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Plinio Corrêa de Oliveira
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A gesta de Plinio Corrêa de Oliveira continua viva


Somos muitas vezes levados a pensar que nossa ação contra-revolucinária ocorre num vácuo: fazemos uma campanha e ninguém parece dar importância. A mídia, notável em noticiar qualquer insignificância, nada diz. E a esquerda, quando não ignora, tenta no máximo passar recibo utilizando a arma do ridículo. E tudo acontece como se nossas ações não tivessem importância nem impacto sobre a opinião pública.

O que aprendemos com Plinio Corrêa de Oliveira, em sua escola de pensamento e ação, é que nesses momentos devemos fazer um ato de fé para nos convencermos de que sim, causamos impacto. Ainda que o mundo não reconheça nossas tomadas de atitude, São Paulo nos ensina a dizer que somos dados em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens, e Deus se regozija conosco.

Embora a contemplação de Deus seja de suma importância, Ele nos pede também que façamos apostolado para que seja feita sua vontade aqui na Terra como no Céu, pois a fé sem as obras seria vã. Nossa missão não se cinge a um ou a um grupo de indivíduos, mas abrange toda a opinião pública. De vez em quando Deus permite que o resultado de nossas obras se descortine diante de nós, o que nos regozija e anima.

Impacto da ação contra-revolucionária

Cientes disso, os agentes da Revolução gnóstica e igualitária fazem um esforço especial para não reconhecer a obra da militia Christi, à qual Plinio Corrêa de Oliveira se consagrou bravamente durante toda a sua longa existência, e na qual, de certa forma, ainda milita por meio de seus discípulos. E os revolucionários continuam orquestrando campanhas de silêncio a respeito dele e de sua obra, pois o reconhecimento da nossa eficácia serviria de alento para o bom combate.

Dr. Plinio conhecia bem a crueldade desta tática e por isso nos exortava a prestar atenção quando os revolucionários reconheciam o impacto de nossas ações, quebrando a mentalidade de que elas não ultrapassavam os limites de uma acanhada saleta. De nossa parte, percebemos que os revolucionários nos observam e nos dão importância, acreditando às vezes mais do que alguns de nós na eficácia de nossa ação.

Aliás, foi este tema o objeto do preito que prestamos a Plinio Corrêa de Oliveira em solene sessão em São Paulo, no último 3 de outubro, por ocasião do 26º aniversário de seu falecimento. Na ocasião, disse que faria uma homenagem um tanto diferente, pois seria com palavras de alguém que se colocava nos antípodas de tudo aquilo que Dr. Plinio defendeu. A homenagem toma forma de uma reportagem sobre um livro recém-publicado, Moral Majorities across the Americas – Brazil, The United States, and the Creation of the Religious Right. (Maiorias morais nas Américas – Brasil, Estados Unidos, e a criação da Direita Religiosa).

Um livro que constata fatos

Não me lembro de ter visto um autor que reconhecesse com tamanha clareza a obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Ademais, um revolucionário confessando o seu reconhecimento de quem foi este apóstolo da Contra-Revolução cuja ação lhe causa temor. Nesse sentido, demonstra maior credibilidade, pois insuspeito. Para mostrar o impacto da ação contra-revolucionária, o autor não faz ato de fé. Apenas constata fatos. Sem dúvida, o livro serve para fortalecer a fé em nossos ideais.

O autor não poderia apresentar credenciais mais revolucionárias. Trata-se de um personagem bem esquerdista, Benjamin Cowan [foto abaixo], professor de história na Universidade da Califórnia, em San Diego. Estudou em Harvard e em outras universidades prestigiosas, especializou-se em estudos de conservadorismo e ideologia de gênero. De fato, ele não poderia ser mais contrário à luta de Plinio Corrêa de Oliveira, o que não o impede de reconhecê-lo em toda a sua estatura.

O aspecto extraordinário do livro é o reconhecimento do papel vital do Brasil no impacto espetacular que a direita religiosa mundial vem obtendo, em cujo cerne estão Dr. Plinio e as Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). Logo na primeira página, Cowan cita o príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança como símbolo de tudo o que é contra-revolucionário no Brasil atual. “A beleza da sociedade”, afirma príncipe“não está na igualdade, mas nas diferenças que devem ser proporcionais, hierárquicas, harmônicas e complementares. Exatamente como numa sinfonia”.

Para o Prof. Cowan, o grande mal de Dom Bertrand reside na sua ideia de desigualdade, e reclama pelo fato dele se opor a atitudes politicamente corretas, como o “casamento” homossexual e o aborto. Cowan demonstra especial agastamento com a afirmação de Dom Bertrand de que no Brasil hodierno “tornou-se atraente ser de direita e conservador”. Tal afirmação parece tê-lo deixado temeroso. Percebendo a força e a atração da direita religiosa hoje, ele se pergunta como chegamos até este ponto.

Popularidade dos ideais conservadores

Segundo Cowan, é preciso responder a esta pergunta, pois a ‘dramática’ situação política atual nada tem a ver com as travessuras de Trump, de Bolsonaro ou de políticas de direita. Tudo isso lhe parece muito superficial, uma vez que o alarmante é a popularidade dos ideais conservadores, representando algo muito profundo, que a maioria dos estudiosos não se preocupa em estudar. E aponta algumas razões pelas quais a esquerda deve se preocupar. Delas destaco três:

1 — “A construção do conservadorismo cristão transnacional se tornou talvez, política e culturalmente, o fenômeno mais influente de nosso tempo”. Ou seja, a direita religiosa é uma força poderosa que deve ser levada em conta.

2 — O que era considerado reacionário e fundamentalista há 50 anos agora é moeda corrente. Todos falam de questões religiosas e morais. Ora, isso não era para acontecer. Esses temas deveriam ter sido resolvidos nos anos de 1960.

3 — Os conservadores brasileiros, trabalhando com correligionários no exterior, lançaram as bases para a normalização da agenda religiosa conservadora no cenário internacional.

Benjamin Cowan diz que os brasileiros não foram os únicos a criar o conservadorismo religioso moderno, mas desempenharam papel essencial nessa criação e que isso foi até agora amplamente ignorado pelos acadêmicos. Em outras palavras, ele diz que as circunstâncias deixaram a esquerda em situação difícil. Como chegamos a este ponto? Isso não se deu da noite para o dia, e um dos caminhos para se chegar até onde chegou foi traçado no Brasil por Plinio Corrêa de Oliveira.

Destaco três pontos principais do livro em pauta. Vou deixar o autor dizer aquilo que talvez eu não soubesse ou não pudesse. Vou permitir-lhe contar fatos que eu desconhecia. Deixá-lo-ei tirar conclusões que eu não ousaria. Constatemos aquilo que ele lamenta ter de dizer, ou seja, as vitórias de Plinio Corrêa de Oliveira que não tínhamos imaginado.

Dr. Plinio (junto à porta aberta do automóvel) na Praça de São Pedro, junto com algumas das pessoas que o acompanharam durante o Concílio. 

Ação contra-revolucionária marcante

A primeira delas é o reconhecimento de sua atuação antes e durante o Concílio Vaticano II. Ele reconhece em Plinio Corrêa de Oliveira um homem de grande envergadura intelectual, algo que os revolucionários sempre procuram esconder. Insiste ser preciso ter em mente que essa sua atividade contra-revolucionária começou nos anos de 1930 e, portanto, são “defensores de longa data da direita católica brasileira, cuja substância intelectual moldaram juntos naquela década ao dirigirem o periódico ‘O Legionário’”.

Uma das afirmações do autor é de que Dr. Plinio começou a se opor ao Concílio antes mesmo de este se iniciar, pois, ao prever o que poderia acontecer, tomou medidas necessárias, antecipando o “seu vigoroso e vital ativismo católico arquiconservador no Vaticano II”.

Em seguida, o Prof. Cowan destaca o impacto do livro Reforma Agrária – Questão de Consciência (RAQC), não deixando dúvidas de que esta obra representou grande golpe na Revolução, “um brado de batalha anticomunista por uma renovação do catolicismo e contra a redistribuição de riqueza” (sic). “Tão polêmica cruzada repercutiu no Brasil em meados do século XX”. E prossegue:

[Os autores de RAQC] ganharam as manchetes como representantes do conservadorismo social e político lastreado no tradicionalismo católico, além de influência política no regime militar e entre as forças de segurançaSuas atividades também tiveram grande repercussão internacional; eles ajudaram a moldar e sustentar a reação global católica e cristã contra a modernização e laicização”.

Surgimento da entidade TFP

Enquanto muitos fingem não perceber, Cowan vê na fundação da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) um grande acontecimento na história do Brasil. É interessante notar como o mito da TFP fez nossa ação parecer maior do que realmente era. Onde havia centenas de membros da TFP nas ruas, ele vê milhares, e enquanto outros igualmente fingiam ignorar nossos símbolos, como o estandarte e a capa, ele afirma ser um espetáculo.

Narra o autor que em 1960 o Dr. Plinio fundou a TFP, entidade leiga agrupando lideranças veteranas e milhares de jovens recrutas do sexo masculino, chamados a defender o catolicismo tradicional por meio de protestos, um monaquismo militarista culto e uma pompa espetacular (em trajes medievais), com proselitismo e até mesmo a prática de técnicas de defesa pessoal.

Sobre o Concílio Vaticano II, ele conta sua história com nomes e episódios, fornecendo detalhes sobre os membros da TFP que desempenharam papel importante na reação contra-revolucionária naquela circunstância. Focaliza especialmente o Coetus (escritório que servia de ponto de encontro e assessoria de imprensa para todos os conservadores que se encontravam em Roma na ocasião), assinalando que o seu idealizador foi Dr. Plinio, e membros da TFP a sua espinha dorsal.

Plinio Corrêa de Oliveira lidera um ato em homenagem às vítimas do comunismo, no centro de São Paulo

Ação antes e durante o Concílio Vaticano II

Chama-me a atenção o fato de o Prof. Cowan ter visto com clareza o papel do Coetus, pois não o considerou apenas um escritório para tratar de assuntos litúrgicos ou de problemas católicos específicos, mas uma contra-revolução que abrangia todos os temas principais. O autor descreve:

“Essa plataforma (o Coetus) acabou definindo o arqui conservadorismo católico e, mais amplamente, cristão. Suas principais características incluíam anticomunismo, moralismo estridente e detalhado, antiecumenismo, defesa da hierarquia […] e antissecularização”.

Sobre a atuação de Dom Geraldo de Proença Sigaud no Concílio, o autor registra: “Não podemos resolver os problemas do [Coetus] apenas com assessores italianos.[…] Em primeiro lugar, é uma questão de confiança. Minha equipe [membros da TFP] trabalha comigo há vários anos e fez seu trabalho com grande eficiência e discrição já nas três últimas sessões. É também uma questão de economia, pois as pessoas a que me refiro trabalham por pura dedicação à nossa causa. E isso eu não encontro aqui [em Roma]. E os brasileiros são especialistas, cada qual em uma área diferente do Concílio.[…] Esses operadores de confiança do Brasil têm sido e precisam continuar sendo a espinha dorsal do Coetus”.

O autor afirma que a TFP agia à semelhança da esquerda religiosa. Na verdade, esta última havia organizado uma campanha semelhante, só que de porte muito maior. Se Dr. Plinio não tivesse visto e tomado a providencial iniciativa de organizar o Coetus, simplesmente não teria havido resistência ao Concílio, pois a direita de então parecia dormir.

Com efeito, prossegue o autor“Em outras palavras, os líderes brasileiros no Vaticano II desenvolveram ativamente uma base de neoconservadorismo sustentada em décadas de antimodernismo católico e na própria história recente de direita do Brasil.”

                  O Prof. Cowan conclui assim a parte de seu livro relativa ao Concílio: “Aqui vemos católicos brasileiros, em um cenário mundial, adotando uma primeira versão dessa plataforma — combinando, com uma presunção perfeita, anticomunismo, moralismo, antiecumenismo, hierarquização, animosidade em relação à generosidade liderada pelo Estado; organicismo triunfal em relação aos direitos de primogenitura, propriedade privada e capitalismo; e uma afinidade lamentável pelo sobrenatural em face do secularismo percebido. […]”.

Com efeito, o autor constata que Dr. Plinio viu muito além do Concílio, pois vinha se preparando antes de sua realização e soube unir temas temporais e espirituais, resultando num movimento que englobava todos os aspectos da Revolução. O Prof. Cowan tudo vê e registra, apesar de repudiar. No entanto, ao fazê-lo, nos proporciona uma visão mais completa do pensamento e da obra a que nos consagramos.

Ação depois do Concílio e as coalizões

Em outra seção do livro encontra-se a descrição da ação contra-revolucionária depois do Concílio. Trata-se da enorme expansão das TFPs e de suas ligações com movimentos de direita em todo o orbe. O estudioso põe em destaque suas conexões com a Nova Direita nos EUA, nas pessoas de Paul Weyrich e Morton Blackwell, apresentando a TFP como se encontrando no centro da virada à direita dos anos de 1980. Ao realçar o papel desses americanos, o livro mostra o que eles fizeram para impulsionar o movimento nos EUA.

Começaram por juntar os conservadores do campo moral e político preocupados apenas com governança, finanças e políticas públicas, com conservadores do campo moral e social que exigiam ações focadas no aborto, homossexualidade e questões religiosas. Este foi um marco significativo que mudou os EUA e o mundo.

Outra iniciativa desses dois líderes foi a de estabelecer ligações internacionais entre os conservadores de todo o mundo, algo que nunca existira antes, argumentando que a esquerda sempre se organizou no sistema de coalizões internacionais, e se beneficiava da solidariedade entre os grupos nacionais. Enquanto os esquerdistas partilhavam suas ideias e estratégias, os conservadores de vários países mal se conheciam. Daí a ideia de uma coalizão internacional conservadora, uma rede que funcionaria como uma equipe.

Como resultado desse desejo de conhecer conservadores do exterior, a Nova Direita americana acabou por conhecer a TFP. Eles procuravam contatos conservadores na América Latina e encontraram a TFP. Ora, neste preciso momento, Dr. Plinio queria ter presença mais marcante em Washington, enviando o Dr. Mário Navarro da Costa como seu representante. A essa altura, com surpreendentes detalhes, o Prof. Cowan descreve os contatos da TFP com a Nova Direita americana.

Escreve o autor que “Paul Weyrich passou a estabelecer uma relação amistosa e produtiva com seus colegas brasileiros da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) ou, melhor, com a série transnacional de organizações que a TFP estava se tornando”. Nesse trabalho, ele colaborou estreitamente com a TFP em suas várias versões nacionais e domésticas.

“O Sr. Weyrich era também bom amigo da TFP americana. Desde o início dos anos 80, ele se reunia regularmente com Mario Navarro da Costa, do Bureau da TFP em Washington, com quem fez várias viagens à América Latina e à Europa, visitando e sendo apresentado às suas redes de amigos. Também visitou a TFP brasileira em 1988, tendo se encontrado com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Em agosto de 1988, Weyrich voltou (pelo menos pela quarta vez) ao Brasil, onde se dirigiu a cerca de mil membros da TFP reunidos em São Paulo”.

Há também um relato da visita de Morton Blackwell ao Brasil ‘na esperança’ de adotar as técnicas da TFP brasileira. Particularmente impressionado com os programas de recrutamento e formação da TFP, Blackwell desenvolveu igualmente uma aproximação com Navarro da Costa. É impressionante ver a ação do Dr. Plinio junto a todas essas pessoas. No entanto, impressiona ainda mais a observação de que o fundador da TFP os havia antecedido em muitos anos nessa ação de longo alcance.

A TFP fez a sua própria rede de contatos

Cowan observa também como a TFP reunia temas morais e políticos durante o Concílio, na década de 1960. Ele mostra como Dr. Plinio já tecia a sua própria rede de contatos e organizações no mundo todo. Aliás, na década anterior, Dr. Plinio formou com as pessoas que o rodeavam uma Comissão do Exterior, dedicando-se a estender a mão aos direitistas de todo o mundo.

Assim o autor descreve como “a própria TFP brasileira agiu [..]. para criar uma rede transnacional de neoconservadorismo anticomunista que se sobrepôs e interligou no mesmo trabalho pessoas como Weyrich e Blackwell. Como eu e outros explicamos alhures, a TFP proliferou geograficamente, estabelecendo associações em todo o mundo atlântico. No entanto, talvez ainda o mais notável, a TFP cultivou e manteve relacionamentos com as organizações ‘extremistas’ e da Nova Direita mais ativas das décadas de 1980 e 1990, colocando-se no centro dos esforços para promover tal cooperação”. Observemos que ele afirma estar a TFP no centro dessa rede.

Novamente, ele passa a descrever essas ações com detalhes que surpreendem. Conta como Dr. Plinio enviou seus agentes para plantar sementes da Contra-Revolução em todo o mundo, um dos mais ativos foi o Dr. Mario Navarro da Costa, representante da TFP em Washington. Outros também colaboraram no trabalho de vincular a TFP a conservadores com ideias semelhantes em todo o mundo, mesmo em países distantes como as Filipinas.

A TFP norte-americana há décadas participa da March For Life, em Washington. 

Intercâmbios e viagens

Não sem razão, o autor ficou impressionado também com a atuação de outro brasileiro. Ele escreve: “Por exemplo, Carlos Eduardo Schaffer serviu a TFP no Canadá, Áustria, Alemanha e Lituânia. Nascido em Curitiba em 1942, Schaffer ingressou na TFP em 1961, e passou décadas angariando fundos, visibilidade e presença no capítulo para a organização. A ele a TFP atribui seus ramos canadense e austríaco, que dirigiu nas décadas de 1970 e 1990, respectivamente”.

Sobre a ação de Plinio Corrêa de Oliveira nos EUA, o autor ressalta: “A TFP americana tornou-se um dos ramos mais fortes e expressivos da organização, na verdade sobrevivendo ao grande cisma que abalou a TFP brasileira na década de 1990. Em parte, isso deve ter ocorrido porque personagens importantes do Brasil visitaram e colaboraram com a liderança e as bases da TFP-EUA”.

Relata também que outro membro da TFP brasileira fez no final de 1971 uma viagem por 20 cidades canadenses, dirigindo-se, a cada parada, a uma multidão de 50 a 300 pessoas interessadas, tendo encerrado o seu tour com uma reunião para quase 1.000 pessoas. Ativo nos Estados Unidos, Canadá e Europa nas décadas de 1970 e 1980, o tefepista brasileiro Nelson Ribeiro Fragelli fez palestras em Nova York, Boston, Los Angeles, Miami, Toronto, Berlim, Baden e alhures.

Em 2006, Fragelli tornou-se presidente da associação italiana Luci Sull’Est, e juntamente com Luís Antônio Fragelli e o Príncipe Bertrand, tornou-se presença regular nos eventos da TFP nos EUA. De fato, já em 1974 o engenheiro Luís Antônio Fragelli se trasladou com a família para os EUA, passando a servir a TFP local.

Ele nomeia laços da TFP com a entidade italiana Aliança Católica, com grupos na França e por toda a Europa. Há também outros grupos, mesmo internacionais, como a Liga Mundial Anticomunista, com os quais a TFP manteve contatos. Além de afirmar que a TFP “forneceu guarda-chuva institucional para uma constelação de atores de ‘extrema’ direita que encontraram uma recepção calorosa no Brasil ditatorial e pós-ditatorial”. Assim o professor americano mostra o papel preponderante de Dr. Plinio na formação da direita religiosa em todo o mundo.

 Ideal que atrai. Papel da legenda

Como a TFP conseguiu atrair tanta atenção e tornar-se tão poderosa? Para Benjamin Cowan, foi a importância dada por Plinio Corrêa de Oliveira às questões religiosas e metafísicas. Não basta ter conexões e ligações com grupos conservadores no cenário internacional. É preciso ter a mensagem certa e algo mais profundo do que interesses políticos ou financeiros para atrair as pessoas para uma causa séria. O autor demonstra que a TFP apresenta um ideal que atrai a opinião pública do Brasil, dos EUA e do mundo.

E passa a explicar o segredo da atração exercida pela TFP brasileira a ponto de ajudar a formar uma direita religiosa transnacional. O principal ponto de atração da TFP é o mito, mais especificamente o mito medieval. Ele atribui essa atração à nossa capacidade de combater “a desmitificação, dessacralização ou desmistificação” do mundo moderno e “o desmantelamento de antigas hierarquias”. Percebemos o vazio e “o luto de um mundo sem mistério”. O fundo da crise atual —ensina a TFP — é a “deterioração do mito e da santidade”.

Embora não o diga diretamente, os ideais da TFP estão contidos nas soluções apresentadas pela Igreja e pela Cristandade medieval. O que atrai as pessoas para a TFP são os temas desenvolvidos por Dr. Plinio em reuniões, tendo chegado a afirmar que precisávamos mergulhar no nosso mito para sermos fiéis à nossa vocação. Cowan descreve como a TFP mergulhou em seu próprio mito e chamou assim a atenção do mundo.

O professor americano continua: “Juntos, esses agitadores brasileiros de ‘Nossa Senhora’ (Maria de modo geral, mas especialmente a Virgem de Fátima) buscaram um retorno às tradições míticas dos cavaleiros-errantes marianos, idolatrando noções medievais de combatividade, hombridade, e de uma divindade palpável e maravilhosa. Assim, os ideólogos da TFP, [ao lado de Sigaud e Mayer], procuraram promover uma linha de conservadorismo católico que, concomitantemente, manteria rígidas hierarquias e preservaria o divino mistério e o encanto”. Isso incluiria um senso constante do poder sobrenatural e de sua presença na vida diária.

A Idade Média “perfeita” sintetizou essa ordem ideal ancorada em uma visão de mundo que realçava o espiritual sobre o material. Claro que Cowan vê tais condições como algo negativo. A vida da graça, “o misticismo e o senso comum do divino” são conceitos que não se encaixam em sua mentalidade laica. Assim, ele tende a descartar tudo isso como noções nostálgicas de um passado medieval sacral. No entanto, reconhece que são pontos de atração extremamente poderosos. Mostra que a TFP não apenas mergulhou em seu próprio mito, mas agiu de maneira coerente com ele, colocando o mito em ação.

A TFP enquanto espetáculo

Ele se refere constantemente às campanhas de rua da TFP e às suas características medievais. Vejam, por exemplo, a descrição a seguir: “A TFP fez um espetáculo da pompa medieval, ganhando fama na década de 1960, e posteriormente por meio de extravagantes manifestações de rua, quando seus membros portando capas, túnicas, botas de cano alto e outros elementos de um hábito desenhado por Oliveira para evocar as ordens de cavalaria monásticas e militares da Idade Média”.

Para ele, nada disso é teatro, mas pura realidade.“Quando os tefepistas perambulavam pelas ruas de São Paulo em trajes medievais, eles não o faziam por puro amor às Cruzadas ou à pompa, mas porque o traje, o maintien corporal e os símbolos eram importantes para sua causa”. Era assim que a TFP mergulhava em seu próprio mito e agia em consequência.

Qual a importância desse mito? Encontramos aqui uma das conclusões mais interessantes do livro. O autor explica como esse conservadorismo medieval penetrou nas veias do conservadorismo clássico liberal e econômico e mudou a natureza do debate. Tornou-se um polo em direção ao qual todos os temas conservadores tendem a gravitar, mesmo quando as pessoas discordam sobre outros assuntos. O mito medieval, o desejo de um passado cristão glamourizado, tornou-se a cola que tudo uniu.

Observa o Prof. Benjamin Cowan que entre os elementos dessa base do neoconservadorismo — atuando de certa forma como a cola que une os elementos — estava o fascínio pelo misticismo e por um senso cotidiano do divino, fazendo eco aos anseios saudosos de vários católicos que buscavam um lugar para a sua fé e uma volta às formas culturais e religiosas de nossos ancestrais.

A saudade de um passado mitológico ou glamourizado — seja ele chamado de “religião dos velhos tempos” ou medievalismo — uniu direitistas de confissões e nacionalidades que desmentem as atuais explicações de que a Nova Direita foi gerada nos EUA e amplamente limitada a eventos e agentes locais neste país. Tanto no Brasil como nos EUA, essas saudades reforçaram e até chegaram a transformar as visões dos conservadores sobre seu papel político e social.

Aponta o autor que até mesmo os evangélicos entraram em contradição com suas doutrinas ao abraçarem este poderoso mito de “um moralismo do passado”. Ao mesmo tempo, os conservadores católicos “compartilhavam esse moralismo e o associavam a sonhos de revigorar a cultura e teocracia medievais. […] Assim, os trajes que Plinio Corrêa de Oliveira projetou para a TFP na década de 60 pretendiam evocar simbolicamente o antigo misticismo que outros católicos conservadores também procuraram revigorar no Brasil, mas a TFP atuou igualmente a favor de uma restauração mais direta do mistério e do maravilhoso”.

Dr. Plinio, de joelhos no centro, venera a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em maio de 1973

Fundamental papel dos símbolos

E passa a relatar como a TFP está na vanguarda da disseminação desse mito: “Sem dúvida, porém, o exemplo por excelência do medievalismo como inspiração e expressão repousa na TFP globalmente e em suas encarnações nacionais. No Brasil, a TFP tornou-se famosa por sua pompa de inspiração medieval, com trajes, capas, faixas e desfiles. Na década de 70, a organização chamou a atenção da imprensa por seu recrutamento de jovens que viviam em comum em residências monásticas e, pelo menos ocasionalmente, vestiam trajes medievais”.

O mito medieval foi um componente-chave dessa mudança. O anti-igualitarismo foi um componente paralelo. O autor menciona que o desejo de se conectar com um passado cavalheiresco faz as pessoas tenderem para uma sociedade hierárquica, anti-igualitária. E afirma que, “mais uma vez, a TFP liderou a turma nesta matéria, como ficou claro com o livro [de Dr. Plinio] ‘Nobreza e Elites Tradicionais Análogas’, publicado em inglês, espanhol, português e alemão”.

“Sem dúvida, porém, o exemplo por excelência do medievalismo como inspiração e expressão repousa na TFP globalmente e em suas encarnações nacionais. No Brasil, a TFP tornou-se famosa por sua pompa de inspiração medieval, com trajes, capas, faixas e desfiles”. Prof. Benjamin Cowan

 Brasil e seu vínculo com a cristandade medieval

Outro ponto muito peculiar do livro de Cowan é sua explicação da razão pela qual o Brasil foi o centro desse movimento medievalista, e não os Estados Unidos. A explicação dada é que a maioria dos estudiosos alega que o esforço para “recapturar um passado mítico e pré-moderno” partiu dos conservadores norte-americanos. No entanto, devido à ruptura provocada pelo protestantismo, os EUA deixaram de ter vínculo com o passado medieval.

Assim, o Brasil possuidor desse vínculo, conseguiu transmiti-lo aos Estados Unidos. Em outras palavras, Dr. Plinio teria proporcionado o ponto de contato com a Idade Média que satisfaz os anseios da alma norte-americana pelas coisas medievais, facilitando para os EUA um Retorno à Ordem.

O livro termina com uma advertência para a esquerda, ou seja, que não minimize o poder da direita. E dá a razão: entre os estudiosos da esquerda existe uma tendência a considerar a direita como sendo desorganizada, desarticulada e fraca. Ora, isso não é verdade. O mito dos conservadores é muito forte, e se nós da esquerda o ignorarmos, será por nossa própria conta e risco.

Cuidado com a TFP!

Assim ele faz o seu alerta: “Análises de ativistas conservadores cristãos em contextos internacionais os descrevem como ‘um tanto inexperientes’ em matéria de organização, no que são superados por adversários progressistas, e incapazes de formular estratégias e mensagens eficazes. Isso sem dúvida foi verdade em alguns dos casos examinados por perspicazes estudiosos do conservadorismo, (porém) parece que vale a pena reconsiderar essa noção à luz dos assíduos esforços de indivíduos como Weyrich e Oliveira e organizações como a TFP e o Coetus em promover e compartilhar suas táticas e experiências”.

Para nós, esta advertência é muito consoladora, uma vez que o autor admite que, no caso da TFP, os filhos da luz são mais sagazes do que os filhos das trevas. Dr. Plinio teria conseguido, em pontos cruciais, contrariar a máxima que afirma o contrário. Portanto, ao encerrar esta matéria, estendo um tributo filial à sua sabedoria e fidelidade.

Vimos como nossa ação tem repercussões ainda que não a vejamos, pois o outro lado a vê. Somos parte dessa ação massiva que vive na lenda. Este professor americano relata como nos tornamos conhecidos por nossas campanhas, sem que a mídia nos tenha dado cobertura. E que nossos esforços mudaram a natureza do debate, embora ninguém nos tenha convidado para falar.

Vimos igualmente que o inimigo nos observa e conhece a história da TFP, quiçá melhor do que alguns de nós. Chama a atenção o fato de o autor ter mostrado uma história ilibada. Autores como o Prof. Cowan nada encontraram de ilegal ou imoral em nossa ação, e certamente não foi por falta de vontade.

Se tivesse encontrado algo de errado, ele o teria relatado. Apesar dos pesares, vivemos o nosso mito. Apesar das aparências em contrário, vivemos um imenso mito que está mudando o curso da História aqui e agora. Nós cremos nisso, mas, ó Mãe de Misericórdia, ajudai-nos em nossa incredulidade!

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* Fonte: Revista Catolicismo, Novembro/2021, Nº 851

* John Horvat é vice-presidente da TFP norte-americana, autor do best-seller Return to Order (Retorno à Ordem), no qual mostra como se pode escapar das garras da sociedade baseada apenas no materialismo produtivista e na intemperança frenética, oposta aos altos ideais medievais.

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John Horvat II

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