Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Tratado Marial de São Luís: Maria é necessária à salvação (XI)


Comentários ao Tratado de São Luís Grignion de Montfort extraídos de conferências do Prof. Plinio para jovens católicos em meados do século XX.

Verdades fundamentais da devoção a Maria ensinadas por São Luís Grignion de Montfort

Necessidade da devoção a Nossa Senhora para a nossa salvação 

Por essas considerações, compreende-se bem como, por disposição da Providência Divina, Nossa Senhora é verdadeiramente necessária para a salvação das almas. A este título, esta necessidade torna a devoção a Ela completamente diferente da devoção aos santos. Não se pode dizer, por exemplo, que a devoção a São Francisco de Sales seja necessária para a salvação de nossa alma. É, por certo, uma devoção muito conveniente, mas isso não quer dizer que não salvará sua alma quem não for seu devoto. 

Com Maria Santíssima, contudo, não é assim. Quem não for Seu devoto não salvará a sua alma. E não a salvará por força do papel de Nossa Senhora na economia da graça e na produção dos filhos de Deus

É importante e necessária uma perfeita compreensão disso, devendo estar de tal maneira sabido e assimilado, que passe a ser um desses conhecimentos comuns, que se manuseiem para a nossa devoção e se utilizem com facilidade para a vida espiritual. 

Recapitulando 

Para maior facilidade de compreensão, e tendo em vista a importância transcendental da matéria, repetiremos essas doutrinas em termos mais simples. 

1 – Pela graça, tornamo-nos membros do Corpo Místico de Cristo – Sem a graça de Deus ninguém pode salvar-se. Portanto, a posse da graça é essencial para a nossa salvação. Essa posse, por outro lado, é o que em teologia se chama o nascimento de Jesus Cristo em nós. Aqueles que têm a graça tornam-se membros do Corpo Místico de Cristo, incorporam-se a Jesus Cristo e, de algum modo, pelo fato de terem a graça, Jesus Cristo nasce neles. Vemos, pois, a conexão que existe entre o fato de tornarmo-nos cristãos, membros do Corpo Místico de Cristo, e a vida da graça. 

2 – Sendo Nossa Senhora Mãe da cabeça do Corpo Místico, que é Cristo, tem que sê-lo também dos seus membros; e por causa das relações especiais que Ela teve com a Santíssima Trindade na Encarnação, sua aplicação e seu símile se dão na geração da vida espiritual em nós – Para uma pessoa tornar-se cristã, membro do Corpo Místico de Cristo, é absolutamente indispensável a participação de Nossa Senhora, por uma necessidade que de si não é absoluta, mas que Deus instituiu. Em termos mais simples: Absolutamente falando, a Providência poderia ter dispensado Maria Santíssima; mas, uma vez que dispôs o contrário, Nossa Senhora tornou-se para nós meio indispensável. Sendo Mãe de Jesus Cristo, Ela o é de todo o Corpo Místico de Cristo, e sem a participação d’Ela não teria sido possível sermos membros desse Corpo Místico. 

3 – Como essa doutrina não é exclusivamente de São Luís Grignion, mas de toda a Igreja, negá-la é pecar contra a Fé – É mister esclarecer que não se pode dizer que essas idéias aqui desenvolvidas sejam “doutrina de São Luís Grignion”. Talvez, já no tempo dele, fossem elas ensinadas por toda a Igreja. Hoje certamente o é. Em conseqüência, toda essa doutrina não poderia ser hoje negada, sem que se caísse em pecado contra a Fé, pois é verdade de Fé. 

Se tudo isso é verdade, tanto mais unidos estaremos a Deus quanto o estivermos em relação a Nossa Senhora. Que aplicações tiramos daí para a nossa vida espiritual? 

Se tudo isto que a Igreja ensina é verdade – já não podemos aqui dizer que é São Luís Grignion apenas quem o ensina – torna-se bem claro que a ação de Deus em nós, em nossa santificação, em nossa própria salvação, tornar-se-á tanto mais garantida quanto mais estivermos unidos a Nossa Senhora. 

Se sabemos que o Padre Eterno quer multiplicar Seus filhos por todos os séculos em Maria Santíssima, é tanto mais certo que seremos filhos d’Ele quanto mais Nossa Senhora estiver dentro de nós. Se é certo que Nosso Senhor Jesus Cristo Se multiplica e quer Se multiplicar nos cristãos, fazendo que eles nasçam em Nossa Senhora como Ele mesmo nasceu, tanto mais teremos certeza de que Cristo Se forma em nós e de que nos santificamos e progredimos na vida espiritual, quanto mais Nossa Senhora estiver presente em nós, pela ação da graça. 

Maria é esposa indissolúvel do Espírito Santo. Vendo Nossa Senhora em uma alma, ou seja, vendo a devoção a Ela, Ele acode imediatamente e nela produz Seus frutos da graça. Portanto, quanto mais intensa for em nós a devoção a Maria Santíssima, tanto mais garantia teremos de que o Espírito Santo virá à nossa alma, e nos ilustrará e fecundará com Sua ação. 

4 – Por isso devemos fazer um exame de consciência, para medir o grau de santificação e união com Deus em que estamos, pelo grau que temos de devoção a Nossa Senhora – Se isto é assim, devemos ter a maior devoção a Nossa Senhora que se possa conceber. E se ela é assim necessária, tanto mais longe estaremos de nos santificar e de nos salvar, quanto mais distantes estivermos desta máxima devoção a Maria. 

Podemos, pois, fazer um exame de consciência e perguntarmo-nos em que grau estamos da devoção a Nossa Senhora. Teremos, por essa forma, um verdadeiro termômetro do grau de santificação e de união com Deus em que nos achamos. Tal é a estreita relação existente entre a devoção a Nossa Senhora, a santificação e a salvação. 

5 – Essa devoção, ainda que não sensível, dará seus frutos – Há, nesta matéria, aspectos belíssimos. Nem todas as almas sentem um atrativo, por assim dizer espontâneo e natural, para a devoção a Nossa Senhora. Uma freira contou-me certa vez que uma protestante convertida ao catolicismo dizia ter uma compreensão completa de todas as razões pelas quais, segundo a doutrina católica, uma alma deve ter devoção a Nossa Senhora. Mas essas razões, se bem que a persuadissem, não lhe tocavam a alma. Então, por puro espírito de sujeição para com a Santa Igreja, ela fazia tudo quanto esta lhe indicava para com Nossa Senhora, mas sem que aquelas práticas tivessem maior ressonância em seu interior. Passou mais ou menos dez anos praticando dessa forma um culto a Nossa Senhora que, na aparência, se poderia dizer fabricado, sintético, artificial, intencional. Ao cabo desses dez anos, tornou-se uma das pessoas mais devotas de Nossa Senhora que essa freira conhecera. A graça fecundara aquela admirável docilidade para com a Igreja infalível. A dificuldade que ela sentia, em ter uma devoção sensível para com a Santíssima Virgem, era uma espécie de barreira que Nossa Senhora queria que ela vencesse, a fim de uni-la a Si ainda mais particularmente do que outras almas. 

Não devemos, pois, desanimar quando não notamos em nós uma propensão especial para esta devoção. Desde que tenhamos suficiente espírito de fé para nos submetermos à doutrina católica, e para agirmos como nos indica a Santa Igreja, a devoção a Nossa Senhora, mesmo praticada nessas condições, produzirá em nós todos os seus frutos. E esses frutos serão particularmente ricos se tivermos o propósito firme de desenvolver a devoção à Santíssima Virgem em cada um de nós e em torno de nós, tanto quanto a doutrina católica o permita, e até aos seus mais ousados extremos. Se a expressão não fosse um tanto incorreta, ousaríamos dizer: até aos seus últimos paroxismos. Eis um programa completo de vida espiritual.”

Aplicações para o apostolado veremos no próximo Post

Detalhes do artigo

Autor

Nuno Alvares

Nuno Alvares

401 artigos

Categorias

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados