Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação
Logo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Instituto

Plinio Corrêa de Oliveira

Ajude a financiar a Semana de Estudos e Formação Anti-Comunista 2025

O Rei do Brilho

Por Gregorio Vivanco Lopes

4 minhá 9 anos


Passo com frequência pela paulistana Praça Oswaldo Cruz, região central da cidade, onde começa a Av. Paulista, e sempre noto ali a presença de um engraxate, que acrescenta a seu honrado ofício uma inegável nota de pitoresco.

Apesar de a praça ter sido invadida ultimamente pelos camelôs do Haddad, barraquinhas improvisadas vendendo tudo e mais alguma coisa, incluindo churros, picanhas, refrigerantes e o que mais se queira, o interessante engraxate ali permanece em busca de ganhar honestamente o seu pão de cada dia.

Antes da invasão da praça promovida pelo Prefeito, ele se instalava todas as tardes junto a um canteiro coberto de vegetação, onde exercia seu humilde mas digno ofício à vista de todos.

Agora, foi relegado a uma posição quase escondida em meio à proliferação de tendas, algumas delas desdobrando-se em mesinhas portáteis, e da balbúrdia produzida naquela espécie de circo romano, onde alguns buscam algo que comer, outros visam preencher a ociosidade, outras enfim a ostentar sua semi-nudez e seu despudor.

Está ele ali às tardes, acompanhado da característica cadeira elevada, para os fregueses; posiciona adequadamente sua caixa de engraxar e estende um pano, já enegrecido pelo uso, sobre o qual esparrama considerável número de sapatos, chinelos, botas e outros que tais, como a indicar um trabalho afanoso que o aguarda.

Rei do brilho 1Indiferente à balbúrdia agressiva que o cerca, ele coloca um anúncio bem visível junto a seus apetrechos: O Rei do Brilho [foto]. Em letra menor, acrescenta que, além de engraxar, ele faz qualquer coisa do ramo: pequenos consertos, pintar sapatos, etc. Cada vez que por ali passo, não deixo de olhar com atenção a cena, pois é uma nota de pitoresco autêntico que descansa a mente do barulho infernal dos ônibus, carros e motos que aceleram sem cessar, das lojas sofisticadas, das modas extravagantes dos passaantes e da inautenticidade de certos mendigos que povoam a praça.

Num desses dias, não me contive e parei para conversar um pouco com o “Rei do Brilho”. Ele se dignou receber-me em audiência, mostrando ser de temperamento afável, serviçal, sem nada dessas revoltas classistas que caracterizam o ideário petista de viver, estando contente com sua “realeza”. Até me passou pela cabeça perguntar-lhe por que não se intitulava “o presidente do brilho”, mas felizmente me contive. Ele certamente não entenderia a pergunta, e me qualificaria de pedante.

Refletindo com meus botões, porém, lembrei-me de que não é só na classe humilde que encontramos “reis”, mas também nas dos endinheirados, como é o caso do “rei da soja”, “rei do aço” e outras “majestades” do gênero. E dei-me conta de que a ideia de realeza vincou fundo as almas de pessoas de todas as idades, raças e condições sociais, como sendo um paradigma, ao mesmo tempo elevado e benfazejo, de poder, uma espécie de imagem de Deus na Terra.

Contra essa ideia recôndita sopraram, ao longo dos últimos séculos, revoluções de todo tipo, propagandas republicanas, ateias, laicas, igualitárias e tudo o mais que o leitor conhece. Mas, à maneira das pirâmides egípcias que enfrentam altaneiras as tempestades de areia e o impacto dos milênios, a imagem da realeza se manteve nas mentes humanas como sumamente aprazível, acolhedora, nobre, paterna; e ao mesmo tempo que ela participa do que há de mais sublime, curva-se reverente e bondosa para acariciar o último de seus súditos. Daí o fato de que o prestígio de ser “rei” continua a estadear-se com desembaraço diante dos homens do século XXI, independente do fato de ter havido reis melhores e piores, alguns santos, outros perversos, como tudo o que é humano.

De Luís XIV ao “rei do brilho” há um abismo. Mas sobre esse abismo a Igreja e a civilização cristã lançaram uma ponte de comunicação, feita de caridade, de compreensão, de afabilidade e de apoio. A Revolução igualitária busca destruir essa ponte para reduzir tudo a uma infame luta de classes, baseada no ódio.

O meu amigo engraxate não se deixou picar pela mosca venenosa desse ódio. É o que nele mais admiro.

Detalhes do artigo

Autor

Gregorio Vivanco Lopes

Gregorio Vivanco Lopes

173 artigos

Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

Categorias

Esse artigo não tem categoria

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados