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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

A nova onda conservadora — suas origens


Um fenômeno alvissareiro vem se verificando ultimamente no Brasil. Não só no Brasil, é claro, mas marcadamente nestas terras que Cabral descobriu e Anchieta evangelizou.

Até algum tempo atrás, toda iniciativa político-social-religiosa era propugnada pelas esquerdas. As manifestações de rua, por exemplo, visavam pressionar por metas contrárias à civilização cristã: ataques à família e a favor de todas as formas de aborto e de eutanásia; medidas favoráveis à estatização de mais ou menos tudo; contra os proprietários; contra a classe média e as classes abastadas; contra o capitalismo; difusão de propaganda da agenda homossexual; defesa de direitos humanos entendidos de forma distorcida; campanha contra as chamadas discriminações, sempre vistas unilateralmente; derrame abundante de lágrimas pela situação carcerária dos sentenciados e críticas ácidas à polícia; e assim por diante.

No campo religioso, a infiltração de ideias e práticas comuno-socialistas era levada a cabo sem encontrar oposição de vulto: pontificavam os Helderes Câmara, os sacerdotes da linha do Pe. Comblin, e outros do mesmo naipe. Depois do Concílio Vaticano II, os adeptos dessa corrente ruidosa consideraram terem chegado ao estágio da confirmação de suas teses, já libertos, por fim, da doutrina tradicional da Igreja e autorizados, ainda que de modo tácito, a avançar sem rédeas nem obstáculos pelos tortuosos caminhos do modernismo, do progressismo, do socialismo e da imoralidade sem freios.

De tempos para cá, porém, ocorreu uma guinada, as coisas mudaram, e não pouco. O terreno conquistado pela corrente esquerdista – de cunho laico e socialista no plano temporal, e progressista no terreno espiritual – permanece com ela, continuando a ocupar na sociedade e na Igreja uma extensão formidável; mas essa corrente perdeu seu dinamismo, tornando-se, ao menos em grande parte, estéril. Progride ainda, mas apenas pela força da inércia, pelo impulso anteriormente adquirido, ou então mediante a imposição brutal de autoridades que atropelam a realidade e as situações concretas.

*   *   *

De outro lado, irrompeu como uma flor que desabrocha no meio do pântano, como um orvalho que desce do céu, uma tendência conservadora atuante, combativa, que busca desprender-se da sociedade laica e imoral como a borboleta se desprende da larva imunda e voa para a luz e para os céus com suas belas e coloridas asas. Exemplo disso são as imensas manifestações que tomaram as ruas de cidades brasileiras em março e abril deste ano, já analisadas na revista Catolicismo.(1)

Essa nova tendência tende a se cristalizar, aqui e ali, num grande número de movimentos e associações, mas não constitui privilégio ou exclusividade de nenhum deles. É algo bem mais amplo.

No campo religioso, aparecem jovens sacerdotes ou seminaristas ansiosos por celebrar a Missa tradicional e adotar os abençoados ritos antigos da Igreja, dispostos até a sofrer por isso incompreensões e perseguições. É tão surpreendente esse movimento a favor da tradição, que ele deixou perplexo o Papa Francisco. De fato, o Arcebispo Jan Graubner, de Olomouc (República Checa), relatou o seguinte diálogo que manteve com o Pontífice, quando de sua visita ad limina: “Quando estávamos discutindo sobre aqueles que apreciam a antiga liturgia e desejam retornar para ela, […], ele [Francisco] se pronunciou de forma muito forte ao dizer que ele compreendia quando a geração mais antiga retornava ao que havia experimentado, mas que não podia compreender a geração mais nova desejando retornar a isto”.(2)

Para além do âmbito especificamente eclesiástico, proliferam os movimentos contrários ao aborto e em defesa da vida; em favor da família tradicional e do regime de propriedade privada; inconformes com as liberdades de que gozam os delinquentes; favoráveis à privatização; simpáticos ao papel da mulher no lar; advogando armas de defesa para os cidadãos honestos; e muito mais.

Para não alongar essas considerações, cito apenas um depoimento de pessoa totalmente insuspeita, que se declara até simpática ao feminismo. Trata-se da atriz Marieta Severo. Longe por algum tempo dos palcos e estúdios, ela retornou há pouco às novelas televisivas e ao cinema, dizendo-se chocada, pois “temos um conservadorismo no ar”. Perguntada pelo repórter se se tratava de um conservadorismo político, de costumes, respondeu:

“Acho que mistura tudo, e isso é o pior. Quando você tem um Congresso votando uma lei de maioridade penal, é o quê? É um conservadorismo político apoiando um conservadorismo social, de ideias, de princípios, de valores […] Sou contra muita coisa que está em evidência e que, para a minha geração, é chocante. Há um retrocesso que nunca imaginei. Sou da década de 1960, do feminismo, da liberdade sexual, das igualdades todas. Quando você tem essas conquistas, a tendência é achar que elas estão conquistadas dali para a frente. Quando volta esse moralismo, e esse mundo religioso começa a ditar as regras, é muito assustador […] Há espaços da mulher que foram conquistados e são sólidos. Mas há outros em que a gente não consegue ir adiante, como o aborto, que é um direito. E por quê? Por causa desse conservadorismo religioso com representação política”.(3)

*   *   *

Como explicar essa nova tendência conservadora? É claro que não se pode omitir uma ação da graça divina, obtida do Céu por Nossa Senhora. Mas por que meios a graça agiu? Que condutos ela percorreu?

Plinio Corrêa de Oliveira viu e se alegrou com as primeiras manifestações de tal conservadorismo que constatou em seus dias. Não só o constatou, mas ele próprio está na raiz de grande parte dessas manifestações conservadoras que hoje atingem uma intensidade para muitos surpreendente. A luta incessante e acertada desse insigne líder católico contra os males do laicismo e do progressismo vão agora produzindo seus efeitos em larga escala. Corroborando essa afirmação, mais uma vez recorremos a um depoimento de pessoa insuspeita, por suas posições bem diferentes e até contrárias às adotadas por Dr. Plinio.

Plinio Corrêa de Oliveira

Trata-se do Prof. Luís Felipe Loureiro Foresti, Mestre em História Social pela PUC-SP e Pesquisador do Núcleo de Estudo sobre Trabalho, Ideologia e Poder da PUC-SP (NETIPO). Em palestra feita em 30 de abril último no simpósio sobre o pensamento conservador brasileiro no “Centro de Documentação e Memória” da Universidade de São Paulo (UNESP), em sua sede na Praça da Sé (SP), dissertou ele sobre o papel de Plinio Corrêa de Oliveira enquanto fundamento do conservadorismo existente em nossos dias. Extraímos de um vídeo que nos foi gentilmente cedido, alguns trechos de sua elucidativa palestra. Os destaques são nossos.

“Eu vou falar agora do Plinio Corrêa de Oliveira, líder, pensador católico bastante importante no Brasil e não só no Brasil. Ele é um cara que vai ter uma difusão internacional bastante forte, e é o fundador da TFP — Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, mais conhecida como TFP. […]

“Eu defendo que o Plínio tinha uma visão de um mundo, articulada, coerente, defendo porque acho que a realidade me mostra isso. Me permite afirmar isso. Que foi capaz e ainda é capaz de mobilizar, tanto na sua totalidade a ação de certos grupos sociais, quando vetores desse pensamento estão presentes na ação desses conservadorismos contemporâneos. […]

“E nos últimos anos a gente tem visto, uma retomada assustadora desse pensamento dele, inclusive na sua totalidade, em diversos segmentos.  Existe um Instituto chamado Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, que é liderado pelo Adolpho Lindenberg, que é um primo, empreiteiro, um primo do Plinio Corrêa, que busca hoje a difusão desse pensamento.

“Talvez seja hoje o grupo maior que reivindica diretamente a divulgação do pensamento do Plinio. Agora se você pegar por exemplo, grupos religiosos observadores que fazem muito barulho…”

E aqui o Prof. Loureiro Foresti cita nominalmente diversos personagens atuais, eclesiásticos e leigos, de tendência conservadora, e afirma que eles utilizam “uma argumentação tipicamente pliniana”. Mais adiante prossegue:

“Você tem desde um grupo que reivindica, de alguns grupos que reivindicam textualmente todo o pensamento dele [do Prof. Plinio], mas o que mais chama a atenção, são essas reivindicações de segmentos específicos do pensamento dele. […]

“Se eu fosse desdobrar vários outros indicadores plinianos [hoje em dia], a própria interpretação bastante conservadora do catolicismo […] não há uma reivindicação explicita desses referenciais. Mas ele está completamente imbricado. Então é muito assim que eu vejo a permanência, que é mais do que uma permanência. É um elemento constitutivo desse conservadorismo coetâneo”.

*   *   *

Para quem conheceu de perto Plinio Corrêa de Oliveira, não surpreende que seu pensamento e sua ação tenham se estendido tanto, quer geograficamente falando, quer no tempo, através dos anos e das décadas. É próprio dos grandes homens fazer escola, e exercer uma influência que vai muito além do círculo de seus discípulos mais próximos.

Hoje em dia, essa influência é palpável. Como ela se fará no futuro? Qual futuro?

Para além da tristeza e das punições supremamente prováveis, para as quais caminhamos, temos diante de nós os clarões sacrais da aurora do Reino de Maria.(4) Reino de Maria previsto por São Luís Grignion de Montfort em sua admirável obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.

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(1) Edição de abril de 2015.

(2) Blog Rorate Caeli (edição em inglês), 14-2-2014.

(3) O Globo, 19-5-2015, destaque nosso.

(4) Plinio Corrêa de Oliveira, “Fátima, numa visão de conjunto”, in Catolicismo, maio de 1967.

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Autor

Gregorio Vivanco Lopes

Gregorio Vivanco Lopes

173 artigos

Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

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