Portal do IPCO
Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação
Logo do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Instituto

Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Por que a beleza importa?

Por Jurandir Dias

7 minhá 8 anos — Atualizado em: 5/1/2017, 9:25:50 PM


Com o título em epígrafe, a BBC de Londres veiculou um documentário em 28/11/2009, dirigido pelo filósofo inglês, Roger Scruton, no qual demonstrou que a partir do início do século XX a humanidade vem perdendo o senso ético e estético da Beleza e passou a prestar um culto à feiura e a consequência disso é um deserto espiritual. Segundo o professor, “nosso mundo virou as costas para a beleza”, de modo que nos encontramos “rodeados de feiura e demência”.

Scruton inicia o seu documentário com um pequeno histórico e descreve as consequências da decadência da arte em nossos dias:

485px-Marie-Thérèse_d'Autriche
Retrato de Maria Tereza d”Áustria. Rainha da Hungria e da Boêmia (1740-1780). Autor desconhecido.

“Em qualquer época entre 1750 e 1930, se você pedisse às pessoas cultas para descrever o objetivo da poesia, da arte ou da música, elas teriam respondido: a Beleza. E se você perguntasse pela razão disso, você aprenderia que a Beleza é um valor, tão importante quanto a Verdade e o Bem.

“Depois, no século XX, a beleza deixou de ser importante. A arte, cada vez mais, concentrou-se em perturbar e em quebrar tabus morais. Não era a beleza, mas a originalidade, conseguida por qualquer meio e a qualquer custo moral, que ganhava os prêmios. 

“Não apenas a arte fez um culto à feiura; a arquitetura também se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso ambiente físico que se tornou feio. Nossa linguagem, nossa música e nossas maneiras estão cada vez mais rudes, egoístas e ofensivas; como se a beleza e o bom gosto não tivessem nenhum lugar real em nossas vidas.  […] 

portrait-of-marie-therese-1937.jpg!Large
Retrato de Maria Tereza D’Áustria, Picasso . Este “artista” confessa: “Quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Ticiano, Rembrandt e Goya foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público – um charlatão.”

“Eu acho que nós estamos perdendo a beleza e há um risco de que, com isso, nós percamos o sentido da vida.”

A Beleza, segundo Scruton, tem sido o centro de nossa civilização durante mais de dois mil anos. Contudo, especialmente a partir do início do século XX, uma verdadeira revolução vem acontecendo e mudou completamente o sentido da arte.

Se uma obra de arte não é nada mais que uma ideia – observa Scruton -, qualquer um pode ser um artista e qualquer objeto pode ser uma obra de arte. Não há mais necessidade de habilidade, gosto ou criatividade.

Então, a arte de hoje nos mostra o mundo como ele é, o aqui e agora com todas suas imperfeições; mas o resultado realmente é arte? Certamente uma coisa não é uma obra de arte somente porque mostra um pedaço da realidade (a feiura incluída) e se auto intitula de ‘arte’. A arte precisa de criatividade, (…) ela é um chamado para que os outros vejam o mundo como o artista o vê.”

Porque os homens viraram as costas à beleza, vivemos num mundo cercado de feiuras

Scruton enfatiza que a beleza importa, não de uma maneira subjetiva, mas como uma necessidade universal dos seres humanos. Ele observa ainda que se ignorarmos isso, nós nos encontraremos num deserto espiritual.

Às vezes a intenção é chocar e isto é feito como se fosse uma elaborada brincadeira de mau gosto, mas os críticos continuam a encorajar tal “arte”. Ninguém tem coragem de dizer “o rei está nu”.

Numa entrevista à BBC, em 05/06/1966, Marchel Duchamp deixou claro o propósito de destruir a verdadeira Arte:

“BBC – O que vc está tentando fazer é desvalorizar a arte. Se eu digo que isto é uma obra de arte, isto se torna uma “obra de arte”…

Duchamp – Sim, mas a expressão “obra de arte” não é importante para mim. Eu não me importo com a palavra “arte” porque isto se tornou tão desacreditada, digamos.

BBC – Mas vc de fato contribuiu para o seu descrédito intencionalmente.

Duchamp – Sim, foi intencional, como uma forma de me livrar dela, assim como muitas pessoas se livraram da religião.  (destaque nosso)

Michel Craig-Martin, da Universidade de Yale, ao comentar o urinol de Duchamp, numa entrevista concedida a Scruton, declara:  “Essa é parte da função da arte: tornar belo, fazer alguém ver algo como belo, algo que ninguém havia visto como belo até o momento.”

E Scruton retruca, ironicamente: “Bem, como uma ‘lata de fezes’?”

A pergunta o deixa incomodado, e fica sem saber o que responder:

“- Bem, err,  não estou .. err.. se é algo bonito, mas está tomando um exemplo que não está tentando ser belo…”

Em uma sociedade consumista, pensa-se em primeiro lugar na utilidade das coisas, enquanto a beleza é colocada em segundo plano. Para tal sociedade, a arte é inútil, por isso não tem valor.

Sendo a arte inútil, não importa o que vc lê, olha ou ouve. Esta é a razão porque a beleza está desaparecendo do nosso mundo.

Uma gota de vida no meio do deserto

No século XX os arquitetos colocaram de lado a beleza e se preocuparam apenas com a utilidade. Eles não se importavam com o que os edifícios pareciam, mas apenas para o que serviam.

117
Cidade fantasma Sanzhi, Taiwan

 O autor conta que quando era pequeno, demoliram uma rua inteira de seu bairro para construir prédios com arquiteturas modernistas que teriam mais “utilidades”, sem nenhuma preocupação com a beleza. Lá construíram uma estação de ônibus e diversos escritórios. Com o tempo, o local foi totalmente abandonado, permanecendo apenas pombos e paredes pichadas. Mas ele não culpa os pichadores, porque os prédios tinham sido construídos por vândalos. Os pichadores apenas terminaram o trabalho. Por todos os lados que se olhava só se via feiura.

No meio daquele lugar horrível sobrou uma pequena construção com arquitetura antiga onde outrora fora uma forjaria e que tinham feito ali um Café bastante frequentado. Aquilo era como uma gota de vida no meio do deserto. E a vida vinha daquele edifício que tinha ficado com aquela arquitetura antiga.

Qual a utilidade da beleza?

Isto fez Scruton pensar no que diz Oscar Wilde, talvez de uma forma irônica, segundo o qual toda arte é absolutamente inútil: “Priorize a utilidade – observa – e você a perderá; priorize a beleza e o que construir será útil para sempre. Ocorre que nada é mais útil do que o inútil. Vemos isso na arquitetura tradicional, com seus adornos sem nenhuma utilidade prática, seus detalhes decorativos. São ornamentos sem a tirania do útil que satisfazem a nossa necessidade de harmonia. Estas coisas que nos fazem sentir em casa. Afinal, não somos governados apenas por necessidades básicas como comer, beber e dormir. Temos necessidades morais e espirituais.” (destaque nosso)

As obras dos homens completam a obra da Criação

Michelangelo+Buonarroti+-+Pieta+
“Pietá”, Michelângelo

 São Boaventura nos ensina que há uma semelhança entre a criatura e o Criador. É essa semelhança que nos permite elevar-nos até Deus por meio das criaturas, e é nesse grande anseio de elevação que se deve encontrar o lugar da arte.

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreve em seu célebre ensaio, “Revolução e Contra- Revolução”, que “Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores, e certos estados de alma”.(1)

Pio XII ensinou: “O homem e todas as suas ações devem manifestar, em louvor e glória do Criador, a infinita perfeição de Deus, e imitá-la tanto quanto possível. Por isto o homem, destinado por sua natureza a alcançar esse fim supremo, deve, no seu agir, conformar-se ao divino arquétipo, e nesta direção orientar todas as faculdades da alma e do corpo, ordenando-as retamente entre si, e devidamente domando-as para o conseguimento do fim.”(2)

Diz o poeta Dante Alighieri (3) que as obras de arte são netas de Deus, pois o homem é filho de Deus e as obras de arte são filhas dos homens. Há nelas, portanto, vestígios do Criador, que importa discernir.

Referências:

1 – Plinio Corrêa de Oliveira, “Revolução e Contra-Revolução”, cap. 10 – 2.

2 – Encíclica Musicae Sacrae Disciplina, de 25-12-55.

3 – ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Inferno, Canto XI, v.105.

Detalhes do artigo

Autor

Jurandir Dias

Jurandir Dias

130 artigos

(jornalista MTb 81299/SP) colabora voluntariamente com o site do IPCO.

Categorias

Esse artigo não tem categoria

Tags

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Tenha certeza de nunca perder um conteúdo importante!

Artigos relacionados