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Nas cavernas da miséria venezuelana

Por Luis Dufaur

5 minhá 9 anos


Marcados como animais para conseguir farinha de milho em Barquisimento
Marcados como animais para conseguir farinha de milho em Barquisimento.

Há meses e de modo rotineiro, a família de Álida González tem que ficar sem almoço. É a inflação, a escassez crônica de alimentos… a lista das desgraças cresce e se repete dia após dia no maravilhoso mundo do “socialismo do século XXI” tão ao gosto do lulopetismo.

Álida é dona de casa, tem 65 anos e precisa alimentar quatro familiares. Ela só consegue cortando as proteínas, como as carnes de frango e de porco, e aumentado o consumo de carboidratos, com um desequilíbrio sensível na constituição física de sua família, escreve “La Nación” de Buenos Aires.

“Comemos menos, conta ela. A situação está tão apertada, que com o mesmo com que antes eu comprava para o café da manha, o almoço e o jantar, hoje só dá para um café da manha incompleto”, contou ela em sua modesta casinha no bairro de Petare, em Caracas.

O presidente Maduro fica apegado ferrenhamente ao socialismo e ainda pretende defender a democracia em perigo no Brasil.

As redes públicas de distribuição de alimentos subsidiados claudicam. Entre agosto e setembro de 2015, três das principais universidades do país constataram que 87% dos venezuelanos não tinham entradas suficientes para compara os alimentos habituais.

Maduro ordenou aumentar em 30% o salário salário mínimo integral, que inclui bolsa para comida, enquanto a cesta alimentar para uma família média custava 100 salários mínimos.

“As fibras não existem, o consumo de frutas e hortaliças é escasso. O ovo e o feijão desapareceram da mesa dos mais necessitados. É uma dieta de sobrevivência”, disse Marianella Herrera, da Fundación Bengoa, instituição nutricional sem finalidade de lucro.

Mas o governo sustenta que quando Chávez chegou ao poder o consumo de calorias cresceu 37%, garantindo três refeições diárias para 95% da população e erradicando a desnutrição.

“Já não comemos nem o básico para ter saúde”, disse a dona de casa Nancy Morales, 40, enquanto fazia fila num mercado estatal num bairro popular de Caracas.

No supermercado Unicasa, no bairro de Cumbres Curumo de classe média alta, Caracas, a notícia da chegada de leite em pó gerou instantaneamente filas para conseguir 4 pacotes o máximo permitido
No supermercado Unicasa, no bairro de Cumbres Curumo de classe média alta, Caracas, a notícia da chegada de leite em pó gerou instantaneamente filas para conseguir 4 pacotes o máximo permitido.

Inquérito da empresa privada Datanálisis registrou que 82% dos produtos alimentares faltavam em Caracas.

Segundo a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk e a escola venezuelana de gerência IESA, quase dois milhões de venezuelanos sofrem diabetes. Os níveis de saúde também se degradam por causa dos sintomas de angustia gerados pela crise económica, a criminalidade e as constantes interrupções dos serviços básicos, especialmente água e energia elétrica.

Gloria Fernández contou ao jornal “Clarin” que na sua cidade, San Cristóbal, capital do estado de Táchira, o racionamento de energia, água e comida é ainda pior que em Caracas.

“Não avisam que vão cortar nem as quatro horas diárias nem quando. E cortam das 6 da manhã até meia-noite. É uma loteria”.

Os moradores do interior precisam ir a Caracas para recorrer aos ministérios ou órgãos públicos. Mas Maduro decretou que por falta de energia nos órgãos públicos só se trabalhará dois dias por semana, aumentando o calvário dos venezuelanos que vivem no interior.

A filha de Gloria Fernández, de 9 anos fazem as tarefas escolares à luz de vela. E as escolas, por economia, têm que fechar às sextas-feiras.

A Polar, a maior empresa venezuelana de alimentos, está a ponto de fechar porque o governo não lhe permite adquirir moeda estrangeira para importar insumos. A Polar anunciou a interrupção da produção de cerveja – a mais consumida do país – por falta de matérias-primas.

A combination photo shows the contents of peoples fridges in Caracas, Venezuela April 2016. The combination of Venezuela's sky-rocketing prices and chronic product shortages have left many struggling to put regular food on their tables and maintain a balanced diet. Amid a severe recession and dysfunctional state-run economy, poorer families say they are sometimes skipping meals and relying more on starch foods. According to one recent study, 87 percent of Venezuelans say their income is now insufficient to purchase their food needs. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins SEARCH
Fotógrafo flagrou o que está ficando na geladeira dos venezuelanos típicos. Itens corriqueiros como refrigerantes há tempo desapareceram.

Supermercados e shoppings abrem às 12 horas e fecham às 18. Lojas e restaurante apelam para as velas.

Segundo os sindicatos industriais, a capacidade manufatureira caiu mais de 50%. A maioria das empresas e lojas comerciais já fechou. Os desempregados só têm como último recurso a economia informal.

Os centros hospitalares também restringiram os atendimentos por falta de eletricidade, mas os critérios são extremamente confusos porque a empresa elétrica nacional corta sem aviso prévio. Os consultórios médicos marcam atendimento sem data nem hora.

A prima de Tibisay Urdaneta é cabeleireira, mas tem restringido o uso de secador de cabelo. Utiliza truques com ar natural, mas o resultado não é igual.

A esperança é o referendo revogatório que, nas condições atuais, tiraria Maduro do cargo. Uma espécie de impeachment eleitoral.

Mas Maduro já externou sua vontade de impedir esse referendo, apesar de o Exército ter anunciado que não executará ordens do presidente nesse sentido.

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Luis Dufaur

Luis Dufaur

1043 artigos

Escritor, jornalista, conferencista de política internacional no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, webmaster de diversos blogs.

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