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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Família, estirpes, hereditariedade na Idade Média


Apresentamos a nossos leitores um trecho da conferência do Prof. Plinio sobre as estirpes na Idade Média. O papel fundamental da família na formação da sociedade. O socialismo inverte a ordem natural das coisas e coloca o Estado acima da família. A estirpe não é privilégio das classes altas, pelo contrário ela está disseminada em todo o corpo social.

“A família é a instituição de ordem natural, fundada num sacramento, incumbida da perpetuação da espécie humana e da educação da prole. É uma instituição que tem, portanto, como obrigação o desenvolver e educar ao máximo a personalidade humana. Ela cumprirá perfeitamente sua missão se fizer com que todas as qualidades do corpo e da alma, daqueles que dela nasceram, se expandam e se afirmem completamente. Ora, para isso ela é dotada de qualidades que são extraordinárias.

* As forças misteriosas da hereditariedade

“Pio XII, num discurso à nobreza romana, fala das forças misteriosas da hereditariedade. São, de fato, misteriosas, pois que até hoje os biologistas não conseguiram definir satisfatoriamente as regras que presidem a hereditariedade; mas ela é um fato, e muito importante, constatado sob mil aspectos diversos.

 “Cada homem traz dentro de si várias hereditariedades. Somos a resultante biológica de um sem número de correntes de vida que vieram ter em nós o seu ponto de encontro. Assim como numa lagoa existem águas de diversos rios que nela desembocam, assim existem em nós essas hereditariedades. Somos recipientes em que várias correntes do passado se fundem.

“A hereditariedade física, em primeiro lugar, que se atesta pela semelhança dos traços, pela transmissão da saúde e dos defeitos, da beleza e da feiura, da graça ou do emburramento, da elegância ou do desengonçamento; tudo são hereditariedades. Conhecemos certas famílias que timbram pelo bom gosto no trajar-se; outras, pelo mau gosto. Assim, por exemplo, a família Guermantes-Courvoisier, de Marcel Proust, que estava sempre na penúltima moda…

“Tudo isto, embora muito relacionado com a hereditariedade física, o está ainda mais com a mental.

“Deus cria as almas para os corpos, e cada uma é criada com uma adequação para um determinado corpo. Assim, havendo uma hereditariedade física, Deus a respeita, criando almas hereditariamente semelhantes aos corpos que irão nascer. E, se bem que a alma não seja transmitida dos pais para os filhos, mas infundida por Deus, há uma continuidade na Sua obra. Assim, pode-se atestar numa mesma família uma série de disposições de alma, puramente espirituais, mas também ligadas a este fenômeno da hereditariedade.

“Temos então uma realidade que na família atravessa gerações: a transmissão de um conjunto de predicados físicos e morais. Essa transmissão é o primeiro núcleo daquilo que se chama tradição. “Tradere” significa entregar; é o que se transmite, o que se entrega. O primeiro dado da tradição é a transmissão de caracteres físicos e morais.

* A hereditariedade e o ambiente

“Esta transmissão de caracteres físicos e morais é acentuada pelo ambiente. Suponhamos que eu, que tenho uma inclinação natural para a advocacia, tendo sido educado numa família de advogados, fosse transplantado artificialmente para uma de financeiros, que entende de preço de sapatos, qualidade de graxas, alta dos couros, etc. Eu teria me tornado um ser meio engarrafado. Porque as aptidões naturais que em mim jazem em estado germinativo teriam ficado sem a possibilidade de se expandir.

“No momento em que eu quisesse fazer um rodeio de frases bem feito, uma argumentação sutil, não encontraria nas graxas e nos sapatos matéria para tal. E precisaria conversar e interessar-me pelas graxas, ficando meio contaminado pela sujeira. O resultado é que eu poderia talvez até dar um bom comerciante de graxas; mas haveria algo de irremediavelmente trincado em minha pessoa. As forças profundas de minha hereditariedade pediam que eu fosse advogado, intelectual; as circunstâncias da vida teriam esmagado este apelo do meu ser, e me imposto uma personalidade artificial.

“Como, pelo contrário, fui educado numa família de advogados, os meus pendores naturais tiveram expansão, e pude realizar-me; tudo o que em mim havia em estado germinativo, desabrochou, floresceu, e realizou o pouco que podia realizar.

“Num ambiente de família onde existe, pois, hereditariedade de alma, de corpo e de atmosfera moral, encontramos todo um ambiente espiritual que acentua o efeito da hereditariedade, obrigando a pessoa a dar absolutamente tudo quanto tem.

“Mas a hereditariedade é uma força cheia de mistérios. Tem exceções, até berrantes; é o próprio dela ter exceções. As vezes até gloriosas: há homens que brilhantemente rompem a crosta das disposições familiares, para virem a ser qualquer coisa de muito mais alto. Mas a regra geral permanece intacta.

* A tradição e as estirpes

“Estes três elementos, a hereditariedade de corpo, de alma e o ambiente moral, completados com outros, como a expressão da mentalidade da família no modo de ser cortês, no modo de conversar, de decorar a casa, de cozinhar, de tratar os negócios, no modo até de conceber as relações afetivas, o casamento, o noivado, etc., todo este conjunto constitui a tradição que uma família transmite. E, se estas forças podem ser extraídas, desenvolvidas e firmadas pela família, ela deve produzir esta tradição

“Chamamos estirpe uma família que assim produz uma tradição: um tipo físico muito continuado, um tipo de constituição psíquica e nervosa muito definida, um tipo de virtudes, e as vezes também de defeitos muito definidos, um sistema de vida, um estilo de existência, tudo muito definido. Estirpe é uma família que carreia consigo uma grande densidade de tradição sob todos estes aspectos, e que constitui um todo, homogêneo e igual a si mesmo, através de vários séculos. Os homens passam, a estirpe é sempre a mesma; como um rio, em que a água passa mas que é sempre o mesmo.

“Esta noção de estirpe precisa ser completada. Não há estirpes somente na classe nobre. Mas em todas as classes sociais. Se ela é o produto do desenvolvimento da família, e se esta é chamada pelos desígnios da Providência a desenvolver-se, devemos ter séries e séries de estirpes em todos os graus da hierarquia social. Estirpes de padeiros, de príncipes, de lixeiros, de joalheiros, de cantores.

“É o conjunto destas estirpes que constitui a Nação. E a Nação não apenas no presente, mas a nação como uma continuidade histórica, no passado, no presente e no futuro. O Brasil de outrora porque descende das mesmas e antigas estirpes conservando uma identidade de tradição. Porém, à medida que estas estirpes vão se desbotando e sendo substituídas por novas, sem verdadeira tradição, ele já não é mais o mesmo. Este é um processo muito secular. O Egito de hoje já não é o Egito de outrora. As estirpes não são as mesmas.”

***

Visto o papel da família, das estirpes, da hereditariedade temos três elementos que se contrapõem à essa maquinação universal em favor da Nova Ordem Mundial: um monstro socialista que fará do homem um escravo e da sociedade uma imensa senzala.

Fonte: Série Idade Média

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Nuno Alvares

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