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19 min — há 6 anos — Atualizado em: 10/9/2018, 9:43:55 PM
O pontificado do Papa Francisco atingiu o importante marco dos cinco anos, tempo suficiente para analistas, historiadores e estudiosos fazerem dele um balanço. Os prismas de análise podem variar muito, mas todos concordam tratar-se de um período carregado de inovações, marcado pelo empenho constante do Pontífice em apresentar a instituição católica bimilenar com uma fisionomia diferente, a ponto de se falar em “uma nova Igreja de Francisco”. O que se pergunta com frequência nos meios católicos, quando se trata do assunto, é para onde caminha a Igreja, e que perspectivas se abrem para ela.
De modo mais definido ou menos, a ideia de “nova Igreja” paira sobre o recente debate em torno de aplicar o conceito de mudança de paradigma à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, debate esse que vem se difundindo ultimamente nos meios católicos. Na linguagem comum, paradigma significa um modelo, padrão, ponto de referência. Mudança de paradigma indicaria uma mudança de modelos, padrões, pontos de referência no pensamento humano, um novo começo. Aplicado à Igreja Católica, mas sem explicitar cabalmente os reais objetivos, essa mudança de paradigma suscita preocupação e perplexidade em inúmeros fiéis.
Sob o pretexto de uma guinada pastoral, os promotores da mudança de paradigma buscam de fato o abraço total e definitivo da Igreja com a “modernidade”, um projeto divulgado desde os tempos de São Pio X, e por ele solenemente condenado. Seus defensores consideram urgente uma transformação radical no modo de a Igreja conceber sua própria estrutura, sua doutrina, sua prática pastoral e seu modo de se relacionar com a sociedade contemporânea.
Tudo isso constitui um desafio para a consciência de inúmeros católicos, que veem na mudança de paradigma uma descontinuidade com o magistério e a disciplina imutáveis, como sempre foram durante séculos. Surgem então algumas questões:
Estaríamos hoje em situação análoga à que moveu o Apóstolo São Paulo a resistir ao primeiro Papa (Gal. 2:11)?
Além de dar uma visão panorâmica dos cinco anos de pontificado do Papa Francisco, José Antonio Ureta — escritor, conferencista e pesquisador da TFP francesa — responde nesta entrevista a questões relacionadas com a mudança de paradigma. Seu estudo sobre o assunto — A mudança de paradigma do Papa Francisco — acaba de ser lançado em Roma, e vem sendo difundido no Brasil pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveiraatravés do link transcrito no final desta entrevista.
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Catolicismo — Na avaliação que fez dos cinco anos de Pontificado do Papa Francisco, o senhor se referiu à “mudança de paradigma” que está sendo promovida na Santa Igreja. Poderia sintetizar para os nossos leitores o conceito de tal mudança?
Ureta — Na sua acepção tradicional, paradigma é um exemplo ou padrão a ser seguido. No campo da filosofia das ciências, a expressão mudança de paradigma — tradução de paradigm shift, empregada pelo físico e filósofo americano Thomas Kuhn em seu ensaio Estrutura das Revoluções Científicas — passou a significar um novo sistema ou modelo conceitual que reorienta totalmente o desenvolvimento posterior das pesquisas. Adotada pela linguagem comum e fora do marco científico, mudança de paradigma indica, segundo o conhecido escritor George Weigel, “uma dramática, repentina e inesperada mudança no pensamento humano; portanto, algo à maneira de um novo começo”.
Catolicismo — Como se pode aplicar essa expressão ao Pontificado do Papa Francisco?
Ureta — Nos limites dentro dos quais a expressão mudança de paradigma pode ser aceita, tem havido e ainda haverá tais mudanças na história das ciências. Mas cogitar num novo modelo conceitual para a Igreja fundada por Jesus Cristo, é uma empresa muito audaciosa, para dizer pouco. A Igreja Católica recebeu em depósito a Revelação divina, cujo conteúdo imutável foi explicitado por um Magistério constante e coerente durante vinte séculos. No entanto, o próprio Papa Francisco usou a expressão, augurando que uma “mudança radical de paradigma” possa inspirar uma “corajosa revolução cultural” na formação acadêmica católica. Isso pode ser visto na recente Constituição dedicada ao ensino universitário católico.
Conceitos como revolução cultural e mudança de paradigma trazem por si mesmos à mente a ideia de ruptura ou de descontinuidade em relação a modelos precedentes. O conceito vem sendo aplicado sobretudo à teologia moral, que inclui a doutrina social da Igreja, abrangendo portanto a maneira de o catolicismo se relacionar com a sociedade contemporânea nos campos mais diversos – das ciências em geral à economia, da política à diplomacia. Segundo a opinião de uma alentada equipe de bispos e de estudiosos não desprovidos de poder, seria necessária uma mudança de paradigma em todas essas esferas.
Catolicismo — No contexto analisado, o senhor julga que os católicos estão percebendo essa “mudança de paradigma”?
Ureta — Inúmeros fiéis vêm fazendo ouvir suas vozes, outros permanecem num silêncio perplexo, todos se perguntando para onde ruma a Igreja, e que perspectivas se abrem ao fim deste quinquênio do atual pontificado. Há uma preocupação difusa de que tal mudança coloque em risco um dos fundamentos da Igreja, isto é, a sua unidade. O debate a respeito da mudança de paradigma é indicativo de uma crescente e profunda divisão nos ambientes católicos.
Catolicismo — O senhor poderia dar exemplos?
Ureta — Entre os numerosos estudos, um caso emblemático envolve duas personalidades eclesiásticas de notável relevo, a propósito do acolhimento sacramental aos divorciados civilmente recasados. O debate eclodiu após uma proposta do cardeal Walter Kasper no consistório de fevereiro de 2014, e continua até hoje.
As duas personalidades são o Cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, em conferência pronunciada em Cambridge, Inglaterra, sob o expressivo título “A Revolução da misericórdia do Papa Francisco: Amoris lætitia como um novo paradigma da catolicidade”. De outro lado o Cardeal Gerhard Müller, Prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, em artigo publicado dez dias mais tarde na revista americana “First Things”, com título não menos significativo: “Desenvolvimento ou corrupção?”. A divergência entre ambos é total.
O Cardeal-arcebispo de Chicago defende a necessidade de uma mudança de paradigma “simplesmente revolucionária” na maneira de considerar a relação entre a doutrina moral e a prática pastoral, a fim de responder positivamente, conforme deseja o Papa Francisco, aos apelos surgidos das “situações” dos homens de hoje. Para o cardeal norte-americano, tal mudança consiste acima de tudo numa inversão dos fatores: a doutrina e a lei devem ser subordinadas à vida tal como ela é vivida pelo homem contemporâneo. A Igreja não ensina, mas aprende da realidade social e a acompanha nas suas diferentes situações, sem a pretensão de querer impor uma “coleção de verdades abstratas e isoladas”. A mudança de paradigma consiste também em compreender que Deus está presente e se revela até mesmo nas situações que a Igreja definiu até aqui como pecaminosas.
À voz do purpurado americano, muito relevante em função do seu cargo, juntam-se as de muitos outros prelados, teólogos e estudiosos de destaque, que antes ou depois dele saudaram e saúdam com entusiasmo a mudança de paradigma como uma autêntica refundação da Igreja, uma reinterpretação profunda da mesma, uma releitura das Escrituras e do Evangelho, uma nova concepção de sua missão de salvação à luz daquilo que Deus estaria revelando aos homens contemporâneos através das atuais condições da sociedade.
Em sentido oposto ao enfoque do Cardeal Blase Cupich, encontramos prelados e teólogos que, mesmo admitindo como legítimo o conceito de mudança de paradigma em campos como a ciência, a política ou a economia, consideram-no inaceitável se aplicado à interpretação da substância dos artigos da fé. Entre esses destaca-se o cardeal Gerhard Müller, até há pouco Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o qual sustenta no seu artigo a “First Things”: “‘Jesus Cristo é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade’ (Hb 13, 8). Esse é o nosso paradigma, que não mudaremos por nenhum outro. Porque, ‘quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto, que é Jesus Cristo’ (1 Cor 3, 11)”.
Catolicismo — Qual é o fundo teológico e psicológico dessas propostas de mudanças radicais na Igreja?
Ureta — Segundo o cardeal Müller, os promotores da mudança de paradigma caem no erro do modernismo, e até mesmo do gnosticismo, pois introduzem “um princípio interpretativo inusitado para dar uma orientação completamente diferente a todo o ensinamento da Igreja”. Acobertam essa operação sob o pretexto de uma reviravolta pastoral, mas na realidade escondem uma capitulação diante da velha tentação de adaptar-se à mentalidade imperante no mundo. Para o teólogo alemão, o autêntico crescimento da compreensão da Revelação de Deus “não se dá em razão de alguma exigência natural, nem com a crença liberal no progresso”. Além disso, lembra que “a autoridade do magistério papal se baseia na continuidade com os ensinamentos dos Papas anteriores”. Se não fosse assim, a autoridade do Papa e do Magistério da Igreja perderiam toda credibilidade. Como garantir que uma mudança de paradigma operada hoje não será amanhã considerada superada e não mais válida? Ele é categórico: “Quem fala de uma virada copernicana na Teologia moral, que transforme uma violação direta dos Mandamentos de Deus numa louvável decisão de consciência, exprime-se evidentemente contra a fé católica”. Se nisso consiste a mudança de paradigma, “opor-se é um dever de consciência” para os fiéis, em conformidade com o ensinamento de São Paulo e com o comentário que fizeram dessa passagem Padres e Doutores da Igreja, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino.
Catolicismo — Certas dioceses vêm admitindo o acesso de divorciados recasados à comunhão, com base na Amoris lætitia. Seria tal admissão uma “mudança de paradigma” condenável?
Ureta — A exortação apostólica Amoris lætitia é o documento-símbolo da mudança de paradigma e da “revolução cultural” em curso. Ela prevê, “caso por caso”, a possibilidade do acesso à comunhão para os divorciados civilmente recasados. Grandes teólogos e pensadores católicos consideram Amoris lætitia a ruptura do dique de toda a teologia moral. A sua aplicação equivaleria à aceitação do relativismo moral, conduzindo à prática de verdadeiros sacrilégios no campo da indissolubilidade do casamento e da aceitação prática de uniões adúlteras, em nome de uma pastoral “encarnada” na vida concreta das pessoas.
Quatro cardeais formularam oficial e respeitosamente ao Papa Franciscocinco dubia (pontos questionáveis) sobre este tema, mas ele jamais respondeu. Dezenas e dezenas de bispos, sacerdotes, religiosos, teólogos e leigos têm tomado posição pública em defesa da doutrina católica tradicional, numa frente de resistência jamais vista nos últimos séculos da história da Igreja.
Catolicismo — O Magistério tradicional da Igreja define que não se pode mudar o que sempre foi ensinado em matéria moral: aborto, eutanásia e homossexualismo, por exemplo. Quais mudanças vêm sendo propostas para a instituição familiar?
Ureta — São notórios em nossos dias o silêncio, a frieza e, por vezes, até mesmo a hostilidade pouco velada em relação à posição que a Igreja sempre adotou sobre esses pontos. Para os católicos, tanto a defesa da vida humana inocente desde a concepção até a morte natural quanto a oposição às uniões civis homossexuais são inegociáveis. Dói dizê-lo, mas muitas vezes o espaço de oposição a essas propostas, que pertence por direito aos filhos da Igreja, é ocupado por não católicos, e até mesmo por pessoas hostis aos seus ensinamentos morais.
Esse processo de mudança de paradigma, puramente teórico na aparência, repercute na vida concreta das paróquias, não apenas entre os militantes pró-vida ou pró-família. Os fiéis comuns da missa de domingo, por exemplo, se sentem como nunca desorientados e tendentes a exprimir o seu crescente desinteresse, até o seu mal-estar, diante de certas situações que até pouco tempo atrás eram impensáveis, mas hoje são correntes na Igreja. Daí resulta a seguinte transformação paradoxal: no passado, apesar da hostilidade dos ateus e mundanos, os templos católicos estavam cheios; hoje, essas mesmas correntes hostis aplaudem as inovações introduzidas pelo Papa Francisco, mas as igrejas se esvaziam.
Dessa maneira, a “revolução pastoral” iniciada no atual pontificado é impugnável não apenas no plano teórico, mas vem se mostrando ruinosa na prática. O misterioso processo de “autodemolição” da Igreja foi apontado há meio século por Paulo VI, e tudo indica que ele está no seu auge (Cf. Alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7/12/1968).
Catolicismo — Em pontificados anteriores ao do Papa Francisco, muito se insistiu para que os católicos defendessem os “valores não negociáveis”. Como está essa defesa no atual pontificado?
Ureta — O Papa Bento XVI insistiu muito em não se transigir em relação aos valores inegociáveis. Por exemplo: “No que se refere à Igreja Católica, o interesse principal das suas intervenções no campo público é a tutela e a promoção da dignidade da pessoa e, por conseguinte, ela chama conscientemente a uma particular atenção aos princípios que não são negociáveis. Entre eles, hoje emergem os seguintes: tutela da vida em todas as suas fases […]; reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimônio […]; tutela do direito de os pais educarem os próprios filhos”.
Infelizmente, a defesa dos “valores não negociáveis” foi explicitamente abandonada pelo Papa Francisco. Numa espécie de manifesto programático de seu pontificado, que foi a entrevista ao Pe. Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica (reproduzida depois por todas as revistas jesuítas do mundo, nos respectivos idiomas), ele declarou o seguinte: “Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas, e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. […] Uma pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente. […] Devemos, pois, encontrar um novo equilíbrio”.
Ele reafirmou essa tese no primeiro aniversário de sua ascensão ao trono pontifício, em entrevista ao diretor do “Corriere della Sera”: “Nunca entendi a expressão ‘valores não negociáveis’”. Ao longo de seu pontificado ele tem feito pronunciamentos ocasionais em defesa do direito à vida, do casamento como união de um homem e uma mulher e dos direitos dos pais; mas tais pronunciamentos são destilados espaçadamente e em pequena dimensão, à maneira de conta-gotas, e além disso são contrariados por iniciativas práticas, que lhes retiram grande parte da sua eficácia pastoral. Para não nos alongarmos muito, cito apenas um exemplo: inúmeras têm sido as demonstrações de vizinhança e simpatia humana, e até de elogios, do Papa Francisco em relação a Marco Pannella e Emma Bonino. Quem são eles? Líderes do Partido Radical e principais promotores na Itália da aprovação legal do divórcio, da contracepção, da fertilização in vitro, do aborto, da eutanásia e das uniões civis homossexuais. No trabalho que publiquei, enumero muitos outros exemplos.
Catolicismo — Muitos católicos manifestam estranheza ante o relacionamento do atual sucessor de São Pedro com os movimentos ditos “sociais”, que agem segundo a doutrina comunista. O que seu estudo diz a respeito?
Ureta — Para a doutrina católica, o comunismo é “intrinsecamente perverso”. O cardeal Joseph Ratzinger, que depois assumiu o trono pontifício como Bento XVI, qualificou-o como “vergonha de nosso tempo”; e no documento “Libertatis Nuntius”, condenou a “Teologia da Libertação”. Porém, os movimentos marxistas e regimes de esquerda do mundo inteiro veem no Papa Francisco um ponto de apoio, pela simpatia que tem demonstrado em relação às reivindicações desses grupos ou governos. Francisco I tem repetido que o comunismo roubou a bandeira do Cristianismo na luta a favor dos pobres, dando com isso a impressão de tratar-se de uma ideia bem-intencionada.
A geopolítica vaticana parece adotar um relacionamento privilegiado com os regimes da Venezuela, de Cuba e da China, que se inspiram no socialismo real. Cito em meu trabalho vários fatos em confirmação disso, e dentre eles menciono aqui apenas um. Em entrevista coletiva concedida logo após visitar o Vaticano, o ditador cubano Raul Castro declarou: “Leio todos os discursos do Papa. Se continuar assim, eu voltarei para a Igreja Católica, mesmo sendo membro do Partido Comunista”. Simples manifestação com objetivo político? Ou será verdade que ele considera as posições do Papa próximas do comunismo?
O Papa Francisco tem-se defendido reiteradamente da acusação de ser comunista, com o argumento de que se limita a proteger os pobres contra as injustiças de que são vítimas. No entanto, em diversas ocasiões, ele tem manifestado amizade a personalidades comunistas, parecendo julgar que o único erro do marxismo consiste em querer transformar a luta dos pobres em ideologia.
Para o atual pontífice, o ideal cristão é o de uma sociedade sem classes sociais, motivo pelo qual “o sistema social e econômico é injusto na sua raiz”, como ele afirma na Evangelii gaudium. “A desigualdade é a raiz dos males sociais”, afirmou em outra ocasião. Ora, esse é o pressuposto das teses comunistas, destoante da doutrina social católica, a qual ensina que a raiz de todos os males (inclusive dos males sociais) é o pecado, e que a igualdade essencial dos homens — todos igualmente filhos de Deus e herdeiros do Céu — não se opõe à desigualdade acidental resultante de seus variados talentos, diligência, educação e condição.
Catolicismo — Temos recebido de nossos leitores, nestes cinco anos do Papa Francisco, muitas expressões de perplexidade com tantas mudanças no ensinamento perene da Igreja. Que conselho o senhor lhes daria, nesta triste situação de crise na Igreja?
Ureta — O que todos precisamos ter é fidelidade e confiança nos ensinamentos perenes da Igreja. Entre a morte e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fé de todos os que O seguiam fraquejou, inclusive a dos apóstolos. Mas houve um coração privilegiado, cuja fé nunca sofreu o menor abalo. Foi aquele o momento em que no Coração sapiencial e imaculado de Maria se recolheu toda a fé da humanidade. Portanto, podemos e devemos confiar sempre em Nossa Senhora. Nós e os nossos leitores devemos pedir a Ela o fortalecimento da confiança, pois a Igreja recebeu de Nosso Senhor a promessa de que as potências do Inferno não prevalecerão. Daí a nossa certeza inabalável de que virá o reerguimento glorioso do Papado e da Igreja.
Desde a juventude nas fileiras do movimento católico, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, inspirador e principal colaborador de Catolicismo, foi um ardoroso paladino da Cátedra de Pedro, o que o levou mais tarde a coordenar o movimento em defesa dos três valores básicos da civilização cristã — Tradição, Família e Propriedade. Já na década de 1970, o Papado sofria o processo que o próprio Papa Paulo VI denominou autodemolição; e desde então essa decadência culposa não fez senão acentuar-se ainda mais. Porém o Prof. Plinio conservou sempre todo o respeito e veneração devidos às autoridades eclesiásticas, mesmo empenhado como estava numa atitude de resistência aos erros infiltrados na Santa Igreja. Sigamos o seu belíssimo exemplo, certos de que após esse tormentoso eclipse o Sol voltará a brilhar com todo o seu esplendor.
Nesta triste situação, não devemos nos limitar à perplexidade seguida de orações fervorosas; também é nosso dever empreender uma lícita e necessária resistência, segundo o exemplo de São Paulo (Gal 2, 11). Não se trata de pôr em discussão a autoridade pontifícia, perante a qual nosso amor e nossa veneração devem estar em constante crescimento. O próprio amor ao Papado nos leva a resistir diante de gestos, declarações e estratégias político-pastorais discordantes do depositum fidei, discordantes da Tradição da Igreja. É verdade que nenhuma heresia pode ser ensinada infalivelmente pelos Papas, mas também é verdade que um Papa pode errar, quando ensina algo sem fazer uso do carisma da infalibilidade, ou ainda quando trata de um assunto não coberto por esse carisma. Nesse caso, por amor à verdade e à Igreja, podemos e devemos resistir. Todos os fiéis podem e devem resistir.
Assim, convido os leitores de Catolicismo a ler e aplicar à atual situação do Papado a Declaração de Resistência à Ostpolitik do Papa Paulo VI, que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira redigiu em abril de 1974: A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas — Para a TFP: omitir-se? ou resistir? [Nota da redação: Esse magistral documento encontra-se disponível neste link:
http://www.pliniocorreadeoliveira.info/MAN%20-%201974-04-08_Resistencia.htm
Catolicismo — De nossa parte, agradecemos os seus esclarecimentos; e também recomendamos a leitura do estudo que o senhor publicou sobre esses cinco anos do atual pontificado*.
Ureta — Agradeço a recomendação, e aproveito para fazer uma ressalva. Não sou um acadêmico, apenas tenho acompanhado com interesse os debates surgidos nas cinco últimas décadas no seio da Igreja Católica, complementando com pesquisas sobre alguns dos temas tratados aqui. Peço, portanto, alguma condescendência com as limitações do meu trabalho.
Notas:
(*) O estudo A “mudança de paradigma” do Papa Francisco: continuidade ou ruptura na missão da Igreja? está sendo difundido pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e pode ser gratuitamente obtido no seguinte link: https://ipco.org.br/a-mudanca-de-paradigma-do-papa-francisco-continuidade-ou-ruptura-na-missao-da-igreja/
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