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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Tratado Marial de São Luís: confiança total em Nossa Senhora (VIII)


Prosseguimos a publicação de comentários ao Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora feito pelo Prof. Plinio para um auditório de jovens marianos em meados do século XX.

A doutrina marial de São Luís Grignion tem alcançado grande irradiação no Brasil nesses últimos anos. Deo gratias!

A exemplo do Menino Jesus tenhamos uma confiança total Maria

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São João Batista, protótipo do devoto de Nossa Senhora – São Luís Grignion lembra-nos ainda outra importante passagem do Evangelho: Nossa Senhora praticando seu primeiro milagre da graça em São João Batista. É algo, para nós, de muita significação. Conta o Evangelho que, dirigindo Nossa Senhora a palavra a Santa Isabel, São João Batista estremeceu de gozo em seu ventre, a tal ponto que ela o disse a Nossa Senhora. Como homem predestinado que era, o Precursor estremeceu de gozo ao ouvir a voz da Santíssima Virgem. 

Se considerarmos quem foi São João Batista, e quais os traços característicos de sua alma, compreenderemos o efeito que a voz de Nossa Senhora operou nele. Grande asceta, ele foi por excelência o homem da pureza, dando-nos a idéia de possuir – o que é uma graça de Nossa Senhora – um domínio extremo sobre si mesmo. Em segundo lugar, São João Batista é o homem que leva o desassombro e o espírito de combatividade ao último ponto, também por graça de Nossa Senhora. Por fim, São João Batista é o mártir que se deixa decapitar, para manter-se fiel à sua pregação – ainda uma graça de Nossa Senhora. 

São João Batista é, portanto, o protótipo do devoto de Nossa Senhora, com todas as suas características. Quando rezamos a São João Batista, não lhe devemos pedir graças vagas, mas pedir que também nós possamos, quando ouvirmos Nossa Senhora nos falar pela voz da graça, “estremecer” e imitar as virtudes que ele praticou

De outro lado, quando rezamos pela conversão de alguém, nada melhor podemos fazer do que pedir a Nossa Senhora que fale a esta pessoa palavras riquíssimas em graças, analogamente ao que fez com São João Batista. Devemos nos lembrar de que a conversão ou o afervoramento de alguém não é o produto exclusivo de raciocínios que lhe possamos apresentar. Dizer, por exemplo, que “dei um argumento poderoso e converti tal pessoa” é uma basófia. “Dei um argumento poderoso e Deus o fecundou com Sua graça, de tal maneira que a pessoa se converteu” – isto, sim, se pode dizer. A conversão é produto da graça de Deus. Nosso argumento nada mais é que mero veículo ou ocasião da graça, e é de fato a graça que opera. Assim sendo, devemos pedir que em nossa voz jamais entrem acentos humanos, mas que seja apenas a voz de Nossa Senhora, a voz da graça de Deus. As palavras de Nossa Senhora formando um justo, fazendo-o estremecer no ventre materno, devem ser um incentivo para confiarmos n’Ela para o êxito de nosso apostolado. 

As bodas de Caná – Como o primeiro milagre sobre a natureza, conseguido por Nossa Senhora nas bodas de Caná, já tem sido muito tratado, não é necessário nos determos nele. Há contudo um aspecto que convém ressaltar. 

O Evangelho recomenda que o verdadeiro fiel tenha uma Fé que transporte montanhas. É desta Fé que Nossa Senhora nos dá aí exemplo. Colocada num momento em que Nosso Senhor deveria fazer um milagre, não tem dúvida quanto a Seu poder nem quanto ao fato de que Ele atenderá à sua oração. Ela se limita simplesmente a dizer àqueles servidores: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo., II, 5). Ele ordena, ato contínuo, e o milagre se opera. Nossa Senhora nos dá, pois, exemplo dessa Fé que transporta montanhas, a Fé através da qual se operam as verdadeiras maravilhas. 

Por que vemos hoje tão poucos milagres? Na Idade Média, por exemplo, quantas manifestações do sobrenatural! Hoje, quão poucas são as que podemos contemplar! Por que razão havia antigamente quem enfrentasse potentados, filósofos e reis ímpios, dirigindo-lhes a palavra e operando suas conversões? São hoje – dir-se-ia – coisas impossíveis. Víamos também pugilos de católicos, de cruzados, que entravam em batalha contra milhares de inimigos da Igreja e destroçavam a todos, porque lhes aparecia Nossa Senhora e lhes dava a vitória. Ou aparecia Nosso Senhor e dispersava os adversários.

Por que estas coisas quase não mais acontecem? É porque não se imita a Nossa Senhora, modelo da fé que transporta montanhas. O homem não tem a convicção absoluta de que, de fato, Deus está presente e vai ajudá-lo. Não tem a convicção de que, se pedir, Deus o atenderá efetivamente. Deus é para ele quase um ente de razão, perdido num céu muito alto, não tendo com ele nenhum contacto, não intervindo, quase não se interessando por ele. As verdades da Fé a respeito da Providência Divina, da Sua intervenção na vida quotidiana e na vida da Igreja, são verdades que se admitem, sim, mas não com espírito de Fé bastante para se ter, face às dificuldades, a certeza de que Deus intervirá no momento preciso. 

Dessas virtudes de Nossa Senhora, o que mais devemos guardar é que, se ao longo de nossa vida de apostolado nos encontrarmos em situações de apuro tal que se faça necessário um milagre de primeira grandeza, devemos esperar esse milagre; devemos nele confiar, como Ela confiou diante do apuro daqueles esposos, que a água seria transformada em vinho. É desta ordem a confiança que devemos ter em Nossa Senhora. 

A confiança total em Nossa Senhora – Insisto neste ponto por causa de uma nota característica de nossa atuação: é a desproporção flagrante, cruel, entre o que queremos fazer e os meios de que dispomos. Nosso objetivo é, pura e simplesmente, a construção de uma nova civilização católica, mas com tudo quanto isto significa, ou seja, a restauração do reinado de Jesus Cristo no mundo, de acordo com a promessa feita por Nossa Senhora em Fátima

Nossos meios, entretanto, são tão ridiculamente insuficientes, que se não contássemos com o sobrenatural, seria o caso de duvidarmos de nossa sanidade mental. Quando aqui nos reunimos e nos entreolhamos, somos tentados a achar que constituímos um grupo já numeroso, dezoito pessoas já nos parece um grupo numeroso. Por aí podemos avaliar qual a nossa fraqueza, do ponto de vista humano. É como um paralítico que quisesse transportar o Pão de Açúcar com o polegar, e que um dia exclamasse: “Hoje consegui mexer-me na cama! Portanto estou a caminho de levantar-me, e quando me levantar estarei a caminho de transportar o Pão de Açúcar”. A desproporção de forças é verdadeiramente chocante. 

Por isso há momentos em que vem o desânimo. Há momentos em que tudo parece remoto, e há sobretudo ocasiões em que, após pressentirmos que muitas coisas boas estão por acontecer, ficamos afinal decepcionados, como se tivéssemos uma série de bilhetes de loteria em branco na mão. É como numa viagem de automóvel: ao lado de momentos agradáveis, de conversa animada, há outros em que a estrada parece sem fim, e temos a impressão de estarmos andando há vários dias, de ainda faltar outro tanto, e de que a viagem deverá prolongar-se indefinidamente. 

A vida de apostolado é assim. Há momentos em que se está animado. Mas outros há em que tudo parece ir mal, lento e emperrado, e não conseguimos remover os obstáculos. Pois bem, esta é a fase áurea. Se o Cardeal Mindszenty pudesse viver uma vida de apostolado como a que descrevi, ele presumivelmente a acharia uma maravilha. 

Passando-se anos e anos nesta vida de trabalhos, tem-se às vezes a impressão de que se andou muito; outras vezes, de que nada se andou, ou até de que se andou para trás, o que é mais aflitivo. Nestas ocasiões difíceis, e sobretudo nas de apuro e dificuldades, em que nada parece ir adiante, devemos nos lembrar de que Nossa Senhora conseguiu de Deus o milagre de transformar a água em vinho. Quem sabe todos esses nossos esforços irão, de repente, produzir um resultado inesperado, devido às orações de Maria Santíssima? 

Às vezes os fatos mais imprevisíveis são os que produzem resultados de apostolado. Do que depende ele, então? De se ter perseverança, rezar e fazer tudo em espírito de oração até o fim, até a última possibilidade, certos de que o que tentamos fazer quando tudo parecia perdido, é o que dará o resultado excepcional, acima mesmo do esperado. 

Um ato de apostolado que repercute depois de dezenove séculos – Convém lembrar a recente descoberta de um arquivo dos essênios (grupo judaico que viveu no século imediatamente anterior ao início da era cristã), feita numa caverna nas proximidades do Mar Morto. Segundo consta, seus membros seriam muito amigos de Nosso Senhor, de coração reto, e viviam em luta contra os fariseus de Jerusalém. Ao que parece, devem ter passado por alguma tremenda provação, ao fim da qual a única coisa que puderam fazer foi tomar todos os seus documentos, colocá-los em vasos de barro, fechá-los cuidadosamente e enterrá-los numa caverna. Depois, desapareceram na História. 

Mais de 1.900 anos se passaram depois deste último ato de apostolado do último essênio: o enterro do arquivo na gruta, onde ninguém mais deveria entrar. Ao cabo desse tempo, contudo, pastores entraram na gruta, encontraram o arquivo e o venderam ao governo americano, que o divulga profusamente. De acordo com notícias de jornais, há nele coisas muito curiosas. Além de trechos de Isaías, que provam ser canônico todo livro que a Igreja considera como tal, porque coincide perfeitamente com os textos encontrados, haveria muito material elucidativo a respeito da Bíblia, material este que estaria auxiliando enormemente a exegese católica. 

Aplicando esse exemplo a nós, podemos considerar que o último essênio que guardou o arquivo era, possivelmente, um homem desanimado. Aquele grupo parecia estar condenado ao desaparecimento, e se ele chegou ao ponto de guardar o arquivo, foi certamente para evitar uma profanação. Esse essênio dificilmente poderia imaginar que seu último ato de apostolado, seu último ato de amor a uma causa que parecia morta, 1.900 anos mais tarde iria dar enorme glória a Deus. 

Em todas as ocasiões, pois, em que tudo parecer perdido, deve-se sempre fazer mais alguma coisa, porque o que se faz com confiança em Nossa Senhora é o que verdadeiramente tem mérito e o que produz resultado.”

***

Por maiores que nos pareçam as dificuldades e provações tenhamos a confiança que São Grignion depositava em Maria. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!, prometeu Ela em Fátima.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_1951_comentariosaotratado02.htm#.Y79YwHbMJjE

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Nuno Alvares

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