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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

O repouso do guerreiro

Por Gabriel J. Wilson

3 minhá 14 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:32:58 PM


Saint Guilhem le Désert

A França, como muitos países da Europa, é semeada de incontáveis aldeias. Muitas são célebres pela beleza. Mas a maioria delas participa, em grau maior ou menor, das qualidades que conferem às aldeias francesas um encanto particular. Admirador ímpar da França católica de outrora, tanto a medieval quanto a do Ancien Régime, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira comprazia-se em elogiar os frutos da civilização e da cultura ali produzidos.

Uma dessas aldeias encantadoras – embora não seja das mais conhecidas – chama-se Saint Guilhem le Désert, situada numa região de penhascos escarpados, gargantas profundas e grutas misteriosas e maravilhosas, não longe de Montpellier, capital do Languedoc, no Sul da França.

São Guilherme do Deserto (chamemo-la assim em português), erigiu-se em torno de uma antiga abadia, na confluência de dois rios – Verdos e Herault – entre gargantas profundas num vale de escarpas abruptas, dominado pelas ruínas de um castelo no alto da montanha. Esclareçamos desde já que o “deserto” não se refere à ausência de vegetação, que existe, mas à solitude do lugar.

E o “São Guilherme”, quem é?

Nascido em 752, é um neto, por via materna, de Carlos Martel, o vencedor da batalha de Poitiers, em 732, contra os mouros invasores, já senhores da Espanha. Guilherme é educado com os filhos de Pepino o Breve. Especial amizade o liga a um deles, o futuro Carlos Magno, de quem é companheiro de armas.

Com a ascensão deste ao trono imperial, em 768, o jovem Guilherme destaca-se nos feitos militares: conquista a Aquitânia, vence os sarracenos em Nîmes, Orange e Narbonne e recebe o título de príncipe de Orange. Vai para a Catalunha e trava sua última batalha em Barcelona. Quando volta à França com 48 anos. Sua esposa está morta… A dor e a desilusão o golpeiam.

Imagine-se o que terá representado toda essa movimentação, num tempo em que os exércitos se deslocavam a pé ou no lombo de cavalos. Em suma, o guerreiro, farto de glória e poder, quis o repouso. E foi pedir ao grande Carlos licença para retirar-se da vida ativa.

Entretanto, Carlos quer conservar junto de si o amigo de infância e o faz seu conselheiro. Guilherme o acompanha a Roma, para a cerimônia de coroação, no ano 800. Na capital da Cristandade nascente, o Imperador recebe de presente um pedaço de três polegadas da verdadeira Cruz onde Nosso Senhor foi crucificado. A relíquia fora depositada por Santa Helena na igreja de Jerusalém.

De volta à França, Guilherme passa pelas terras em torno de Lodève e penetra no vale de Gellone. A beleza selvagem desse recanto perdido convida-o a fazer ali o seu retiro. Constrói um mosteiro e instala-se com alguns monges. Funda-se assim a abadia de Gellone, em torno da qual veio a formar-se a aldeia.

Em 806, Carlos Magno envia a Guilherme a preciosa relíquia, venerada publicamente duas vezes por ano, nos dias 3 de Maio e 14 de Setembro, festas da Invenção e da Exaltação da Santa Cruz. O guerreiro podia agora recolher-se à paz do claustro, depois de uma vida de intensos combates.

Restava-lhe, porém, um inimigo. Dominando o vale e a abadia, dissemos, havia um castelo. Seu dono era um certo Don Juan, temível gigante sarraceno vindo das bandas de Espanha, que aterrorizava os habitantes da região com suas más ações. Talvez por isso o nome Dom Juan foi mais tarde associado ao libertino imortalizado pela literatura.

Guilherme, em hábito de monge, desafiou-o a um combate em campo fechado. Hábil no manejo das armas, o monge-guerreiro trespassou o gigante com um golpe de espada. O guerreiro podia agora recolher-se à paz do claustro, para terminar sua vida de penitência e oração em 812 da era cristã. Um século mais tarde, a aldeia de Gellone adotava o nome de São Guilherme do Deserto.

Assim eram os heróis numa época de fé e de valor.

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Gabriel J. Wilson

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