos damos, soberana Rainha”…
Não importa a raça, todos nós temos a Virgem Branca do Rosário por Rainha, mas ali havia algo mais… Havia o charme negro da Bahia de Todos os Santos. Seguindo uma tradição deles, fui até convidado a dizer algumas palavras. Vi-os de frente. Quase todos em traje social. Nenhuma bermuda, camiseta e chinelos.
Fomos convidados para um lanche. Conversa farta e cheia de atração. Hospitalidade é o que não faltou.
Saí dali pensativo, sempre acompanhado do verboso Gabriel. Preferi tomar uma refeição leve e me fui me recolher no Hotel. Perguntei-me muitas vezes onde estavam os negros revoltados que setores da mídia e de certas sacristias procuram realçar.
Confesso ter tido naquele dia uma profunda alegria de alma por sentir-me entre irmãos, pois somos todos filhos do mesmo Pai e da mesma Mãe. Se quiser, sob a invocação de Virgem Santíssima do Santo Rosário do Homem Preto de Salvador.
Seja o primeiro a comentar!