Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 5 anos — Atualizado em: 4/12/2019, 10:59:44 PM
Tudo parece indicar que a razão principal das aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917, foi proclamar o triunfo do seu Imaculado Coração. Deus, nos seus desígnios, teria permitido que Ela viesse à Terra para anunciar a fundação de uma civilização cuja catolicidade, fervor e beleza será superior à que nasceu na época medieval após a conversão dos povos bárbaros.
Com efeito, uma era toda marial, o Reino de Maria, foi assegurada aos homens pelo próprio Deus, no ato da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, quando afirmou que o demônio teria sua cabeça esmagada pela Santíssima Virgem. O início dessa nova Idade Média da fé foi também profetizado por São Luís Maria Grignion de Montfort no seu célebre Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.
Essa época viria com a conversão da humanidade, operada por Nossa Senhora. Mas para isso é necessário atender devidamente os pedidos feitos por Ela na Cova da Iria, e posteriormente à Irmã Lúcia, no convento das Doroteias em Tuy (Espanha). Quais eram esses pedidos? Que os católicos rezem diariamente o Terço; que mudem de vida e se penitenciem dos seus pecados; e que façam a comunhão reparadora nos primeiros sábados de cinco meses seguidos.
Houve ainda um pedido endereçado ao Papa, para que ele, em união com todos os Bispos do mundo, consagrasse a Rússia (o nome desse país foi mencionado explicitamente) ao Imaculado Coração de Maria. Atendidos esses pedidos, Nossa Senhora prometia não apenas a conversão dos homens, mas também a conversão da Rússia, trazendo-a de volta para o seio da Igreja Católica e destruindo o comunismo que seria ali implantado dentro de alguns meses.
Estes antecedentes lançam luz sobre a santidade de São Francisco de Fátima, cujo centenário da entrada no Céu se comemora no dia 4 de abril deste ano. Já preparado espiritualmente pelo Anjo de Portugal, no ano de 1916, ele preenchia as condições exigidas por Nossa Senhora para vê-La. De fato, no dia 13 de maio de 1917 Ela lhe apareceu pela primeira vez, como à sua irmã Jacinta e também à sua prima Lúcia.
Durante a aparição, depois de Lúcia ouvir Nossa Senhora dizer que vinha do Céu, prosseguiu o seguinte diálogo:
— Eu também vou para o Céu?
— Sim, vais.
— E a Jacinta?
— Também.
— E o Francisco?
— Também, mas tem que rezar muitos terços.
A Irmã Lúcia escreveu que, no final da aparição, Nossa Senhora “abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que um reflexo que delas expedia, e que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente: ‘Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento’”.
Durante essa aparição, Francisco não ouvia o que Nossa Senhora dizia, apenas via. Portanto, só depois ele tomou conhecimento de que Ela o levaria logo para o Céu, “mas teria de rezar muitos terços”. Apesar desse seu “débito” para com a Mãe de Deus, Ela não deixou de envolvê-lo naquela luz sobrenatural com a qual inundou as almas da sua irmã Jacinta e da sua prima Lúcia. O fato é que Francisco disse um SIM tão completo a Nossa Senhora, que a partir daquele momento se produziu nele uma conversão inteira.
Na narração da Irmã Lúcia sobre as aparições, não está claro se o motivo de Francisco não ouvir Nossa Senhora seria alguma mancha na alma, que já o impedira de receber do Anjo de Portugal a Sagrada Comunhão. Ao que tudo indica, seria uma mancha venial, não mortal. Mesmo assim, ele precisaria rezar muitos terços para entrar no Céu, pois a porta do Céu é estreita, como registra o Evangelho.
Francisco aceitou a sua penitência, humilhou-se e cumpriu na perfeição o que Nossa Senhora lhe pedira: rezou muitos e muitos terços. Convém lembrar que, pouco antes de seu falecimento, perguntou a Lúcia se se lembrava de alguma falta que ele tivesse cometido. Ela se lembrou de uma, e lhe contou. Em seguida ele pediu a Lúcia que fizesse a mesma pergunta a Jacinta, que estava doente no quarto ao lado.
Esta avidez em se humilhar, a fim de se purificar, manifesta claro indício de uma alma verdadeiramente santa. Foi com essas excelentes disposições que Francisco expirou numa placidez imensa.
Analisando o olhar de Francisco nesta foto, pode-se constatar um altíssimo grau de discernimento místico de Deus e de outros aspectos da vida. Em outras palavras, Francisco ficou como que modelado segundo o Imaculado Coração de Maria, com a sua mentalidade assumida pela de Nossa Senhora. Pode-se supor que tenha se produzido nele o fenômeno da troca de corações com Ela, como ocorreu entre Santa Gema Galgani e Nosso Senhor. Mas isso não explicaria toda a expressão do olhar de Francisco. Numa das aparições em Fátima, os videntes tiveram uma visão do inferno, portanto viram muitas almas caindo nele. Mas a Irmã Lúcia afirmou depois que ele foi quem menos se impressionou com aquela visão aterradora, que marcou indelevelmente a alma das três crianças.
No olhar de Francisco parece haver um fundo de grande preocupação, embora cheio de confiança. Não teria Nossa Senhora feito Francisco pressentir, ou mesmo antever de alguma forma misteriosa, a tremenda crise por que passaria a Santa Igreja? Talvez seja a atual crise a pior de toda a sua história, e também da civilização cristã. Se a Santíssima Virgem deu luzes neste sentido a Jacinta, por que não as teria dado também a Francisco, embora ele não tenha externado nada a esse respeito? Julgo não ser descabido levantar tal hipótese.
Isso poderia deitar luz sobre o grande empenho de Francisco em consolar Nosso Senhor no sacrário — ou seja, Jesus escondido, como era sua expressão. Era frequente ele se isolar por longos períodos, a fim de consolar Nosso Senhor Jesus Cristo, contrastando com uma imensa gama de católicos que só buscam Deus e Sua Mãe Santíssima para pedir e receber, mas quase nunca para dar e agradecer. Desta forma ele estaria atendendo à queixa que Nosso Senhor fez à Irmã Josefa Menendez, lamentando permanecer horas e horas no sacrário, como um prisioneiro, esperando por alguém que Lhe dê uma esmola de amor.
Não constitui a admirável trajetória de Francisco, desde a conversão à altíssima santidade, uma imagem da transformação que Nossa Senhora operará nas almas dos católicos com o triunfo do seu Imaculado Coração?
Além disso, a santidade atingida por Francisco chancela a veracidade das aparições e da Mensagem de Fátima. Ninguém se torna santo com base numa mentira. Por isso, parece razoável admitir que Francisco seja uma semente do Reino de Maria, como também um intercessor para alcançarmos graças necessárias de fidelidade inteira à Santa Igreja, a Nossa Senhora e a Deus Nosso Senhor neste século de pecados imensos e ininterruptos.
Façamos como Francisco de Fátima. Creiamos firmemente na Mensagem de Nossa Senhora. Atendamos a tudo que Ela pediu. Façamos de sua Mensagem o nosso ideal, e assim seremos transformados em sementes de triunfo do Imaculado Coração de Maria. Há chance maior de realizar um altíssimo ideal que agrade tanto a Deus? Peçamos a São Francisco de Fátima essa graça tão preciosa.
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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 820, Abril/2019.
Marcos Luiz Garcia
47 artigosConheceu o Professor Plinio Corrêa de Oliveira e tornou-se seu discípulo em 1967, com 14 anos, aderindo à TFP. Atualmente continua ininterruptamente sua atuação contra-revolucionária colaborando de forma integral com o IPCO. Especializou-se em coleta de fundos, ações de mailing e contatos com o público. Escreve artigos para a Agencia Boa Imprensa e é autor do livro Fátima a Grande Esperança divulgado no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Peru. Por fim, orienta e coordena campanhas da Associação Devotos de Fátima.
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