Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
9 min — há 2 anos — Atualizado em: 12/8/2022, 1:36:33 AM
No próximo dia 8 dezembro celebra-se a festividade da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem. Em Sua homenagem, transcrevemos abaixo o extraordinário sermão proferido pelo Padre Thiago Fragoso no dia 8 de dezembro de 2021 — publicado na revista Catolicismo deste mês —, no qual ele discorre sobre o sublime e singular privilégio da Imaculada Mãe de Deus, tornado dogma pelo Bem-aventurado Papa Pio IX em 1854. Dogma promulgado com base nos Evangelhos e coroando tradições muito antigas.
Celebramos neste dia, com grande exultação, o privilégio singularíssimo da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Este dogma da nossa divina Religião está muito bem enraizado no coração do povo fiel porque é indissociavelmente único do mistério da Encarnação do Verbo.
Com efeito, Maria Santíssima foi preservada imune de toda mancha de pecado precisamente para que fosse a Mãe do Salvador. Celebrada no coração do Advento, essa festa apresenta-se como aurora da nossa salvação ao preparar o ventre bendito onde se daria o milagre da Encarnação.
Antevendo a queda dos nossos primeiros pais, o Senhor não abandonou a humanidade prostrada pelo pecado original, mas planejou a sua Redenção na plenitude dos tempos quando o Filho Unigênito deveria nascer de uma mulher (cf. Gl 4,4).
Não convinha, contudo, que essa mulher — essa filha de Adão — que teria o privilégio de gerar o Verbo de Deus feito carne e lhe dar natureza humana, fosse tocada pela mancha do pecado original, porque, segundo a sentença do livro de Jó, jamais poderá o puro vir dum ser impuro (cf. Jó 14,4). Fazendo com que Maria fosse concebida sem pecado, Deus cumpria a promessa de que a Mulher calcaria sob os pés a cabeça soberba da Antiga Serpente (cf. Gn 3,15).
“Et nomem Virginis Maria” (Lc 1,27). Este nome dulcíssimo da Mãe de Deus desperta nas almas fiéis um gozo tal que palavras não podem suficientemente exprimir. O simples ressoar desse nome põe nos lábios do Altíssimo o sorriso de um regozijo que se derrama sobre toda a criação enquanto causa tremores terríveis no Inferno habitado por aquele que, na bendita conceição hoje celebrada, viu-se vencido por uma criatura mortal.
Ao deleite do Céu e da Terra corresponde o pavor das hostes infernais. O inimigo de Deus e de todo o gênero humano, embora nutra um ódio visceral à Mãe de Deus, deve inclinar diante dela sua fronte e reconhecer sua derrota porque, por singular privilégio de Deus onipotente e em previsão dos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, essa Virgem foi preservada desde o primeiríssimo instante do labéu com o qual Satanás conspurcou a pureza original da humanidade.
Essa inimizade é sinal do constante estado de beligerância no qual se encontram a descendência da Mulher e a da Serpente, isto é, o conflito entre aqueles que, por serem membros da Igreja — Corpo místico de Cristo — tornaram-se filhos da Virgem e os outros que, conculcando as promessas batismais, sacudiram fora o suave jugo do Senhor, tornando-se descendência do Inimigo de Deus.
Ora, vê-se aqui a inimizade entre a Santa Igreja, assembleia dos fiéis redimidos e o mundo do terror, da ganância e de toda sorte de vícios ao qual cabe perfeitamente a denominação do Reino de Satanás.
Nestes últimos tempos temos assistido o desencadear de uma brutal e escancarada perseguição movida pelo mundo contra a Igreja de Deus e nisso está um sinal claríssimo dessa inimizade anunciada pelo Altíssimo no Éden.
De modo cada vez mais evidente, o mundo procura atacar a descendência da Mulher de todos os modos; busca com todas as armas aniquilar a Santa Igreja, da qual a Santíssima Virgem é Mãe, como atestam as Sagradas Escrituras (cf. Jo 19,27). O mundo odeia a Igreja porque ela o acusa; rejeita-a como o fogo rejeita a presença da água porque esta ameaça sua existência.
Com grande dor, vemos multiplicarem-se mundo afora as ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. As blasfêmias e desonras contra Maria que eram gestadas em corações ímpios e depravados e não ousavam transpor o limite do foro íntimo são agora propaladas com grande velocidade pelos meios de comunicação.
Não há mais vergonha em ofender a Virgem Santíssima precisamente porque não há mais no coração dos homens aquele senso sobrenatural da Fé Católica que constituía uma barreira à imoralidade que vemos em todos os ambientes.
Os mais sórdidos e abomináveis pecados contra a santidade, a pureza, a honra e a dignidade da Mãe de Deus, são perpetrados diariamente; por vezes, sob o olhar silencioso e, por isso, conivente das autoridades religiosas. A Mãe de Deus é substituída por divindades pagãs entronizadas solenemente em ambientes religiosos.
Sua Imagem sagrada é manipulada e deturpada de modo sujo e despudorado. Propagam-se insultos à sua pessoa e mentiras relacionadas aos dogmas que a ela dizem respeito. Peças teatrais, programas de televisão, matérias de um jornalismo barato e obras de “arte” blasfemas contribuem para arrefecer no coração dos homens o respeito e o amor devidos à Virgem Imaculada.
Será que o Pai Eterno tão justo nos Seus juízos permitirá por muito tempo essas ofensas execráveis contra a obra prima de Suas mãos? Será que um Filho extremoso como Nosso Senhor, um Filho que nutre o amor mais perfeito que um filho pode nutrir pela própria mãe permitirá que fique impune essa obra diabólica contra Sua Mãe Imaculada?
Será que o Espírito Paráclito, que nos guia à Verdade completa (cf. Jo 16,3) deixará ser ofendida a honra da Sua esposa puríssima?
Os acontecimentos lamentáveis dos últimos anos — inclusive a crise de fé que se abateu sobre a Igreja — são anúncio do triunfo do Imaculado Coração de Maria, conforme Ela profetizou aos pastorinhos de Fátima na aparição de 13 de julho de 1917.
No I Domingo do Advento ouvimos as palavras do Senhor: “Haverá sinais no sol, na lua, nas estrelas, e na Terra consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto, na expectativa do que virá sobre todo o mundo, porque as virtudes dos Céus se abalarão” (Lc 21, 15-26).
Ao comentar essa passagem do Evangelho, Santo Agostinho de Hipona dá-nos uma importante chave interpretativa. O Doutor da Graça afirma que, ao falar dos sinais do sol, na luz e nas estrelas, Nosso Senhor refere-se à Igreja de quem se diz “formosa como a lua, brilhante como o sol”.
Deixará de brilhar a Igreja pela força tremenda da perseguição da qual será vítima. Muitos autores sagrados são enfáticos ao afirmar uma perseguição inaudita à Igreja de Cristo. Em determinado momento da História, o mal parecerá ter triunfado finalmente sobre a Esposa do Senhor. Satanás espalhará seus erros pelo mundo e quando uma maléfica tranquilidade reinar é então que o Senhor se levantará para julgar o mundo.
A solenidade do dia 8 de dezembro tem muito a nos dizer nesse contexto difícil que a Igreja atravessa. Com efeito, a festa de hoje celebra o triunfo obtido por Cristo sobre o Antigo Inimigo com a concepção de Sua Mãe Santíssima. Ao ser concebida sem pecado original no seio outrora estéril de Sant´Ana, a Virgem esmaga a cabeça da Serpente.
Concebendo o Verbo de Deus e engendrando Sua Humanidade no seu seio virginal, a Rainha do mundo imporá novo e duro golpe ao Diabo ao se tornar Mãe de Deus segundo a carne, sendo ela uma criatura feita do mesmo barro que ele havia corrompido no Paraíso.
É-nos absolutamente impossível descrever a grandeza dessa filha de Sião. Ainda que nosso corpo fosse todo feito de línguas, elas ainda seriam insuficientes para cantar os louvores desta Senhora gloriosa.
“De Maria nunquam satis” dizia o grande São Bernardo, e hoje, celebrando com devoção a festa da sua Imaculada Conceição, devemos afirmar com o “Doctor Millifluus” que toda palavra humana está aquém da digna exaltação da Rainha do Céu e da Terra que o Senhor quis elevar acima de todos os Anjos e Santos.
Contudo, nosso espírito de filial devoção nos impele a louvá-la na insuficiência da nossa capacidade porque à astúcia diabólica da Serpente conforme contida no livro do Gênesis, o Senhor contrapõe a singeleza e humildade da Virgem de Nazaré.
Ao pai da mentira, Deus contrapõe a Virgem que viveu na verdade; à fealdade de Satanás, a beleza impoluta de Maria; ao diabólico “non serviam”, o “fiat” seguro daquela Donzela, poço inesgotável de virtudes.
O que Eva nos infligiu pela desobediência, Maria cancelou pela obediência; se Eva nos fechou o Céu, Maria nô-lo franqueou dizendo seu “sim” ao plano divino. Aprouve a Deus que a concepção imaculada de Maria fosse o primeiro antídoto contra o veneno do Diabo.
É esse “sim” generoso que o orbe católico celebra neste dia de intensa alegria quando recordamos o aniversário da definição dogmática desse privilégio mariano. 167 anos nos separam da manhã radiosa de 8 de dezembro de 1854 quando o Papa Pio IX, de imortal memória, declarou e definiu como sendo verdade de fé “a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original” (Bula Ineffabilis Deus).
Desde aquele dia, o mundo cristão se encheu de ainda maior gozo ao confessar que sua Senhora e Mãe, conforme ensina o dogma católico, foi isenta da nódoa do pecado original. Toda a humanidade exulta com a Virgem que, juntamente com seu Divino Filho, constitui uma exceção à regra universal.
Na Conceição Imaculada da Virgem, o Filho já triunfa antecipadamente e, por conseguinte, essa Conceição Puríssima é já penhor da incorruptibilidade dos filhos de Deus que renascidos pelo Batismo, tornar-se-ão membros do Corpo Místico de Cristo.
Celebrando com vivos transportes de júbilo o triunfo de Cristo na Imaculada Conceição de Sua Mãe, supliquemos ao Senhor que nos faça semelhantes a ela. Peçamos-Lhe que nos torne dóceis a moções do Seus Espírito de modo que O possamos acolher com os mesmos sentimentos com os quais a Virgem O recebeu no dia feliz da Anunciação.
Peçamos também a Maria Santíssima, poderosa inimiga do Demônio e vencedora das heresias, que faça da Santa Igreja uma fortaleza inexpugnável que o adversário da nossa Fé jamais possa conquistar.
Peçamos à terna Mãe de Deus que, com suas preces poderosas, esmague com o calcanhar de neve as várias e funestíssimas ideologias que, como cabeças incontáveis de uma hidra, lançam seus venenos sobre o mundo e sobre a Igreja de Deus para enredar os cristãos incautos arrastando-os para o charco de lama no qual o próprio Lúcifer se encontra mergulhado.
Que Ela, com a eficácia de sua intercessão, soerga-nos do pó no qual nossos pecados nos lançaram e, purificando nossas mentes e nossos sentidos, nos torne dignos do Céu porque nós cremos: “Ipsa conteret”… (Gn 3,15). Amém.
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*http://www.cmmc.com.br/noticias/exibe_noticia.php?codi_go=414
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