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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

“A desigualdade tem limites. A igualdade também”


Veja esta: associações de intépretes e tradutores se organizam para ir à Câmara, em Brasília, para alterar decreto que os qualifica como serviço comum, a exemplo de jardineiros, garçons, etc.1 Igualitarismo puro do decreto, equiparando trabalhos de níveis obviamente diversos.

Digamos que uns e outros se dediquem com o mesmo esforço –, os de nível melhor, e os mais simples — seria ou não uma injustiça não lhes dar o mesmo salário? Garçons e jardineiros fazem considerável empenho físico, ao passo, que os intépretes e tradutores não. Não entraria aí um preconceito contra garções e jardineiros, que em tese poderiam ser, inclusive, analfabetos? Se for um preconceito, ele atinge também as mais altas esferas, a começar pela presidente e seus ministros.

Vejamos uma das fontes das desigualdades. O princípio do Evangelho, de que devemos amar o próximo como a nós mesmos, nos obriga a amar todos os homens porque nos são próximos. E, pois, ele nos preceitua particular amor para com os mais próximos. Ora, para cada homem, o mais próximo é ele próprio e sua família. Assim, é razoável que, sem recusar aos outros justiça nem caridade, cada um se beneficie em medida muito mais larga a si e aos seus, com o produto de seu trabalho.

Helio Schwartsman2 fornece alguns exemplos do que se deve entender por próximo: “Se mães não protegessem suas crias, mamíferos e aves seriam inviáveis. Esse pendor simplesmente não combina com as exigências republicanas que nos impomos”, ocasionando paradoxos. Prossegue:

“Acertadamente, condenamos o juiz que contrata parentes para seu gabinete, mas também recriminamos o empresário de sucesso que deixa de empregar seu irmão necessitado. Uma igualdade estrita exigiria que eu dê a meu filho o mesmo valor que atribuo ao filho de um desconhecido e que dispense ao mendigo o tratamento que concedo a um amigo. Para Stephen Asma, em Against Fairness,éticas centradas na igualdade têm algo de profundamente desumano”.

Para o mesmo autor , os seres humanos estamos biologicamente programados para favorecer os próximos. “O amor é discriminatório”, afirma ele. E num certo sentido, é mesmo. Uma idéia raramente expressa, mas óbvia como muito do que se diz a respeito da desigualdade.

Caridade bem ordenada começa por si mesmo. Prima caritas incipit a seipso.

Expondo a questão da desigualdade para um importante Congresso Norte-Americano, assim se pronunciou Plinio Corrêa de Oliveira: “Dois marcos simétricos confinam o tema. É certo que a desigualdade deve ter limites. Certo é também que a igualdade os deve ter”.

Seja-me dado dizer que os limites da desigualdade estão traçados na própria natureza humana. Isto é, por serem naturalmente inteligentes e livres, os homens – todos os homens – têm uma dignidade comum que deles faz reis do Universo.

Debaixo desse ponto de vista, todos os homens são iguais. E o que reduza, de qualquer maneira, no homem essa dignidade fundamental e nativa, essa igualdade natural e radical, o mutila, amesquinha e ofende”.

Mas sucede que, além dessas qualidades básicas, os homens são dotados de inúmeras outras, que variam entre si como que ao infinito, também pelo simples fato de serem homens”.

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1 – Sonia Racy, Direto da Fonte. FSP 6-3-2014.

2 – “Questão de Igualdade”, por Helio Schwartsman em Folha de S. Paulo, 11 de agosto de 2013; Stephen Asma, em Against Fairness, citado pelo primeiro.

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Leo Daniele

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