Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
28 min — há 3 anos
Transcrevemos o comentário do Prof. Plinio na festa de São Pedro e São Paulo.
“Bem, assim também, na triste situação em que está agora a Igreja, em que a Igreja se encontra, nesta triste situação, nós temos o empenho em saber bem exatamente como é o papado; como é que normalmente ele é dentro da Igreja, qual é o papel dele ao longo da História, para nós compreendermos bem esta instituição admirável que Nosso Senhor pôs dentro da Igreja, como cabeça da Igreja, e que vem a ser o pontificado romano, o papado.
E então, vale a pena nós voltarmos os nossos olhos para a época em que na Igreja os problemas atuais não existiam, em que tudo era de uma normalidade encantadora, empolgante, magnífica. Em que então, tudo quanto está contido no papado, e ficará contido até o fim do mundo – nunca deixará de ser – mas que hoje aparece pouco aos nossos olhos, isto nós veremos melhor, e nos entusiasmaremos muito mais em rezar pelo papado, oferecer sacrifícios pelo papado, falar com ele com amor, ainda mesmo quando tenhamos alguma razão de lamentar este ou aquele fato. Enfim, nos sentirmos de alma inteira, filhos do Papado.
Qual é a situação, qual é o papel do papado dentro da Igreja Católica? Para termos bem a ideia disso, nós temos que tomar em consideração antes de tudo, qual é o papel da Igreja Católica no mundo. Depois o papel do papado dentro da Igreja Católica. E assim nós ficamos com uma visão exata das coisas.
Não sei se já aconteceu aos senhores isto, mas eu creio que aos menos de modo subconsciente terá acontecido, que quando se estuda história no curso secundário, e depois quando ficam mais velhos, e algum entra para estudar História em curso secundário, e depois quando ficam mais velhos, e entra para estudar História em curso universitário, quer especializar-se para ser professor de História, acontece que tem a impressão da História um tumulto de fatos mais ou menos desconexos. Que vão e que vem, acontecem a gente não sabe por quê; depois também param de acontecer e vem outro tumulto por cima. A gente tem impressão de um caldeirão, que está refervendo continuamente; refervendo a dor e a infelicidade humana.
Homens gemem cá, coisas caem lá, algumas outras coisas se reconstroem acolá, a gente vê outros transitoriamente felizes em tal situação, mas aquela felicidade cai, aquela construção rui; aparecem outras tragédias, e aquilo continua assim, sem sentido e sem rumo ao longo da História.
Os que tenham tido esta impressão da História levantem o braço… Antes de eu terminar a pergunta os braços começaram a se levantar.
Ora, a História só deixa ver toda a sua beleza, quando nós a consideramos no seu sentido profundo. E o sentido profundo da História é a história da salvação.
O que é que vem a ser a história da salvação? Os homens foram postos neste mundo para, aqui na Terra praticarem a virtude e se salvarem. E o grande problema da vida do homem na Terra é dar glória a Deus nesta Terra, e salvar a sua alma para dar glória a Deus no Céu. A salvação do homem e a glória de Deus são a razão de ser da vida de todo homem. Se ele deu glória a Deus, amou a Deus e salvou sua alma, a sua vida foi uma vida acertada.
Se ele não amou a Deus, se ele não deu glória a Deus se ele não salvou a sua própria alma, a sua vida foi errada. E o critério na apreciação da vida de todo homem é a sua salvação.
Do que adianta um homem ter sido um Alexandre o Grande, que tomou toda a Ásia, que chegou até a Pérsia etc. do que adianta ter sido isto, se ele depois vai para o inferno? Não adianta nada!
Por outro lado, tomem o mais desditoso dos homens, o mais doente, o mais pobre, o mais incompreendido, o que abandonado, o mais perseguido, o mais caluniado de todos os homens. O homem com a vida espantosamente mais longa, e que arraste, portanto, este martírio por um maior número de anos. Se no fim ele salva sua alma, está tudo certo! Não tem mais nada. Está salva a alma, ele serviu a Deus, ele realizou aquilo para o que foi criado, que é de dar glória a Deus, Deus o ama, e ele ama a Deus. E ele será feliz por toda eternidade!
Não sei se os senhores já mediram o que quer dizer a palavra eternidade? A palavra eternidade é incomensurável, não se pode medir. Porque ela não tem fim!
Eu creio que contei numa noite destas aqui no Auditório São Miguel, não tenho certeza, um dito engraçado do Churchill. Ele era um grande estadista, e um medíocre pintor. Mas ele tinha loucura por pintar. E pintava quadros que se vendiam muito bem, porque eram pintados por ele. Mas não era o valor da pintura, era o valor da mão que segurou o pincel. Uma sala pintada pelo Churchill, uma cena caseira, um pedaço de jardim pintado pelo Churchill, era interessante para a gente ver como é que o Churchill viu aquilo. Ver de dentro dos olhos dele, e imaginar a mão gorducha e ágil dele pintando aquilo e… Era uma coisa que tem interesse extraordinário! Se eu comprasse um quadro de Churchill, eu gostaria de comprar a fotografia da coisa como ela é para comparar e ver o que ele pôs. Como é que ele fez, que jeitos e trejeitos ele deu no pincel para sair o que está lá, para ver bem como é o espírito do Churchill.
O Churchill declarou o seguinte: que quando ele morresse – ele estava pressupondo que ele iria ao Céu… Queira Deus! Queira Deus! Como eu gostarei que todos nós o encontremos no Céu! Que ele à última hora tenha tido a graça de se converter à religião Católica Apostólica Romana! Que coisa boa!
Bem, mas enfim, seja como for, ele dizia que o primeiro milhão de anos dele, ele passaria pintando. Depois ele veria o que faria. O dito não é bom, porque pintar é uma operação de centésima… nem sei, desaparece diante de olhar Deus por toda a eternidade! Mas, o dito é engraçado e diz alguma coisa quanto à ideia de duração. O primeiro milhão de anos, é mais ou menos como alguém que está calculando um plano para o feriado. Hoje é sábado, a pessoa pode dizer: “ minha manhã de domingo, eu vou destinar a tal coisa.”
A manhã da eternidade dele, ou seja, um milhão de anos primeiro, ele destinaria para tal coisa. Depois viriam milhões e milhões e milhões de anos sem fim… De uma felicidade também sem fim. Bom, porque que é que Churchill teria então acertado a vida dele? Por que ele foi um tão grande homem? Porque ele salvou a alma! Que coisa secundária ter sido um grande homem; que coisa incomparável ter salvo a própria alma! Amar a Deus e ser amado por Deus! amar a Nossa Senhora e ser amado por Nossa Senhora. Eis a finalidade da vida do homem.
Mas, se a finalidade da vida de cada homem é esta, a finalidade da história dos homens só pode ser que eles se salvem. É claro! Não pode ser, por exemplo, vamos dizer que esta água aqui estivesse destinada a irrigar um pote de flores que está diante de uma imagem de Nossa Senhora. Cada gota do copo está destinada a isto. Logo, o copo está destinado a isto. Eu entendo como copo não copo material, mas a massa de água que o copo contém, se eu entendo isto por um copo, eu digo que o copo de água está destinado a isto. O conjunto tem a mesma finalidade que a totalidade das partes que a integram.
Não sei se está claro isto? E, portanto, a história universal tem como sentido a história da salvação.
Mas, o que é a história da salvação? Os homens, influenciam-se enormemente uns aos outros, com rumo à salvação eterna. Quer dizer está na sociedade humana que os homens tenham influência uns sobre os outros. Está na sociedade humana portanto, que os homens habitualmente se salvam ou se perdem em cachos. Assim como há um cacho de uva, e a gente pode jogar todo o cacho no fogo, ou pode colher, cortar e colocar numa bonita fruteira… todas as uvas do cacho vão juntas.
Assim, muito frequentemente os homens se salvam, ou se perdem aos montes. Pela interinfluência dos homens, uns sobre os outros. E a sociedade humana, quer dizer, um país, por exemplo, ou o conjunto de todos os países, o grande problema dela é: até que ponto ela ajudou a salvação.
Estes homens praticamente ateus que andam por aí, que falam com uma preocupação enorme, a respeito da fome, a respeito da cultura, da instrução – Bios e Mamon! (os deuses pagãos referentes à vida biológica e ao dinheiro, n.d.c.) – eles não falam a respeito da salvação. E eles não se perguntam se uma sociedade humana está ordenada de tal maneira que ela ajude todos a se salvarem.
Ora, é para isto que a sociedade humana existe. Ela existe para ser um ambiente aonde todos influenciam uns aos outros para o bem. Aqui é um exemplo característico.
Nós somos um conjunto, nós somos muito mais do que simplesmente a TFP – a TFP tem um número reduzido de sócios, e a TFP é os seus sócios – mas nós somos uma sociedade de almas, uma família de almas, que é muito vasta, que cobre com suas sombras e com sua galharia o Brasil inteiro! Esta sociedade de almas existe para que todos ajudem uns aos outros a se salvarem. E os senhores não veem se fazer na TFP uma coisa que não tenha como sentido próximo ou remoto, profundo ou evidente, a salvação de todos.
Neste momento, estamos todos conversando, os senhores estão aqui com o intuito de ouvir uma palavra que lhes possa ajudar a salvação. Mas, mais ainda. Os lindos hábitos dos nossos eremitas; os cânticos que estão faltando… o ato inaugural tão bonito, tão interessante, tão bem representado que aqui feito; uma meia dúzia de palavras que os senhores ouvem depois… tudo isto os senhores examinem para onde isto tudo tende, tende fundamentalmente para a salvação.
Alguém dirá: “Mas, Dr. Plínio, não tende para combater o comunismo, o socialismo, para defender a Tradição, a Família e a Propriedade?” É verdade. Mas, por que nós combatemos o socialismo e o comunismo? Por que nós defendemos a Tradição, Família e Propriedade? Porque o comunismo é ruim, o socialismo é ruim; porque a tradição, a família e a propriedade são as condições para uma sociedade estar cristãmente organizada; é verdade; mas por que eu me ponho na tarefa de defender a isto? Se a minha alma com isto se perdesse, eu psst, largava isto imediatamente!
Eu sei que eu fazendo isto, encontro condições para salvar a minha alma; porque são atos de virtude que eu pratico fazendo isto. E esta virtude é agradável a Nossa Senhora. Ela é a Medianeira de todas as graças; Ela colhe estas virtudes e pela consagração que eu fiz a Ela como escravo de amor – São Luís Grignion de Montfort – Ela toma estas virtudes e oferece a Deus.
E Nosso Senhor Jesus Cristo, não olhando para a fonte da virtude, mas para a intermediária incomparável que a apresenta, recebe agradado este esforço, a favor da tradição, da família e da propriedade: “este esforço Eu amo, eu o abençoo”, diz Nosso Senhor. E as almas daqueles que trabalharam nesse sentido, eu as premiarei com graças extraordinárias, tendentes à sua salvação”.
Não sei se os senhores já pensaram – alguns são tão moços! Meus olhos caíram sobre dois ou três que representaram agora, são tão, tão moços, um dia vão morrer. É evidente. E em matéria de morrer ou não morrer, é uma coisa curiosa: a vida é tão amarga, que os grandes milionários da vida não são os que têm muito tempo para viver, são os que viveram muito. Porque os que tem muito tempo para viver, a gente não sabe se viverão; os que já viveram muito, já viveram muito! Eles, a bem dizer, auriram, beberam da vida à largos haustos.
Os outros viverão? Não se sabe. Não se sabe. Provavelmente sim, normalmente sim. Está bem. Mas a gente considerando mesmo os mais moços aqui um dia estarão na hora da agonia.
Eu não sei se os senhores já pensaram os senhores cada, um já pensou nisso, cada um já pensou em si mesmo deitado numa cama, ou numa mesa de operação, no momento em que vai fazer uma operação gravíssima, e que sabe que pode morrer durante a operação. Os médicos já amarraram, vem uma enfermeira com um copinho, e com uma pastilhinha. Quando tomar aquela pastilha, o homem entra no sono. Acaba o contato com a vida, é possível que quando ele acorde, ele acorde diante de Deus!
Eu já me encontrei nesta situação. É assim, tal qual. Porque vem a pastilhinha para a gente dormir. Depois quando a gente já está dormindo, vem os anestésicos, as agulhas de injeção, agulhas hein… – felizmente, felizmente, felizmente… A pessoa entra num sono tremendo, profundo. Se morrer na mesa de operação… Quem é que está livre de morrer numa mesa de operação? Se morrer na mesa de operação, de repente a vida cessa, comparece diante da infinitude de Deus!
E a convocação: “ Redde rationem tuam”, presta as tuas contas!
Então, na hora em que a enfermeira vem – e elas fazem isto sorrindo, com ar de aeromoça: ”aqui está o remedinho para os senhores não ter dor”… – não é isto não! Não está aí o passaporte para a eternidade? Olala! Olalá!
Bem, então nesta hora, como será agradável pensar: “Eu desde o tempo que eu era “enjolras” eu trouxe filhos para Nossa Senhora; eu renunciei a quantos prazeres, a quantas comodidades, a quantas expressões de prestígio diante dos outros! Eu fui caçoado, eu fui perseguido, eu fui caluniado, eu fui detestado, mas eu amei a Nossa Senhora! Eu amei a Nosso Senhor Jesus Cristo” eu servi em tal ocasião, em tal ocasião, em tal outra! Como é doce morrer!…
Então, todas essas coisas que nós fazemos aqui, tendem à salvação das almas. E quando nós falamos a respeito da organização política, social – política quase não falamos – da organização social e econômica do gênero humano, ou de um país como é o nosso, bem, quando nós falamos disso, nossa intenção é que o país seja organizado de tal maneira que favoreça a obra da salvação.
De maneira que, por exemplo, nós queremos a família por quê? Porque a família é a sociedade que pela ordem natural das coisas, está incumbida da multiplicação do gênero humano, e da formação e educação dos homens.
Agora, como isto diz respeito intimamente aos Mandamentos da Lei de Deus, os homens se salvarão se eles andarem bem, eles se perderão se eles andarem mal; também, em larga medida nesta matéria. E que haja uma organização de família, exemplar, que torne ao homem atraente e convidativo ser virtuoso, que lhe torne difícil e penoso ser ruim, é o modo de favorecer a salvação. E por isso é que nós queremos a família, fora da qual a gente só se salva se tem um celibato entregue a Nossa Senhora!
Ou um celibato virtuoso e casto, que a pessoa fica esperando e acaba não se casando. Mas, um celibato virtuoso e casto. Fora disto, fora do celibato virtuoso e casto, a pessoa não se salva, a não ser no casamento. O concubinato, as ligações imorais que se vêm por aí, são caminho para o inferno! O divórcio é um caminho para o inferno! Porque o homem deve casar-se uma só vez, com uma só mulher. O vínculo do casamento só se extingue pela morte. E por causa disso, instituir o divórcio é facilitar separações e uniões ilegítimas, e portanto, trabalhar para a perdição das almas.
Como a propriedade: está baseada em dois Mandamentos. Não roubarás, não cobiçarás os bens alheios. Por causa disso se mantém a propriedade, nós lutamos para que as almas se salvem por meio da propriedade individual.
O mesmo se poderia dizer da Tradição e de tudo o mais. A finalidade última é a salvação.
Então, nós temos que na vida dos homens na terra, há duas sociedades. Uma sociedade que se chama o Estado. Os senhores ouvem falar em países. Cada país é um Estado. Simplificando um pouco as noções. E assim os senhores ouvirão falar, por exemplo, do Brasil, da Venezuela, do Canadá, da Inglaterra, tatátá, são Estados.
Qual é a finalidade destes Estados? É organizar a vida terrena bem. Com finalidade última de salvar as almas.
Qual é a outra sociedade? Cada Estado ocupa um território e abrange um povo. Às vezes um Estado ocupa vários territórios e abrange vários povos. Não há um Estado que abranja todo o mundo, toda a terra e abranja todos os povos. Isto não existe. Mas, existe uma organização que abrange toda a terra e todos os povos. Esta organização é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Agora, nesta obra essencial da salvação, que dá o sentido da história, em que medida os homens praticaram mais ou menos a virtude, as suas instituições refletiram mais ou menos o espírito da Igreja, em que a medida elas facilitaram as instituições ou prejudicaram a salvação, em que medida as leis, os costumes, os ambientes, etc., prejudicaram ou facilitaram a salvação.
Bem, no Estado as coisas devem ser feitas para criar condições para a salvação. Mas, o Estado não salva. Quem salva é a Igreja. Porque a obra da salvação foi confiada à Igreja.
Então, o que é que vem a ser a Igreja Católica Apostólica Romana? A Igreja Católica Apostólica Romana é constituída por aqueles que professam, quer dizer, que creem e declaram que creem – não basta, portanto, crer mas não declarar, não basta declarar mas não crer – é preciso crer e declarar que crêem em toda a doutrina ensinada pela Igreja Católica Apostólica Romana. É o primeiro ponto.
Normalmente estes devem praticar os Mandamentos e devem frequentar os Sacramentos. Para eles crerem, eles têm uma Mestra que lhes ensina o que devem crer e se eles não crerem, eles perderão a sua própria alma. Se eles crerem, eles serão salvos.
Quem é que dá aos homens este ensinamento mediante o qual eles creem nesta verdade que salva? É a Igreja. A Igreja é que ensina. Nós, homens, somos os discípulos. A Hierarquia dentro da Igreja ensina; nós recebemos o que a Hierarquia diz, aceitamos como verdade, porque ela tem a missão de nos ensinar, cremos nela e nos deixamos guiar por ela. Este é o papel da Hierarquia.
A Igreja o que é? É a sociedade feita por aqueles que ensinam e pelos que são ensinados. É a primeira noção.
Mas, a Igreja não se limita a ensinar, ela governa, Ela guia. A Igreja dá diretrizes aos homens para a sua salvação: “façam assim, não façam assado, por exemplo, compareçam à Missa uma vez por semana; confesse-se uma vez por ano, comungue uma vez por ano, façam jejuns em tais dias. Eu dou indulgências, diz a Igreja, para quem praticar tais atos. Eu puno com tais penalidades para quem praticar outros atos!”
Tudo isto diz respeito ao que? Ao poder que a Igreja tem de governar os homens, de maneira tal que eles cheguem até à salvação. Então, a Igreja aqui já não é vista apenas como Mestra, mas é vista como Mãe. A Mãe em relação aos seus filhos, guia, governa para levar os filhos para o seu normal desenvolvimento. A Igreja guia as almas, e governa para que as almas atinjam a sua salvação.
Mas, isto não basta. A Igreja ensina, a Igreja governa. A Igreja tem uma outra missão: a Igreja santifica.
Como é a ação santificante da Igreja?
É algo de sobrenatural, como é a ação de ensinar e como é a ação de governar. E sobre isto, nós, embora seja muito tarde, faremos um pequeno parêntese para explicar algo. Se os srs. tomarem qualquer homem – os senhores imaginem um homem mais dotado de boas disposições que tenha nascido sobre a face da Terra. Os senhores tomarem esse homem e mostrarem para ele os Dez Mandamentos, esse homem pode se entusiasmar e dizer: eu vou cumprir. Mas, em virtude do pecado original, todos os homens ficaram tão ruins, que é inútil: nem mesmo esse homem privilegiado cumprirá na totalidade e de modo durável os Dez Mandamentos. Ele fracassa, e ele peca nesse ponto, naquele, naquele outro ponto.
Porque o homem tem uma tendência enorme para o mal, que lhe vêm do pecado original, e que vem do demônio que tenta o homem. E arrasta o homem, convida o homem para o pecado. Então, é preciso uma ajuda sobrenatural para que o homem consiga praticar os Mandamentos, para que o homem consiga praticar todas as virtudes necessárias a ir ao Céu. Ele precisa ter uma ajuda sobrenatural.
O que é esta ajuda sobrenatural? É a graça de Deus. O que é a graça de Deus? É um verdadeiro mistério, mas um mistério maravilhoso! Essa graça estava fechada para os homens, antes de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em consequência do pecado original não havia graça para os homens. Nosso Senhor morrendo, conseguiu a graça para os homens. O que é essa graça? Deus cria uma participação, um dom para os homens, o qual dom participa da própria vida de Deus. É uma coisa misteriosa, mas é como uma centelha que explode, que estala de dentro do próprio Deus e que leva o fogo de Deus… para dar uma comparação claudicante.
Assim também é a graça. Da superabundância da vida de Deus, Deus cria – é uma coisa nova – uma participação. E esta participação atinge o homem. Penetra na alma do homem, e eleva o homem, dá ao homem um grau de vida a mais do que o homem normalmente tem.
Nós temos em nós a vida vegetal, a vida animal, e a vida humana, dada pela alma humana. Penetra em nós esta participação da vida divina. Que essa sim nos dá a clareza de espírito necessária para crer. Nos dá a força de alma necessária para obedecer e cumprir os Mandamentos, cumprir as ordens da Igreja. Esta graça é a distribuição da graça, é a ação santificante da Igreja. O mundo seria uma jungle (selva) horrível, seria o mais sinistro campo de concentração se não fosse a graça! É pela graça que a vida é digna de viver.
Os senhores imaginem aqui, agora nesse instante – que Deus nos livre! – nós cessássemos de ter a graça, se isto que Deus nos livre acontecesse, os senhores o que é que sucederia? A reunião não terminaria. Todos nós sem exceção de nenhum, sem exceção de mim, sem a graça suspenderíamos a reunião em pouco tempo e cada um ia para seu lugar.
Daí a pouco, de um modo ou de outro, conforme a idade e as circunstâncias, estavam todos pecando! Pecando mais ou pecando menos, mas estavam todos pecando! E esta reunião que se faz num ambiente de virtude, se terminaria no horror. A reunião só não se dissolveria se ela degenerasse. Porque então encontraríamos aqui ocasião de pecado!
Esta graça o homem a recebe como? Recebe das mãos da Igreja, notadamente pelos Sacramentos. Quer dizer, os Sacramentos, o Batismo, a Confissão, a Comunhão, a Extrema–Unção etc., são meios espirituais pelos quais a graça entra na alma do homem. A graça, o homem pode receber também na oração privada. Rezando Padre Nosso, Ave Maria, Rosário, a graça penetra nele. Mas, a graça é dada, ela habita normalmente na Igreja, ela é dispensada de modo sumo, do modo mais perfeito, é a missão da Igreja dispensar esta graça, e sem esta graça a vida humana seria um verdadeiro horror.
Então, a Igreja tem a obra da salvação. Porque é Ela quem ensina o que a gente precisa saber para salvar. Ela é que governa, de maneira que a gente se salve de fato. E ela é que nos obtém as forças necessárias para nós nos salvarmos. Ela é a Igreja docente; ela é a Igreja que rege, que governa; ela é a Igreja que santifica.
Bem, então, nós podemos aí ver a beleza da missão da Igreja. A Igreja é o centro de tudo. Para Ela devem convergir as atenções de todos, o amor de todos, o entusiasmo de todos. Porque se a Igreja é reconhecida por todos como deve ser, todos praticam os Mandamentos, todos têm a Fé, todos se santificam, tudo floresce no mundo! E as almas se salvam!
Se, pelo contrário, a Igreja não é vista como Ela deve ser, o que acontece? Em pouco tempo as almas se perdem. Quer dizer, a Igreja é o centro da Terra. E para o amor à Igreja e ao serviço da Igreja devem viver todos os homens!
Está claro?
Bem, então, agora o que é o Papa dentro da Igreja? O Papa é o Vigário de Cristo, o representante de Cristo na Igreja, o máximo representante de Cristo na Igreja é o Papa. E a ele cabe em grau eminente, aquilo que os outros podem ter de algum certo modo.
Por exemplo, o ensino. O Papa é o mestre dos mestres. Isto quer dizer que só o papa ensina na Igreja? Não quer dizer isso, mas quer dizer uma outra coisa: a infalibilidade da Igreja pertence – a Igreja é uma organização muito delicada e muito matizada. A infalibilidade da Igreja pertence ao Papa, pertence aos Concílios, e de algum modo pertence ao povo. Quer dizer, o que sempre, em todos os lugares, todo o povo fiel acreditou como verdadeiro, não pode ser errado. A misericórdia divina não permitiria que todos os católicos caíssem em erro.
De maneira que quando se demonstra que em determinada época da vida da Igreja, todos os católicos acreditaram numa determinada coisa, isto equivale a uma afirmação infalível de que esta coisa é verdadeira.
A Igreja não é só infalível assim, mas Ela é infalível também quando se reúnem todos os seus bispos para um Concílio. É infalível. O que é um concílio? É a reunião de todos os bispos para ensinar, para governar e para tratar de assuntos da santificação. Mas, o concílio só é concílio quando ele é convocado pelo Papa. Um concílio não convocado pelo Papa não é concílio. Não tem infalibilidade, não tem nada. Se o Papa se retira do concílio, o concílio deixa de ser concílio.
E o sustentáculo do concílio é o Papa. De tal maneira que um Papa pode, por exemplo, convocar um concílio para decidir um determinado ponto de Fé. Ele vê que o concílio está muito atrapalhado, ele diz: “Está bem, eu vou decidir sem vós, é assim!”
Mas, se o concílio disser ao Papa: “Nós vamos decidir sem Vós”, o Papa tem o direito de responder: “Quem sois Vós?” Se eles disserem: “Nós somos o Concílio”, a resposta do Papa é: “Sem mim, não há concílio! Vós não sois nada! Ide!”
O que o concílio só pode com ele, ele pode inteiramente sem o concílio. E assim, por isso, ele pode abrir o concílio, pode encerrar o concílio, pode suspender o concílio, ele pode fazer o que entender, porque ele paira acima de todos na Igreja Católica.
Este poder de ensinar, o Papa o exerce, portanto, no mais alto grau. O poder de governar ele também o exerce no mais alto grau. O poder de governar toca aos párocos, toca também aos bispos, mas é na medida em que estão sob a autoridade do Papa. Se um bispo rompe com o Papa, ele perde o seu poder. Um Bispo de qualquer diocese – diocese “x” – rompe com o Papa – eu conheci este caso infeliz. Um bispo de Botucatu, em São Paulo, chamava-se Dom Carlos Duarte da Costa.
Ele começou a ensinar umas heresias, há uns 30 ou 40 anos atrás, ele começou a ensinar umas heresias, a Santa Sé muito clementemente mandou avisar a ele, e o tirou da diocese, mas não excomungou. Ele insistiu nas heresias, a Santa Sé disse a ele: “Se continuar, excomungo”. Ele continuou, excomungou!
Qual é o poder dele sobre os homens depois disso? Nada! Está pulverizado! Não é nada! Ele nem ensina, nem governa. Os senhores dirão: “Bom, mas ele santifica, porque ele celebra a Missa”. Não. Não se pode ir à missa dele para receber essa santificação. É pecado. Ele peca celebrando, e os que estiverem lá sabendo que ele é um bispo cismático, pecam assistindo. Acabou. Rompeu com o Papa, rompeu com tudo.
Então, nós vimos que a direção suprema é do Papa, e que as direções subordinadas só têm um sentido na medida em que elas estão ligadas ao Papa, estão sob dependência do Papa. A santificação nós acabamos de ver. Os próprios sacramentos…, a I.O. (igreja dita ortodoxa, ou greco-cismática) tem os sacramentos.
Por exemplo, quando nós passamos em frente à uma Igreja da IO Nem olho! É a I. O.
Por que isto? Está rompida com o Papa. É uma coisa bonita na avenida Tiradentes, há uma igreja, o Convento da Luz que os senhores conhecem; pouco abaixo há uma igreja de São Gregório Iluminador, do rito armênio. Nós passamos em frente, inclinamo-nos; eu que estou de chapéu, tiro o chapéu. Outro dia a igreja estava aberta, entrei para visitar, rezei diante do Santíssimo Sacramento. Por quê? Porque está unida ao Papa.
Mais ou menos em frente há uma outra igreja IO. O sr. Gugelmin tem a recomendação de passar depressa em frente! Única e exclusiva razão: não está unida ao Papa!
Ele é o tronco por onde vem toda a seiva! Ele está no centro da salvação. Ele é aquele unido ao qual os homens se salvam. Aquele, rompendo com o qual, os homens se perdem. Não há, portanto, quem esteja mais alto na terra do que um Papa. E não há coisa mais bela, do que amar o Papa, venerar o Papa, servir o Papa.
Nesse sentido, houve no século passado uma coisa muito bonita, a respeito da qual os historiadores – não os historiadores do Papado, mas os historiadores que falam da História geral, quase não falam – houve uma espécie de Cruzada no século passado para defender o Papa. E o que os historiadores dizem menos ainda, é que desta cruzada fizeram parte vários sul-americanos, e entre esses sul-americanos alguns brasileiros!
Como foi isto? O Papa era rei da cidade de Roma e de territórios circunvizinhos. E o rei Vitório Emanuel, e um general de opereta, chamado Garibaldi que o servia, resolveram conquistar Roma e arrancá-la ao Papa. Vieram católicos do mundo inteiro defender o Papa! Eram os chamados “zuavos pontifícios” que lutaram heroicamente. Eles eram poucos numerosos, mas sobretudo na famosa batalha de Castelfidardo, eles infligiram aos maçons e ateus do rei Vitório Emanuel e Garibaldi, uma derrota esmagadora.
Depois as circunstâncias evoluíram, e o Papa acabou perdendo o reino de Roma. Mas é uma das belas manifestações de amor ao Papado.
Agora, há uma manifestação mais bela de amor ao Papado? Essa manifestação, a TFP foi chamada a fazer! Os senhores a encontram num documento chamado a “Declaração de Resistência” de que eu vejo que os senhores já têm conhecimento. E nesse documento está dito que nós resistimos à “ostpolitik” vaticana (diplomacia para com os países comunistas, n.d.c.); porque consideramos que nessa “ostpolitik” o papado, que nesta matéria não é infalível, na matéria diplomática não é infalível, que o papado está adotando uma linha diplomática que deixa trucidar as hostes católicas pelo comunismo.
E tem uma expressão que é mais ou menos assim: “Santo Padre, nossa pessoa é vossa, nossas almas são vossas. Mandai tudo o que quiserdes que nós faremos. Só não nos mandeis uma coisa: é que cruzemos os braços diante do lobo que investe.”
Os senhores entendam, portanto, bem, o que é que significa a nossa posição de fidelidade ao Papado, e nossa posição de lamentar coisas que se passam com o Papado, mas lamentar com amor, por amor ao Papado. Nunca é como quem não o ama e objeta contra ele. Mas é quem objeta a ele, por que nós o amamos tanto, que queremos para ele mais do que aquilo que ele obtém para si próprio. Este é o sentido da nossa Resistência: é a dedicação levada até o último ponto. E que não só resiste contra o adversário, mas resiste contra o próprio pai, quando o pai declara: não reajam contra os que estão tocando fogo na casa!
Aqui os senhores têm, meus caros, um elenco dos esplendores e das maravilhas do Papado. Se não houvesse um supremo hierarca na Igreja, toda a Igreja se desfaria, toda Ela seria um caos, a salvação seria impossível. Tudo isso se evita, porque há um Papa; tudo isso se consegue de bom porque há um papa. O Papa é o ponto central de toda a vida dos homens. E para ele deve ir todo o nosso entusiasmo e todo o nosso amor.”
Plinio Corrêa de Oliveira
556 artigosHomem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".
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